Monday, December 31, 2007

centenários, centenários




mal acabamos de soprar as velinhas do centésimo aniversário de Oscar Niemeyer e chega a hora de comemorar o c
entésimo aniversário do clube mais amado do mundo, o glorioso Clube Atlético Mineiro, fundado em 25 de março de 1908.

para quem assistiu a São Silvestre hoje e não entendeu nada quando os quenianos Robert Cheruiyot e Alice Timbilili comemoraram com a bandeira do Galo, este blog explica: trata-se da primeira comomoração do centenário e uma alfinetada naquele outro time de BH que mudou de nome tantas vezes e por isso tem metade da idade, metade da tradição e não provoca
nem a metade da paixão.

feliz 2008,
saudações atleticanas

Friday, December 28, 2007

para fechar o ano

como todo mundo está escrevendo meio que fazendo uma retrospectiva de 2007, eu aproveito para contar que ganhei o dia agora a noite com um post de alguem que eu nunca conheci elogiando meu projeto 365 special days.

365 foi uma das grandes alegrias deste ano, começando com 365regulardays que acabou se desdobrando em 365specialdays.

o post ao qual me refiro é este,

pra fechar o ano pra cima.

Wednesday, December 26, 2007

brasília está para o sec. 20 como as pirâmides estão para o sec. -20


Nicolai Ouroussoff fez hoje no NYTimes sua homenagem crítica a nosso arquiteto maior, agora centenário.

eu achei o artigo ótimo e não só pela frase que usei como título deste post,

a crítica aos edifícios recentes me pareceu também bem pertinente, mas Ourossoff não sabe ou não quis escrever sobre o desmonte da equipe de Niemeyer quando do seu auto-exílio nos anos 70 e o fato de que netos e bisnetos são agora os responsáveis pelo desenho (ou falta dele).

vale conferir aqui

Tuesday, December 25, 2007

águas vão rolar



Metropolis Magazine tem todo ano um concurso para jovens designers, o Next Generation Design Competition, com ênfase na relação entre estética e sustentabilidade.
esse ano o tema que muito me gusta é a água.

Studio Toró não vai participar por absoluta falta de tempo, mas vou ficar de olho nos resultados porque promete ter muita coisa boa.

Saturday, December 22, 2007

prefeito furacão



a história se repetindo é sempre interessante, as vezes trágica, as vezes ridícula. Na Coréia do Sul o ex-prefeito de Seoul e ex-executivo da Hyundai, Lee Myung-Bak, foi eleito presidente na semana passada com uma votação expressiva e uma enxurrada de dúvidas sobre seu comportamento ético.

mas o que me chamou a atenção foi seu apelido: bulldozer ou "demolidor". Lee Myung-Bak foi prefeito de Seoul no final dos anos 90 e ficou famoso pelo projeto Cheonggyecheon. Um rio urbano que havia sido canalizado nos anos 70 (tinha inclusive um viaduto tipo minhocão por cima) e foi reaberto, teve suas águas tratadas e agora é um parque linear no meio da frenética Seoul.

eu confesso que adoro a idéia: abrir todos os rios urbanos e transformá-los todos em parques lineares cortando as cidades, com águas limpas. Todos ganham: a população ganha um parque com o barulhinho da água; a natureza ganha um pequeno oásis no meio da cidade para pássaros e insetos; a infiltração de água no solo melhora o micro-clima e evita enchentes nas areas baixas; e o prefeito – bem o prefeito vira presidente da república.

como em todo o mundo, nem tudo são flores: Lee Myung-Bak é acusado de ser próximo demais dos empreiteiros (era CEO da Hyundai Construtora), e a água em Cheonggyecheon é bombeada do rio Han porque tratar o esgoto dos edifícios tornaria o projeto inviável financeiramente.

mas seguindo a estrada aberta por JK nosso prefeito furacão, Lee Myung-Bak se tornou presidente usando como plataforma a fama de construtor (ou demolidor no seu caso), uma receita que continua rendendo frutos e semeando polêmicas: deixe sua marca no espaço. Não fosse a situação crítica da segurança pública na Colômbia e eu apostaria em Enrique Peñalosa como o próximo da fila.

Tuesday, December 18, 2007

sobre a Coréia




um dia pra ir, duas horas pra voltar e quatro dias de trabalhos intensos foi o meu resumo da viagem a Coréia para ser jurado do concurso em Daejeon. Cinco jurados e dois consultores, nós estávamos todos no mesmo andar do mesmo hotel, tomavámos café juntos, íamos juntos para o prédio da Korean Land Corporation, promotora com concurso, almoçávamos juntos, mais trabalho juntos, jantávamos juntos. Um dos membros do juri chamava a nossa rotina de sequestro: day one of the hostage crisis, day two of the hostage crisis.....

mas por isso mesmo resolvi escrever sobre meus colegas de juri nesses 4 intensos dias:
Jaepil Choi foi nosso anfitrião, o organizador do concurso. Unkjoong Kim era o consultor, arquiteto responsável pelo projeto junto a prefeitura da Daejeon, incumbido de continuar o trabalho junto com o vencedor do concurso. Peter Drooge nasceu na Alemanha logo depois da segunda guerra e depois de estudar e dar aulas no MIT, se mudou para a Australia onde vive. Seung H-Sang formou-se na Coréia em 1975 e foi logo trabalhar na embaixada coreana nos EUA, seu primeiro projeto. H-Sang tem um escritório movimentadíssimo e visitamos um de seus prédios recém inaugurado que merece um post em breve.

aqui a coisa começa a ficar interessante. Shiling Zheng nasceu na China em 1942, quando o país ainda estava sob invasão japonesa e o Kuomintang ainda disputava o poder interno com os Comunistas liderados por Mao. Aos 7 anos de idade ele veria Mao Zedong unificar o país (menos Taiwan) sob o regime comunista e o resto quase todo mundo sabe. Quando alguem perguntou como ele havia sido impactado pela revolução cultural, Prof. Zheng disse que na época (final dos anos 50) ele já sabia desenhar e pintar bem então ao invés de ser mandado para a fronteira agrícola foi mandado para a escola de arquitetura onde trabalhava pintando retratos de Mao. Prof. Zheng foi vice-reitor da Universidade de Tongji e é presidente honorário do Instituto de Arquitetura de Shanghai.

e de todos quem mais me impressionou foi Sungjung Chough. Nascido em 1940, também sob ocupação japonesa, numa cidade que hoje fica na Coréia do norte, Chough viu o país ser dividido em 1945 com o final da segunda guerra e a derrota do Japão. Como toda sua família estava no lado sul, sob ocupação norte-americana, a Chough percorreu 80 km em 9 dias, a maior parte do trajeto a pé, para tentar se juntar aos familiares em Seoul. Nos anos 50, conta ele, seu pai várias vezes lamentou a mudança porque os vizinhos do norte pareciam mais ricos e mais satisfeitos e no sul a devastação da guerra da coréia (1950-53) tornava a vida muito difícil. Quando a situação melhorou Chough foi estudar em Berkeley (movimento hoje imitado por milhares de jovens coreanos todos os anos) e ficou pelos EUA por cerca de 15 anos. De volta a Coréia montou um escritório com um amigo dos tempos de faculdade e entre vários projetos fantásticos um se destaca: o estádio de Jeju que ilustra este post, construído para a Copa do Mundo de 2002.

como dá pra perceber eu era o junior desta turma e aprendi muito com eles nesses 4 dias de intensas discussões que nos levaram a um bom e justo resultado, na minha opinião.

e das conversas com Sungjung Chough ficou a saudade do casamento entre futebol e arquitetura que quase consegui fazer quando projetei um centro de treinamento para o Reinaldo de Lima, ele mesmo, o Rei do Mineirão entre 1976 e 1985, infelizmento construído apenas parcialmente.

mas quem sabe a CBF não resolve fazer a coisa certa abre concursos para todos as reformas e os novos estádios. Não custa sonhar e acreditar em dias melhores como ensinariam meus colegas chineses e coreanos.

