Monday, March 30, 2009

portland existe de verdade









sempre ouvi falar das maravilhas de Portland, Oregon e sempre achei que seria mais uma daquelas cidades norte-americanas com uma downtown cheia de lojinhas para turistas rodeada de edificios de escritórios e torres de estacionamento.


mas ao chegar lá na semana passada para apresentar na conferência anual da ACSA me surpreendi de verdade com a cidade. Já de cara o transporte do aeroporto para o centro é por trolebus e custa 2,50. Qual outra cidade de médio porte tem um transporte público descente e barato que vai até o aeroporto? No centro muita gente andando tarde da noite, depois fui de manhã correr no parque lienear que margeia o rio Columbia e me deparei com milhares de ciclistas indo pro trabalho. E o centro da cidade é cheio de famílias, crianças, idosos, enfim, gente que realmente mora lá e não só gente que alí trabalha ou turistas como são a grande maioria das cidades norte-americanas.

e não para por ai, o sistema de trolebus é gratuito na área central e por isso quando fui conhecer o Tanner Springs park peguei um vagão lotado de mendigos conversando sobre qual rua em qual horário rende mais esmola.o parque em questão é projeto do Atelier Dreiseitl, escritório especialista em paisagismo "molhado", e é uma beleza de emocionar. A nascente que existe no local foi preservada e a água corre por pequenos canais no meio de uma vegetação de pantano até um pequeno lago artificial na parte mais baixa do terreno. Pelas fotos dá pra perceber que o fato do parque estar mais baixo que a rua cria uma aconchegante sensação de proteção, de imersão na natureza ainda que só em uma quadra. O que as fotos não capturam é o delicioso barulho da água descendo pelas pedras, só indo lá pra sentir.

e pela cidade inteira existem pequenos parquinhos ou mesmo canteiros muito bem desenhados lidando inteligentemente com a água. Aliás, não poderia ser diferente dado que alí chove, não tanto quanto no sudeste brasileiro mas chove significativamente.

em resumo, fiquei encantado com Portland e no momento em que a administração Obama começa a derramar dinheiro em melhorias urbanas (ver Ourosoff no New York Times de ontem) espero que o tom seja dado pela verdade de Portland e não pela fantasia de Vegas Orlando.

Wednesday, March 25, 2009

lina e michelangelo


os dois são italianos e Michelangelo, não Buonarroti mas sim Sabatino acabou de me ensinar muita coisa sobre nossa saudosa Lina Bo Bardi.


antes que vocês pensem que eu fiquei meio maluco explico que acabei de ler dois artigos do colega Michelangelo Sabatino, Space of Criticism: exhibitions and the vernacular in Italian Modernism(Journal of Architectural Education 56:1, 2009) e Ghosts and Barbarians: the vernacular in Italian Modern Architecture and Design (Journal of Design History 21:4, 2008). Neles o autor nos traz um panorama da presença da arquitetura vernacular italiana e sua influencia (enorme) no desenvolvimento do modernismo naquele país, de Arduino Colasanti bem no inicio do séc. 20 a Giancarlo de Carlo nos anos 70, passando por Ignazio Gardella, Marcello Piacentini, Giuseppe Pagano (co-editor de Casabella nos anos 30), Gino Dorfles e, claro, Bruno Zevi.

tudo isso me fez pensar na obra de Lina Bo Bardi, sua fascinação pelo popular e pelo vernacular na arquitetura. Os textos de Sabatino só fazem reforçar a intensa ligação da obra de Lina no Brasil com os desdobramentos teórico-conceituais na Itália. No entanto, a maioria dos textos e monografias brasileiras sobre Lina abordam superficialmente (ou não abordam em absoluto) este constante diálogo da arquiteta com a Itália, como se Lina tivesse nascido de novo em 1947 quando desembarcou em Santos.

e continuando tal elaboração, a influência (e contra-influência) italiana no modernismo brasileiro (Rino Levi, Warchavchick) me parece muito maior do que gostariam de admitir a conexão Corbusiana e o levantamento classico de Yves Bruand.

fica aos colegas a pergunta: existem textos novos sobre esta marcante transculturação (para usar o termo adequado elaborado por Felipe Hernandez) entre os modernismos (no plural) brasileiro e italiano?