Saturday, December 15, 2007

niemeyer centenário

este blog homenageia hoje Oscar Niemeyer com um exercício de abstração:

tentem imaginar o Rio de Janeiro sem o sambódromo, Belo Horizonte sem os edifícios da Pampulha, São Paulo sem o Copam ou sem o Ibirapuera,

agora tentem imaginar a idéia mesmo de Brasil sem o prédio do Congresso Nacional.

pois é, a estória de cada um de nós é contaminada pela obra deste pequeno grande homem que hoje comemora seu centésimo aniversário.

Monday, December 10, 2007

lições de capitalismo a la yankees


muito já foi escrito sobre o fato de que a economia norte-americana foi feita de inúmeros calotes e falências, e que o respeito aos contratos só vale quando interessa aos grandes.


pois o modelo econômico de Alan Greenspan (diretor do Fed entre 1987 e 2006, nomeado por Reagan mas mantido por Clinton) e sua ênfase no endividamento fácil que por sinal sustenta o consumo parece ter criado mais um desses momentos com a chamada crise dos financiamentos imobiliários sub-prime.

resumindo a ópera em dois parágrafos temos mais ou menos o seguinte: entre 99 e 2000 quando a bolha dot.com começou a estourar, Greenspan já de olho na eleição de Bush facilitou a injeção de bilhões no mercado imobiliário como forma de evitar uma recessão mais dolorosa. A migração de recursos para a carteira de imóveis provocou um aumento de preços sem precedente. Entre 2000 e 2004 qualquer casinha nos EUA estava valorizando ao ritmo de 10% ao ano no mínimo, em algumas cidades como São Francisco, Chicago, New York e partes da Florida muito mais que isso. Com as casas valorizando nesse ritmo e a oferta de crédito facilitada um número gigantesco de norte-americanos refinanciou seus imóveis, vendendo para os bancos a valorização (equity) de suas casas em troca de cash para continuar consumindo. O aumento de preços (não acompanhado pelo aumento de salários, muito pelo contrário) começou a apertar a classe média que precisava de casa para morar mas não podia pagar meio milhão por um apartamentinho a 50km de distância de Manhattan ou qualquer outra cidade hipervalirizada. É ai que entra o tal subprime. Trata-se de um financiamento de alto risco onde o mutuário pagaria uma taxa baixa nos três primeiros anos (explicitamente chamada de teaser ou isca) e depois teria os juros aumentados acima da flutuação normal da taxa básica para compensar. Em vários ARM (adjustable rate mortgages) o mutuário não paga nada do principal nos primeiros anos, só os juros, como forma de baratear a prestação mensal.

o pesadelo começa quando as casas deixam de se valorizar ou mesmo desvalorizam como vem acontecendo nos últimos 24 meses. O mutuário que não está pagando o principal deve exatamente o mesmo valor que devia 2 anos atrás, sua casa vale menos (queimando a entrada paga ou indo diretamente para o vermelho) e a taxa de juro está programada para subir acima do normal dentro de alguns meses.
o resultado: 18% desses mutuários tipo ARM já atrasou pelo menos uma prestação em 2007. Caso não consigam pagar a casa volta para o banco e vai ao leilão. O fato de algumas casas na vizinhança estarem indo a leilão derruba ainda mais o preço de todas as outras e temos um efeito dominó que, especula-se, pode colocar o mundo numa recessão de 2008.

isso porque o consumo desenfreado norte-americano sustenta a expansão da manufatura chinesa tanto quanto o agro-business brasileiro e o mercado de commodities em geral.

a saída proposta semana passada pelo governo Bush foi uma espécie de acordo de cavalheiros com os bancos de forma a frear o aumento das taxas dos financiamentos ARM e assim dar uma sobrevida ao sistema todo.

eu não tenho nehuma ilusão quanto à famosa mão invisível do mercado e acredito que ela só entra em ação para proteger os interesses dos grandes contra milhões de pequenos. Mas ao mexer nos contratos desta maneira o goveno Bush está recompensando mutuários que compraram casas maiores ou mais caras do que podiam pagar e banqueiros que emprestaram de forma predatória para quem não teria mesmo como pagar. Os milhões de outros que tomaram a decisão certa de comprar o que lhes cabia estão pagando pela imprudência de uns e pela ganância de outros.

continuar insistindo no endividamento como forma de manter a economia girando não me parece tambem nem um pouco sustentável mas vale lembrar que a economia norte-americana foi formada por calotes históricos e quebradeiras homéricas,

as nuvens vão se acumulando no horizonte, resta saber se a tempestade cai aqui ou depois da serra.

Sunday, December 9, 2007

the darjeeling limited




sete anos atrás num dia desses de dezembro eu e Lê aterizávamos em New Delhi para o que seria uma viagem absolutamente inesquecíve

talvez o fato de estar escrevendo de dentro de um avião sobre o mar de okhotsk (confesso que não nunca vi esse nome antes) tenha efeito sobre todas as memórias visuais, olfativas e palatáveis daqueles 40 dias na India que me invadem nesse instante.

mas o fato é que a mesma telinha que me diz que acabamos de deixar para trás o mar de okhotsk e voamos agora entre khabarovks e sapporo (epa, esse nome eu já vi antes, ou melhor, já bebi antes) foi quem me trouxe todas essas lembranças com o filme Darjeeling Limited.

está tudo lá, o fascínio e o estranhamento causado pela India. Logo na primeira cena Bill Murray serpenteia num taxi entre rickshaws e vacas, para depois.... bem, deixa voces verem o filme para saberem o que vem depois.

o fato é que o filme é excelente, Angelica Houston está ótima e os três irmãos interpretados por Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schartzman dão um show enquanto a India vai se descortinando na sua frente e as lembranças de dezembro de 2000 e janeiro de 2001 vão se ativando no meu cérebro: cores, cheiros e gostos.

eu ainda não tive oportunidade de visitar a África mas de todos os outros lugares onde já andei, a India é o único que se compara com o Brasil em termos de intensidade.

pode parecer meio contraditório mas enquanto o avião começa a descer rumo a Seoul na Coréia (onde vou participar do juri de um concurso de arquitetura) tudo que vem na minha mente tem a ver com Varanasi, Udaipur, Kerala, Jaiupur, Agra e Dehli.

o problema é que graças ao filme eu vou sentir a maior falta da comida indiana durante os 4 dias em Seoul. A Coréia é fascinante, estou super feliz de poder voltar a Seoul e poder contribuir para a escolha de um desenho urbano de qualidade para o centro de Daejon

amanhã ou depois escrevo mais sobre a Coréia e sobre a experiência de ser jurado em concurso internacional. Mas que deu saudade da India vendo o Darjeeling Limited, isso deu...

Thursday, December 6, 2007

carta aberta ao sr washington olivetto


prezado sr. Olivetto,

na semana passada uma frase atribuída ao Sr foi veiculada em todos os grandes jornais do Brasil. Nela, o Sr dizia que se o Corinthians caísse, o campeonato brasileiro é que seria rebaixado.

por mais respeito que eu tenha por alguém que já criou tantos slogans e imagens marcantes na publicidade brasileira, desta vez o Sr está redondamente errado e chega a ser enganosa essa propaganda. O campeonato brasileiro de 2008 não vai sentir a falta do Corinthians, como não sentiu a falta do Palmeiras, do Botafogo, do Grêmio e nem do meu Glorioso Atlético Mineiro.

todos sentimos na carne a dor do rebaixamento. Sentimos também um outro medo, muito maior: o medo de nunca mais voltar. Esse medo indizível que só desaparece quando o time está efetivamente classificado para voltar a elite.


na verdade, como uma ducha e água fria reativa a circulação, o rebaixamento pode reativar o Corinthians como reativou o Palmeiras, o Botafogo, o Grêmio e o Galo. Não sou especialista nos três primeiros mas posso dizer com convicção que o rebaixamento reaproximou o Galo de sua fantástica torcida da qual eu tenho orgulho de pertencer. E acho que nunca me senti mais atleticano do que durante a série B de 2006. Nas palavras de um amigo também alvinegro, “se soubéssemos que a série B era tão boa devíamos ter caído muito antes”.

espero sinceramente que o Corinthians aprenda algumas lições na serie B, jogando em Fortaleza, Natal, Maceió, Criciúma, Belém e outros estádios onde a paixão não é menos intensa que no Pacaembu e nem a torcida é menos fiel.

mas é compreensível que na véspera da tragédia o Sr tenha perdido a cabeça e cego de paixão tenha sugerido que o campeonato se rebaixa. Não Sr Olivetto, o Corinthians caiu sozinho, por seus próprios erros, e o campeonato segue sua vida normal. E junto com o Corinthians cai um pouco também o São Paulo e o Palmeiras que vão fazer um jogo a menos fora de casa. Esta pequena vantagem de fazer um jogo a mais perto da sua torcida (SP terá 5 times ano que vem, teria 6 se o Corinthians não tivesse sido rebaixado) é significativa.

aliás, há de se notar que o Corinthians de 1977 e da democracia ha muito tempo deu lugar a um Corinthians de parcerias escusas e títulos muito mal explicados como o brasileiro de 2005. Mas os deuses da bola são implacáveis como um centroavante raivoso e lá estava o Inter no caminho de vocês de novo bem no último de derradeiro jogo de 2007.

por isso tudo Sr Olivetto, o Corinthians se rebaixa sozinho e o campeonato brasileiro permanece, aliás, melhor do que nunca.

Tuesday, December 4, 2007

arte brasileira no MoMA


sexta-feira após as 4 da tarde é gratuita a entrada no MoMA (20.00 por cabeça nos outros dias) então lá fomos nós enfrentar o dia mais cheio do museu, é claro.

enquanto as mulheres da minha vida foram direto ao quarto andar ver seus amados Matisses e Mondriands, e fui ver os desenhos de arquitetura no terceiro andar.

e logo ao lado da galeria de arquitetura e design havia uma exposição: New Perspectives in Latin American Art, 1930–2006: Selections from a Decade of Acquisitions. Fui dar uma olhada despretenciosa e não é que as tais novas aquisições expostas sao 90% brasileiras:

Waltercio Caldas, Vic Muniz, Leonilson, Lygia Pape, Helio Oiticica, Lygia Clark, Rivane Neuchwander, Ana Maria Maiolino e cia....

de encher os olhos,

o livro da criação de Lygia Pape por exemplo (foto) eu nunca tinha visto, e fiquei deslumbrado

dica para aqueles que vem passar o natal ou reveillon em New York, a exposição fica até 25 de fevereiro.

Saturday, December 1, 2007

eles se merecem

preocupante a situação da Venezuela e seus possíveis desdobramentos para a América Latina inteira.

de um lado um coronel eleito por um discurso distributivo de esquerda que a cada dia se mostra mais bufão e mais inclinado a se tornar um ditador no sentido completo do termo (me parece já ser uma ditadura no sentido mais profundo).

de outro lado o ex-comandante do exército, companheiro de Chavez há 35 anos, publica hoje um artigo no New York Times explicando porque discorda do presidente e porque votaria NÃO no plebiscito de amanhã. Em primeiro lugar no texto, antes de qualquer outra razão, Raul Isaias Baduel se apoia nos bispos para dizer que o socialismo é anti-cristão.

assim não dá!!

um estraga todo um projeto de esquerda, distribuição de renda e inclusão social por não conseguir manobrar o sistema democrático; enquanto o outro invoca os bispos para dizer porque é contra a reeleição ilimitada e a excessiva concentração de poderes no executivo.

um azeda os ideais de esquerda de todo um continente,
o outro azeda os ideais democráticos….

pobre América Latina que ainda “precisará de ridículos tiranos” enquanto não abandonar bispos e cavaleiros como peças de um passado que há muito tempo deveria estar limitado ao jogo de xadrez.

Friday, November 30, 2007

benvindos à melhor torcida do mundo




essa vai para todos os meus amigos cruzeirenses que vão ter de torcer para o Glorioso no domingo.

Thursday, November 29, 2007

morte e ressureição de uma jóia



































desde setembro, com a Lê trabalhando para as Nações Unidas num relatório dos Millenium Development Goals, eu tenho aproveitado a desculpa pra passar vários finais de semana em New York.

na maioria das vezes voamos por La Guardia, um aeroporto feio e sem graça mas com mais opções de horários, mas hoje, não sei porque, voamos para JFK. logo na hora do pouso me veio a cabeça o lindo terminal da TWA no JFK, projeto de Eero Saarinen (1962), cujo abandono (desde 2001) me doía todas as vezes que passava por lá.

acho que ainda sob o impacto do Obituário Arquitetônico de Luiz Amorim, fiquei pensando na morte por falência (da empresa TWA) deste que é talvez o mais lindo terminal de aeroporto do mundo, cabeça a cabeça com o Santos Dumond. ok, o expresionismo de Saarinen é mais impactante que a elegância dos irmãos Roberto, mas de qual outro aeroporto se pode sair andando para uma reunião?

e não é que ao sair do avião dei de cara com o edifício de Saarinen sendo renovado. A JetBlue, empresa nova low-cost (pense na Gol), está ampliando suas operações no JFK e comprou o terminal da falida TWA. Dá pra perceber que as mudanças serão muitas, em parte por conta das novas regras de segurança, em parte porque a JetBlue vai operar muito mais vôos que a capacidade de terminal quase cinquentão. Os novos edifícios são enormes e deixam o prédio original meio enterrado que no meio.

mas o fato de que esta pequena jóia vai parar de acumular poeira e goteiras e voltar a assombrar os viajantes com suas curvas já é válido apesar das mudanças. Afinal de contas, no longo prazo, uma arquitetura que não se permite transformação é fadada a entrar na lista de Luiz Amorim.


enquanto esperamos para ver o resultado, celebremos sua ressurreição.

Tuesday, November 27, 2007

momento nata da nata

nunca dei muita bola pra rankings, acho que são todos invariavelmente reducionistas, mas seguindo a dica do Idelber fui dar uma sapeada no ranking do Chronicle of Higher Education e lá estava:

U of Michigan # 1 em Arquitetura e Planejamento Urbano.

no momento em que o meu departamento é alçado à primeira colocação em termos de produtividade dos professores (publicações basicamente) entre os programas de doutorado em arquitetura e urbanismo dos estados unidos, não dá pra não se encher de orgulho e abrir uma cerveja para comemorar o bom resultado de tanto trabalho.

parabéns a nós todos aqui

Monday, November 26, 2007

vasco da gama ao reverso



recebi esse filminho hoje, mostrando uma entrevista de Charles Correa na RTP de Portugal a respeito de um projeto dele, parte do centenário da república portuguesa a ser comemorado em 2010. Vale a pena dar uma olhada.

Charles, como todos sabem, é o mais famoso arquiteto indiano do século 20, uma figura sensacional que tive o prazer de conhecer em janeiro passado e que aos 80 e tantos anos de idade ainda respira arquitetura diariamente. Autor de uma obra absolutamente brilhante, indiana e ao mesmo tempo cosmopolita.

nos últimos anos Charles Correa tem projetado ao redor do mundo (MIT Neuroscience Center, India mission at the UN em NY, Ismaili Center em Toronto) e o fato de um arquiteto nascido em Goa estar projetando um edifício importante para a república portuguesa diz algo significativo a respeito dos processos de influência e contra-influência dos nossos tempos e toda a problemática associada aos movimentos de pessoas e idéias.

como Charles mesmo diz na entrevista, como um Vasco da Gama ao contrário, um arquiteto de Goa projeta em Portugal 500 anos depois.

mas tive dificuldades de lembrar de um edifício importante em Portugal projetado por um arquiteto brasileiro. Niemeyer tem um hotel apenas, na Ilha da Madeira. Alguem sabe de algo da estatura deste prédio de Charles Correa?

Saturday, November 24, 2007

quando eu morrer quero ir de fralda de camisa





saiu hoje em Vitruvius minha resenha do novo livro de Luiz Amorim:

Obituário Arquitetônico – Pernambuco Modernista.

o texto poético de Amorim torna leve e saboroso um tema doloroso, a morte da arquitetura.

não cabe repetir aqui meus elogios ao livro, a resenha , encomendada por causa deste post de agosto passado, está disponível aqui.

Wednesday, November 21, 2007

nobreza brown

como amanhã é feriado resolvi entrar na onda e inventar meu próprio título de nobreza:




Milord Earl Fernando Writer of Beer Labels in Ancient Times,

ha ha ha..... vale checar a brincadeira aqui.

Tuesday, November 20, 2007

o desenho como linguagem




na última quarta-feira meu studio aqui em Michigan recebeu a visita de 6 alunos da Chung-Ang University de Seoul, Coréia do Sul. Mais pro final de dezembro prometo mostrar o resultado do estúdio, o primeiro da graduação, que este ano tem como projeto final (6 semanas) um edifício sede de uma ONG que trate da questão das águas urbanas.

qualquer semelhança com o studio toró não é mera coincidência.

mas o assunto do post de hoje é o desenho como linguagem. Me fascina pensar que entre 2 a 3 milhões de indivíduos espalhados por esse planeta a fora comungam de uma linguagem em comum: o desenho arquitetônico.

desenvolvido a partir da Europa nos últimos 400 anos e sistematizado por Durand e cia na Ecole Polytechnique a cerca de 200 anos atrás, as convenções de representação espacial que comumente chamamos de desenho arquitetônico se espalharam pelo mundo, unificando a representação gráfica do espaço a ser construído e levando nas costas todo um sistema espacial intimamente ligado à modernidade.

por isso quando pesquisamos a homogeneização das tipologias arquitetônicas (ver Global Apartments Research Group) é fundamental entender o desenho arquitetônico como vetor desta contaminação.
mas o que isso tem a ver com a visita dos alunos coreanos?
é que diante da barreira da língua o desenho toma uma importância muito mais central. Quando faltam as palavras, os traços sobre o papel comaçam a falar mais alto e tomam conta da conversa.

é a linguagem do desenho aproximando arquitetos de cantos opostos do mundo

Thursday, November 15, 2007

MoMA builds, again




o New York Times de hoje traz um artigo assinado por Nicolai Ourousoff sobre uma torre de 75 pavimentos projetada por Jean Nouvel a ser erguida bem ao lado do MoMA.


o museu que acabou de inaugurar sua própria mini-torre 3 anos atrás, vai ver seu espaço ampliado em cerca de 4,000 m2 dentro na torre de Nouvel, ligado diretamente a suas galerias superiores.
mas o melhor do artigo é a crítica de Ourousoff ao conservadorismo do MoMA em contraste com o progressismo do incorporador. Segundo o NYTimes, o incorporador pediu a Jean Nouvel que elaborasse duas propostas e acabou escolhendo a mais inovadora, usando todo o potencial de marketing que possui a arquitetura hoje em dia. Em contraposição, o MoMA parece temeroso em suas decisões de design e de certa maneira incomodado com o vanguardismo de Nouvel.


seria esse conservadorismo um sinal de que a arte moderna está envelhecendo e levando junto seu mais famoso museu, responsável por tantos momentos cruciais da arquitetura Norte-Americana no século passado (vide exposição do modernismo de 1932 ou publicação do livro de Venturi em 1966, pra não falar do nosso Brazil Builds de 1942-43).


ou seria o risco imobiliário e financeiro o culpado pelo conservadorismo dos diretores do MoMA?


de qualquer forma, a torre é benvinda por balançar as fundações do MoMA e por ser, nas palavras de Ourousoff, a melhor adição do skyline de Nova York das últimas décadas.

Tuesday, November 13, 2007

maquiavel do avesso


atendendo ao desafio do Idelber no seu biscoito fino, resolvi me meter por mares não dantes navegados e escrever alguns parágrafos sobre o último livro de Roberto Mangabeira Unger: What the Left Should Propose, London: Verso, 2005.

Mangabeira Unger como todos sabem é brasileiro, professor catedrádico de direito em Harvard, foi nomeado ministro das ações de longo prazo, atualmente é ministro extraordinário de assuntos extratégicos do governo Lula. Se isso tudo parece muito confuso, o livro em questão não ajuda muito no esclarecimento.

em vários momentos do texto o autor usa de sua fluência intellectual para articular a idéia de que a esquerda está desorientada e precisa urgentemente de alternativas. Apesar de não ser tão original assim, entendo que esta é a parte mais interessante do livro. Extremamente culto e articulado, Mangabeira Unger diz já na página 2 que a tão falada “terceira via” não passa da primeira via com açúcar, ou quando defende uma nova heresia universal que ouse propor crescimento econômico com distribuição de renda. Até ai parece discurso de campanha eleitoral. E de certa forma é discurso de campanha eleitoral sim. Provavelmente da campanha presidencial de Ciro Gomes em 2010.

em outros momentos Mangabeira Unger faz uma contundente crítica ao governo do qual é hoje ministro extraordinário de assuntos estratégicos. Na página 29 ele diz (tradução minha): “a reorientação da esquerda passaria pela rejeição da idéia de que transferência de renda (cash) seria suficiente como base para uma sociedade solidária”. Pondo o dedo na ferida da sociedade brasileira, Mangabeira Unger defende que “a solidariedade social deve se basear também na responsabilidade universal de se cuidar dos outros”, um modelo de voluntarismo que funciona parcialmente bem nos EUA e está ainda engatinhando no Brasil.

mais para frente as propostas começam a parecerem menos elaboradas, como a idéia de que a esquerda precisa de uma crise (pag. 38) ou de que a legalização do aborto é uma bandeira que causa mais ônus que bonus àos democratas nos EUA (pag 118). Ao memso tempo em que as propostas parecem mal definidas, a ausência absoluta de números de qualquer espécie só contribui para a impressão de que são propostas absolutamente teóricas. Quanto custa, quanto tempo leva e quantas pessoas atinge são perguntas nunca respondidas, como se o autor preferisse a clareza de uma elaboração intelectual às impurezas de qualquer plano de açao a ser negociado, medido, orçado e implementado.

mas se a leitura dos dilemas da esquerda atual é correta, ela não traz nada de novo: o sistema educacional deveria contribuir para diminuir as diferenças e não reforça-las; a livre circulação do capital se beneficia muitíssimo dos limites impostos à livre circulação do trabalho, há de se buscar formas de limitar a influência do capital nas campanhas eleitorais.... e por aí vai.

no final das contas, fica a impressão de que Mangabeira Unger escreveu um pequeno manual de propostas políticas de esquerda para seu príncipe preferido, como Nicolau Maquiavel escreveu para Lourenço de Médice.

acontece que Maquiavel ficou para a história por descrever o sistema político como ele realmente é, e não como deveria ser.

daí o título deste post: Mangabeira Unger, Maquiavel do avesso.

Sunday, November 11, 2007

beleza pura






uau, como este lugar é bonito…


foi assim que Caetano começou o show aqui na sexta passada. Leticia já fez a crônica do show, eu só queria registrar que concordo com Caetano (apesar de discordar de quase tudo o mais que ele andou falando).

o Hill Auditorium, projeto de Albert Kahn (1869-1942) foi construído em 1913 e restaurado em 2000. Comporta 3500 pessoas confortavelmente sentadas e tem uma acústica de dar inveja a qualquer especialista com todos os softwares disponíveis hoje em dia.

depois de Gil elogiar o espaço em março passado e Caetano sexta passada, agora só falta João Gilberto para a obra prima de Albert Kahn.

ps: o post anterior relatava os problemas de goteira e infiltração em um prédio novinho em folha, projetado em CATIA. Albert Kahn projetava com caneta tinteiro em papel linho.

Thursday, November 8, 2007

briga de cachorro grande



esta semana foi notícia em todos os principais jornais aqui: Boston Globe, NY Times, NPR.


o MIT (Massachusetts Institute of Technology) está processando o escritório do arquiteto Frank Gehry, alegando erros de projeto no Stata Center (orçamento total 300M, honorários do escritório de arquitetura, 15M), inaugurado em 2004.

segundo o documento apresentado pelo MIT substanciando o processo, a universidade já gastou mais de 1,5 milhão em reparos de goteiras, trincas, mofo e problemas de drenagem.


cabe lembrar que nos EUA o primeiro responsável pela obra é o arquiteto. A corte vai provavelmente pedir a especialistas que avaliem o detalhamento feito por Gehry Partners e averiguem se a construção seguiu todas as especificações. Caso a obra tenha sido executada exatamente como desenhada, o arquiteto é responsável por eventuais danos mesmo que esteja tudo dentro das normas técnicas.


a discussão na mídia regular e na blogosphera gira em torno da seguinte questão: quem contrata Frank Gehry o faz porque quer um edifício ímpar. Mas mesmo assim, não se trata de uma escultura, os espaços deveriam ser próprios para atividades humanas.

ou não?

Tuesday, November 6, 2007

gadgets?




eu não costumo me entusiasmar muito com tecnologias, menos ainda com gadgets eletrônicos incorporados no envelope das edificações, mas confesso que fiquei impressionado com o trabalho da firma Shen, Milson & Wilke no ovo digital que envolve o Grand Lisboa Casino em Macau, China.

como explicou Fred Shen, a estrutura é recoberta de espelhos e milhares de LEDs coloridos que apesar de ocuparem apenas 2,5% da superfície, são capazes de formar qualquer imagem a distância graças aos espelhos.

por enquanto ainda me parece um artifício para chamar a atenção, mas neste caso começa a induzir transformações na própria espacialidade.


nas mãos de arquitetos mais instigantes pode ser um instrumento interesante, o que vocês acham?

Thursday, November 1, 2007

sinceridade argentina


casa moriconi


casa fregoletto

para nós que estamos já acostumados com toda aquela manha dentro das quatro linhas durante aqueles fatídicos noventa minutos, o título deste post parece uma contradição inerente.

mas ano passado tive o prazer de conviver com um arquiteto argentino cuja sinceridade (na obra e na vida cotidiana) é absolutamente arrebatadora.

Gerardo Caballero vive em Rosário, cidade cuja posição relativa lembra a minha Belo Horizonte (mas vale lembrar Buenos Aires representa algo como Rio e São Paulo e Brasília fundidos numa só cidade).

trabalhando em Rosário desde meados dos anos 80 com constantes passagens por universidades norte-americanas, Caballero desenvolve uma prática de pequena escala, de novo bem parecida com os melhores escritórios de BH, POA e Recife.

mas não foi o paralelo com a mineiridade que me fez admirar sua obra, e sim a sinceridade expressa em seus desenhos, a forma direta e clara com que se manifesta materialmente e o discurso simples, sem efeitos ou rebuscamentos intelectuais, de quem sabe o que está fazendo e busca incessantemente fazê-lo melhor a cada dia, a cada novo desenho.


fica aqui no post de hoje um pequeno elogio a esta arquitetura da sinceridade.

Tuesday, October 30, 2007

arquitetura na universidade

ontem passei a tarde na Parsons [New] School of Design e em decorrência da conversa com Kent Kleiman estou até agora matutando sobre a difícil relação entre a universidade e as escolas de arquitetura.

Kent me falava sobre as dificuldades de dirigir uma tradicional escola de design - a Parsons - que a pouco mais de duas décadas foi incorporada por uma tradicional universidade com foco nas ciências sociais - a New School for Social Research, baluarte da esquerda norte-americana. Daí o novo nome: Parsons the New School of Design.

de certa maneira o dilema da Parsons é comum a grande maioria das escolas de arquitetura: a ênfase em pesquisa e a medida de sua excelência através de publicações não se aplica diretamente à arquitetura. A Parsons tem 110 professores, 15 de tempo integral e 95 de tempo parcial. Com isso a escola atrai os melhores arquitetos de Nova York (e não são poucos) e consegue se manter como pólo de intensa criatividade.

claro que as diferenças geram atrito com a administração da universidade que muitas vezes tem muita dificuldade em compreender a especificidade de uma exposição ou todo o esforço colocado num concurso ou num projeto construído.

pode parecer contraditório (se olharem meu currículo verão dezenas de artigos publicados e poucos projetos) mas acredito piamente que não se consegue formar uma escola de arquitetura de excelência só com professores doutores em dedicação exclusiva que passam a maior parte do tempo escrevendo projetos de pesquisa, relatórios e artigos. Falta alguma coisa, ou melhor, falta muita coisa: falta o exercício do projeto, da maneira que for possivel.

nesse sentido, acho que a obrigatoriedade de dedicação exclusiva é um dos maiores entraves à melhoria do ensino da arquitetura atualmente. Revogue-se a dedicação exclusiva e dezenas de jovens arquiteto/as voltarão correndo para ensinar nas UFES onde se formaram, possibilitando o efetivo casamento entre boa teoria e boa prática. Mantenha-se a dedicação exclusiva e estes mesmos jovens continuarão ensinando em escolas onde a inovação e a pesquisa são caras demais seus balancetes semestrais.

o modelo Parsons funciona em Nova York e Los Angeles (Sci-Arc), pode ser que funcione também em São Paulo, mas para por aí.


Thursday, October 25, 2007

o corretor joga contra ou a favor?

no quinto post da série “como comprar um apartamento”, tratarei da difícil e muitas vezes frustrante relação com o corrector de imóveis. Dado que corretores costumam odiar arquitetos via de regra (sempre fazemos perguntas inconvenientes) não tenho mesmo muito a perder então contarei sobre o experimento (científico diga-se de passagem) de Stephen Dubner and Steven Levitt no livro “freakonomics”.

é o seguinte: Levitt, o economista da dupla, queria saber se vale mesmo a pena usar um corretor de imóveis para vender sua casa ou apartamento. Os dados (transações imobiliárias nos EUA são dados públicos e não tem essa de passar escritura por menos) mostram que imóveis vendem mais rápido quando se usa a rede de contatos de um corretor. Mas Levitt não estava satisfeito apenas com a questão do tempo, porque vender rápido não significa vender bem e resolveu comparar imóveis em geral com aqueles de propriedade do próprio corretor. Usando sua cidade de Chicago como balão de ensaio, Levitt percebeu que os imóveis de propriedade dos corretores demoravam em média 3 semanas a mais para serem vendidos mas alcançavam um preço 10% superior (corrigindo estatisticamente por todos os outros fatores como localização, área, idade, etc...)

a explicacão é simples. Como o corretor ganha 6% do valor da transação, tem muito pouco incentivo para esperar para vender algum tempo depois por um valor 10% maior. Nesse meio tempo, além de correr o risco de perder o comprador, o corretor teria pelo trabalho de mostrar o imóvel diversas vezes um ganho de apenas 6% de 10% ou seja 0.6%. Ora, entre ganhar 6% hoje ou ter que trabalhar mais para talvez ganhar 6.6% daqui a várias semanas, o corretor invariavelmente trabalha para que o negócio seja fechado hoje mesmo. O que Levitt brilhantemente percebeu foi que quando é o seu próprio imóvel que está a venda, os corretores se esforçam para alcançar um preço 10 ou 15% maior, mesmo que tenham de esperar mais tempo.

lembre-se disso na hora de vender seu imóvel: um bom corretor pode prestar um serviço importante com sua experiência em transações imobiliárias, mas estará quase sempre interessado em fechar logo o negócio, muitas vezes em detrimento do seu interesse como proprietário.

Tuesday, October 23, 2007

furacão Teddy Cruz



Teddy passou por aqui, deu uma palestra ontem para um auditório lotado, tomou café hoje com alguns professores conversando sobre a necessidade da arquitetura investir em diversidade (ainda somos uma profissão de homens branquinhos, apesar dos lentos progressos), almoçou com um grupo de alunos e se mandou para NY, para daí voltar correndo pra San Diego antes do final da semana pra ver se sua casa não pegou fogo.

conheço Teddy a uma década e ele sempre foi assim, apressado, multi-tasking, atencioso e um orador inflamado que consegue como ninguém levantar questões complexas de ordem social e ainda ensaiar uma resposta de ordem arquitetônica.

seu trabalho na fronteira entre San Diego (que ele chama de a maior gated community do mundo) e Tijuana é mesmo inspirador. Numa pesquisa quase antropológica, Teddy vai fundo na análise das trocas entre o capital norte-americano e o trabalho mexicano para entender como estas transformações repercutem na arquitetura. A partir daí ele movimenta ONGs, associações de bairro e até o departamento de planejamento urbano da cidade, em busca de uma arquitetura mais socialmente responsável sem deixar de ser esteticamente avançada.

ano passado ganhou um premio importante do CCA (canadian center for architecture), tem sido chamado para quatro em cada cinco bienais e este ano viu seu trabalho ganhar as páginas do New York Times.

vale a pena ficar de olho em Teddy Cruz

Sunday, October 21, 2007

Chavez e Bush se merecem

Se havia dúvidas quanto ao projeto de poder perpétuo de Hugo Chavez, elas evaporaram ontem com o congresso da Venezuela aprovando uma extensão do mandato atual e a possibilidade de reeleição continua do líder bolivarista. Some-se a isso o fechamento de jornais e TVs oposicionistas e está pronto o circo de uma pseudo-democracia de esquerda.

Ao mesmo tempo aqui no norte as coisas não vão nada bem. Por mais que eu torça para os democratas voltarem a casa branca no ano que vem, me incomoda muito a sequencia Bush-Clinton-Clinton-Bush-Bush-Clinton? Se isso não cheira a democracia e sim a aristocracia não é por falta de fumaça indicando de onde vem o fogo.


Voltando a Chavez, é triste ver que uma grande parcela da esquerda prefere ignorar os ataques a democracia e o desmonte das instituições venezuelanas, vibrando a cada bravata do coronel. Nesse sentido, a esquerda chavista e a direita religiosa norte-americana são farinha do mesmo saco: bravatas podem ate ganhar eleição (infelizmente) mas não melhoram a vida de ninguém. Alguém tem visto os índices da Venezuela melhorando? Alfabetização, mortalidade infantil, saneamento? E os índices aqui nos EUA que seguem uma trajetoria de desigualdade acelerada desde 2000, coincidência?

Enquanto isso, parece que estamos perdidos e absolutamente órfãos de propostas que possam diminuir a desigualdade e ao mesmo tempo premiar o esforço pessoal.

A crise está ai na porta, cadê as oportunidades?

Thursday, October 18, 2007

vida longa ao desenho




foi por causa da charge abaixo e da dica do Humberto que eu encontrei todos os desenhos que fazem parte do FIQ, Festival Internacional de Quadrinhos que acontece agora em BH,
entre todas as homenagens ao nosso centenario arquiteto, esta me parece das mais singelas e corretas ao celebrar o desenho, veiculo fundamental das obras de todos nos mas principalmente de Oscar Niemeyer

politica e incorretamente


só pra descontrair, acabei de dar uma aula tentando explicar Brasilia e Curitiba pros alunos gringos aqui e na sequência encontrei esta charge do Alan Sieber que deveria ter sido o slide inicial da aula, não fosse a hegemonia do politicamente correto que impera por aqui.


salve o direito de fazer piada que nos salva da tragédia de nos levarmos demasiadamente a sério.

Wednesday, October 17, 2007

kazuyo sejima




Kazuyo Sejima é uma das minhas arquitetas favoritas. Não só por ser uma das raras mulheres nesse clube do bolinha que é o star system arquitetônico, mas principalmente por demonstrar uma sensibilidade muito acima da média nos seus projetos.


o projeto do edifício de apartamentos em Gifu ( gifu kitagata apartments) é um raro exemplo em que a composição do morar coletivo foi repensada e reorganizada. No caso a circulação coletiva corre paralela a uma das fachadas enquanto a circulação interna do apartamento corre paralela a fachada oposta, gerando um espaço muito mais aproveitável ao mesmo tempo em que mantém a estrutura tradicional da sequência espacial e dos níveis de provacidade. Ver desenhos e plantas aqui.


seu primeiro edificio nos EUA, a sede do New Museum of Contemporary Art, fica no lado oeste de Manhattan, bem perto do lincoln tunnel que liga com New Jersey. Prometo visitar em dezembro quando for inaugurado e escrever mais, mas vale a pena ver esse video montado a partir de fotos da construção sobrepostas, tiradas a cada 10 minutos e comprimidas a 1/16 de segundo.


uma obra inteira condensada em 90 segundos, que tal.

Friday, October 12, 2007

fora da ordem

tomando a temperatura do debate sobre a comunidade arquitetônica na blogosfera, aqui vai meu pedacinho de lenha sobre uma questão que movimentou nossas caixas postais esta semana:

a comissão de área da CAPES acabou de divulgar o resultado do Qualis que funciona como um ranking dos periódicos da área, e é usado para avaliar também as publicações dos professores de todos os programas de pós-graduação do país.

e para surpresa de muita gente , o periódico online Arquitextos foi classificado como Nacional B, o que significa basicamente que seria uma publicação de repercussão nacional de segunda classe.

o mesmo ranking classifica como Nacional A os seguintes periódicos:
Topos (NPGAU/UFMG); Risco (São Carlos); Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Paisagem e Ambiente; Infodesign (SBDI); Espaço & Debates; Cadernos Metrópole (PUCSP); Arte & Ensaio (UFRJ); Anais do Museu Paulista. A lista completa esta disponível aqui.

sem querer fazer nenhum tipo de julgamento, porque s
ão todos periódicos sérios, cabe perguntar: quantos de nós (incluindo professores doutores com dedicação exclusiva o que é mais ou menos o meu caso), leêm regularmente os acima citados?

na última vez que perguntei ao Abílio Guerra, o Portal Vitruvius tinha 2 milhões de visitantes por ano (2005), e não me espantaria se este número estiver agora acima de 3 milhões ou 10.000 visitas por dia.

e pra piorar, aqui vão listados todos os critérios que a comissão de área usou a para a classificação: (disponível na íntegra aqui)
Conselho editorial internacional, contando com consultores de reconhecida competência na área e/ou Editor-chefe de competência reconhecida. Diversidade institucional e geográfica da autoria, do corpo editorial e dos pareceristas. Periodicidade regular, com pelo menos cinco números publicados. Registro no ISSN. Possuir linha editorial definida. Apresentar expediente completo, inclusive com indicação da forma de seleção de trabalhos.

todos atendidos plenamente (conferir aqui) por Arquitextos!!!!

alguma coisa está fora da ordem,
bem fora da ordem.

Wednesday, October 10, 2007

location location location

continuando a série Como Comprar um Apartamento, escrevo hoje sobre o princípio número 1 do valor imobiliário: tudo se baseia na localização.

a idéia é antiga, faz parte do folclore do mercado imobiliário, mas será um componente essencial do preço? De acordo com os pesquisadores Bernardo Furtado (UNA-BH) e Ricardo Ruiz (UFMG) sim, a localização é o fator que mais influencia o valor do imóvel, estatisticamente falando. Ou seja, controlando por todas as outras variáveis: área, acabamento, amenidades coletivas,vagas de garagem, número de quartos, a localização é a que tem maior influência direta no preço final.

mas porquê faz sentido mercadológicamente pagar as vezes o dobro por literalmente o mesmo imóvel só por causa da localização?
na teoria, os economistas explicariam assim: existem áreas com melhor infra-estrutura que outras, mais área verde, mais acessibilidade, melhores escolas, melhores hospitais, melhor comércio e etc.... como cada família tem uma renda diferente, as que podem pagar mais conseguem comprar seu espaço nas áreas melhores e assim por diante até aqueles que não tem como pagar nada. Se alguma variável nova entrar na equação (um novo centro comercial, uma mudança no trânsito ou o aumento da violência na favela vizinha) os agentes (moradores) vão se ajustar a nova realidade se mudando dali ou para acolá, puxando o preço médio para baixo ou para cima.

Furtado e Ruiz explicam que a correlação entre valor da terra e renda média é tão grande que pode-se trocar um pelo outro nos modelos matemáticos de análise.

na prática, são inúmeros os artifícios mercadológicos para “puxar” a valorização de uma determinada área. Desde apropriação indevida do nome (bairros vistos como bons costumam crescer enquanto bairros decadentes vão encolhendo com o passar do tempo); passando pela ênfase apenas nos aspectos positivos ou mesmo a manipulação dos ritmos diários na hora de visitar o imóvel (as 10 da manhã o trânsito é calmo pode-se manter as janelas fechadas sem maiores problemas, agora as 6 da tarde.....)
então a minha primeira recomendação é estudar com cuidado a vizinhança do imóvel que você tem em mente. Visite o quarteirão em diferentes horas do dia; pesquise preços de alguns meses atrás (porteiros são ótimas fontes de informação longe do corretor); considere bairros menos nobres onde seu dinheiro pode certamente comprar um apartamento melhor.

e lembre-se do que diz o próprio nome: seu apartamento é Imóvel, não pode ser rebocado caso você não goste da vizinhança.

Monday, October 8, 2007

majora carter


antes



depois




o South Bronx é uma das áreas mais degradadas dos EUA. Concentra usinas de reciclagem de lixo, estações de tratamento de esgoto e uma rede de viadutos de expressways mais ou menos dez vezes maior que o minhocão em São Paulo.

no meio disto tudo vive uma população cuja renda média é 23.000 doláres (10.000 per-capita significa mais ou menos a linha de pobreza), com um desemprego na casa dos 25% e que enfrentou décadas de “loan-red-lining” ou seja, os bancos se recusavam a financiar a compra de moradias na área. Isso tudo só aumenta a exclusão e impede a valorização da área, que empobrecida acaba recebendo mais vizinhos indesejáveis.

pois foi no meio disto tudo que Majora Carter fundou o Sustainable South Bronx, uma ONG dedicada a reverter a situação de pobreza absoluta através de melhorias no meio ambiente.

desde 2001 o SSBX já recolheu toneladas de lixo, revertendo áreas abandonadas na beira do Bronx River em áreas verdes e quadras de esporte. Mais recentemente, conseguiram que a cidade abandonasse um projeto de ampliação de uma autopista (imaginem!!!!) para transformar toda a área em um grande parque de 2km de extensão.
atualmente Majora Carter luta contra um projeto de instalação de uma prisão em uma área.


como Majora disse hoje aqui em Michigan, o movimento ambientalista tem tudo para se tornar o “civil-rights-movement” do século XXI se formos capazes de pensar a justiça social e a justiça ambiental como duas faces da mesma moeda.

Thursday, October 4, 2007

sobre a pesquisa

o New York Times de hoje traz uma grata surpresa: um artigo de Larry Rother (aquele mesmo das gordinhas em Ipanema e da cachaça do Lula) sobre a excelência da Embrapa.

o texto enaltece a qualidade das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa e a importância destas para a expansão agricola brasileira das ultimas décadas, principalmente no cerrado.

o que me faz pensar na distância entre a pesquisa universitária e a indústria da construção civil. Necessidade de melhoria no ambiente construído não falta. Pesquisa também não falta. Mercado e escala para receber inovação também não.

mas ao contrário das areas ligadas a produção agropecuária, as pesquisas sobre o ambiente construído ficam acumulando poeira em estantes ou gavetas,

acho que quem conseguir reverter este ciclo merece ficar milionário.

Wednesday, October 3, 2007

quanto mais longe mais triste?

William McKibben acabou de dar uma palestra aqui em Michigan. Entre as idéias que mais me chamaram a atenção o autor de Deep Economy e idealizador do movimento Step it Up soltou a seguinte provocação:

desde 1956 uma pesquisa aqui nos EUA constata a cada ano que menos pessoas se dizem felizes, na exata proporção inversa do poder de compra ou do crescimento da economia. Tal tendência vale claro para indivíduos cuja renda percapita está acima de 12.000 dólares por ano, ou seja, acima da linha de pobreza.

segundo McKibben, isto se explicaria pela redução no número e na qualidade da interação entre as pessoas. Como o padrão suburbano norte-americano constrói casas cada vez maiores e mais distantes uma das outras (citando a última moda de 2 master bedrooms!!!), as pessoas têm cada vez menos contato com o outro.

claro que o argumento principal de McKibben é pelo aumento da densidade e mudança nos hábitos de consumo, mas não deixa de ser uma provocação bem interessante.

seríamos mais felizes quanto mais interagimos com os outros?

no caso brasileiro, será que esta teoria do isolamento-gera-infelicidade se aplica tanto aos condomínios verticais quanto aos horizontais?

Saturday, September 29, 2007

papo ruim

reporter – É a primeira vez que o senhor vem à Bienal de Buenos Aires?

entrevistado– Eu estou sempre em Buenos Aires.

reporter – Na Bienal...

entrevistado– É a primeira vez.

reporter – Chegou a ver outras conferências...

entrevistado– O que você quer saber???

reporter – Eu quero fazer uma entrevista sobre você aqui na Bienal.

entrevistado– Mas porque você quer saber se eu vim em outras entrevistas, eu não estou entendendo nada.

reporter – Outras conferências. Nós estamos tendo conferências aqui desde...

reporter – Como você vê a arquitetura aqui na Argentina e na América Latina...

entrevistado– É uma pergunta muito ampla, você não pode me perguntar como eu vejo a arquitetura... Daqui onde estamos não se vê. Você está louca. Isso não é entrevista para esse momento.

o entrevistado acima poderia ser um deputado qualquer logo depois da eleição, um participante do BBB reagindo aos caras do panico ou um jogador de futebol que acabou de perder um pênalti aos 45 do segundo tempo….

mas sendo Paulo Mendes da Rocha, nosso Pritzker II, fica um gosto amargo de decepção na boca.

a entrevista inteira pode ser lida aqui no blog da AU na Bienal, e a dica veio do Alencastro

Friday, September 28, 2007

quae sera tamen



acabou de sair n' O Globo com a mesma foto,

a CBF acordou e finalmente resolveu investir no futebol feminino,

alguem duvida que, se bem organizados, os jogos femininos podem levar tanta gente aos estadios quanto os jogos masculinos?

talvez por isso tenha demorado tanto.

mas como diz a bandeira das minhas minas gerais, ainda que tardia....

parabens Marta e cia por ter vencido mais uma herculea batalha (essa mais dificil que qualquer selecao estrangeira)

Thursday, September 27, 2007

a melhor do mundo



pode até ter sido uma surpresa para os comentaristas da ESPN aqui nos EUA, mas para todos os amantes de futebol ao redor do mundo deu a lógica hoje nos 4x0 da seleção canarinha em cima das norte-americanas.


e assim a copa do mundo feminina será decidida por duas equipes tradicionalíssimas: Brasil e Alemanha


se coincidências históricas existem (ou seriam farsas?) as copas do mundo masculina e feminina seguem com trajetórias muito parecidas. No início os EUA e países nórdicos se dão muito bem com suas estruturas esportivas baseadas na universidade. Mas com o tempo a falta de uma liga professional mais competitiva (tanto feminina quanto masculina) acaba por deslocar o centro para países de maior tradição futebolistica.


atenção meninas da argentina e da itália, cadê vocês?


os dois últimos jogos entre Brasil e os EUA (5x0 no Rio em julho e 4x0 em Hangzhou hoje) reforçam a idéia de que por alguma razão que só os deuses do futebol conhecem, a fórmula vitoriosa da ginástica, da natação e do atletismo não se aplica ao futebol.


que talvez justamente por isso seja o esporte mais popular no planeta.


nesse sentido poderíamos traçar um paralelo entre esse time feminino e a seleção de Leônidas da Silva em 1938, brilhando apesar da precária organização e falta de estrutura.


acontece que a história não se repete e por isso o time de Marta e mais dez vai colocar mais uma medalha de ouro no pescoço lá do outro lado do mundo como fez no panamericano em casa.

Tuesday, September 25, 2007

Kieran + Timberlake ali na esquina



No meio de tanta mediocridade sendo construida nos quatro cantos do mundo, a gente meio que tem a obrigação de elogiar e anotar quando uma pequena pérola aparece no campo de visão. Mais ainda quando esta jóia fica bem ali na esquina.


Este é o caso deste pequeno edifício de apartamentos, projeto de Kieran, Timberlake, and Associates (KTA), aqui em Ann Arbor, a 50 metros da escola da minha filha.


Como eu passo na frente da obra 10 vezes por semana, já tinha notado a composição arrojada das aberturas, e já sabia que se tratava de um projeto de Stephen Kieran + James Timberlake, cujo sucesso em edifícios educacionais tem sido tema de várias reportagens da mídia arquitetônica por aqui.


Mas ao chegar agora em setembro e ver o edifício terminado encheu meus olhos. A intrincada organização interna dos apartmentos gera uma variação de pé-direitos e volumes que dá a cada unidade uma espacialidade diferenciada, além de permitir essa composição mais livre na fachada. Um cruzamento bem sucedido de raumplan do Loos com a fachada livre do Corbusier.


Vale também ressaltar que o edifício foi totalmente ocupado imediatamente após o término da obra em agosto último, um prodígio em tempos de crise no mercado imobiliário norte-americano e particularmente em Michigan.


Pra mim, além de ganhar uma pérola ali na esquina, ganhei um excelente exemplo de que a boa arquitetura pode aprimorar e muito a qualidade dos edifícios de apartamento ao mesmo tempo em que se faz mais rentável e vendável.

Thursday, September 20, 2007

Sobre como comprar um apartamento

Imagine se ao comprar um carro, ao invés de buscar informações sobre o custo de manutenção, o consumo de combustível e o valor de revenda, você olhasse apenas os itens em destaque na propaganda da revista: o estofamento assinado por fulano, a cor da luz do painel e a nova lanterna traseira re-estilizada para o modelo 2008 ficar um pouco diferente do modelo 2007.

Ridículo não?

Agora na hora de comprar um apartamento, um investimento normalmente 10 vezes mais caro que um carro e no qual você vai passar 12 horas por dia e não duas, um numero enorme de pessoas tem deixado que o piso da cozinha, os metais do banheiro e o espaço gourmet do pilotis sejam os fatores mais importantes na hora da escolha.

Se o leitor é um colega arquiteto, provavelmente já sabe de cor e salteado o conteúdo destas linhas.

Mas se você desconfia que na hora de comprar um apartamento os corretores desviam a sua atenção para um monte de bobagens comparáveis com a lanterna traseira re-estilizada, então essa serie pode lhe servir.

Usando da experiência de pesquisa comparando tipologias habitacionais ao redor do mundo (ver Global Apartments Research Group) e da experiência da frustração (quase desespero) de tentar encontrar um apartamento decente em Belo Horizonte (2 vezes por sinal), eu pretendo escrever de vez em quando aqui neste blog sobre algumas das questões que na minha opinião são mais importantes do que os metais do banheiro na hora de comprar um imóvel.

E pra começar conto uma historia verídica acontecida em São Paulo uns 10 anos atrás. Uma reconhecida critica de arquitetura que eu muito admiro foi procurada por um jornal de circulação nacional para escrever uma coluna semanal de arquitetura. Como teste, escreveu uma coluna sobre como comprar um apartamento: como entender a insolação, como verificar o estado da estrutura, como qualificar os revestimentos, como perceber problemas na rede hidráulica e etc... Acontece que o editor do referido jornal disse que ela pra ela escrever mais sobre arquitetura assim tipo obras excepcionais, museus, lojas, vanguarda ...... Mas, respondeu ela, 90% da cidade é feita de edifícios residenciais, metade da vida todo mundo passa dentro de casa, porque não escrever sobre este que é o maior investimento da vida de quase todos nós. O editor então respondeu curto e grosso: 35% do faturamento do jornal vem dos classificados de imóveis e os anunciantes não gostaram nem um pouco do tema daquela coluna piloto.

Pois é, foi lembrando dessa historia que tive a idéia de escrever justamente sobre isso nesse blog que não tem anunciante mesmo. Se servir para duas ou três famílias escolherem um espaço melhor pra se viver já vou dormir feliz.


Tuesday, September 18, 2007

david byrne on johnson’s glass house

ótima dica diretamente da barriga de um arquitecto:

a descrição que David Byrne fez em seu blog sobre uma visita a Glass House de Phillip Johnson. Além do olhar detalhado (Byrne estudou aquitetura se não me engano), o cérebro dos talking heads faz algumas perguntas curiosas como:

para viver nessa casa sem os pavilhões adicionais, só mesmo um monge!!!

as vezes acho que o melhor do modernismo estava mais ou menos por ai: em uma vida mais simples com menos gavetas e armários, mais panos de vidro para ver e ser visto.

vale a pena ler o post inteiro aqui.