Thursday, March 19, 2009

detroit




vale a pena ler a critica de
sobre Detroit na Slate dessa semana,

não sei se "the wrestler" com Mickey Rourke já entrou em cartaz no Brasil mas concordo plenamente com o texto de Rybzinski, se cidades fossem como personagens de cinema Detroit seria Randy the Ram, derrubado mas não completamente acabado.

Tuesday, March 17, 2009

student show









se eu tivesse que implementar uma única iniciativa que fizesse elevar o nível do ensino de arquitetura em qualquer escola seria a seguinte: coloque na parede os trabalhos dos alunos.

é exatamente isso que esta acontecendo aqui em Michigan esta semana, sob o título contemporariamente apropriado de “stimulus package” pois a exposição funciona exataemnte como um estímulo à melhoria da qualidade dos projetos.

funciona mais ou menos assim: cada professor de projeto escolhe os três melhores trabalhos do semestre passado e todos tem mais ou menos 1 metro de parede para expor seus desenhos. Pra arrematar um grupo de ex-alunos vai estar aqui esta semana para escolher os melhores projetos de cada ano. A escola fica inundada de bons trabalhos, a visibilidade faz com que tanto alunos como professores se esforcem mais da próxima vez e todo mundo ganha com isso.

por isso me desculpem o trocadilho com o nome do blog mas para melhorar a qualidade dos projetos da sua escola nada melhor que pendurar na parede.









Saturday, March 14, 2009

quem disse que mineiro não perde o trem?



Carlos Teixeira (na foto relaxando em um de nossos penetráveis) esteve aqui em Michigan esta semana, fez um workshop com meus alunos e apresentou seus premiadíssimos trabalhos. Carlos é sem dúvida o arquiteto mais cosmopolita das Minas Gerais e tem mostrado pelo mundo seus trabalhos nos quais a intimidade e o estranhamento são dosados com precisão. Intimidade para entender as complexidades da construção brasileira em textos como O Capim e projetos como as Amnésias Topográficas. Estranhamento para desenvolver uma crítica pertinente e revelar as contradições do espaço construído brasileiro. Além disso, Carlos Teixeira consegue manobrar seus projetos no exíguo e nebuloso espaço entre o público e o privado, ao mesmo tempo em que desafia os limites de ambos.

mas mesmo sendo tão antenado com o trem da história Carlos e Gabi se infiltraram ontem a tarde por Ann Arbor, e chegaram atrasados na estação onde eu esperava com as malas. O resultado foi mais uma noite de conversas porque o próximo trem pra Chicago só saiu agora de manhãzinha.

mais um paradigma das gerais desconstruído pelo Carlos

Sunday, March 8, 2009

ufa !!!

foram 3 dias muito intensos em BH. Pampulha, favela, seminário na prefeitura, sarau arquitetônico com os horizontes, mercado central, família e um pouco de chuva, claro.

a parceria com a PBH me deixa cada vez mais animado pela forma aberta e interessada com que várias secretarias e autarquias encaram essa troca de experiências.

o encontro com os horizontes (resenhado pelo Marcão) também foi na mesma linha, um intercâmbio de idéias arquitetônicas amplificado por uma amizade que já vai completar uma década.

e como eu já esperava o ponto alto foi a manhã passada na favela do Acaba-Mundo, uma imersão em uma realidade totalmente estranha aos alunos de Michigan e também a grande maioria dos arquitetos brasileiros. E teve de tudo, o carinho das crianças do projeto Querubim, polícia de arma na mão, um rapaz cortando mato e barranco para começar a construir sua casa (Leo Guerra jura que eu contratei ele para estar lá naquele exato momento). Agradeço ao pessoal da Urbel cujo suporte torna muito mais rica essa interação.

nessa visita foram registradas algumas idéias interessantes: os alunos estrangeiros perceberam o esforço do governo brasileiro em amenizar as desigualdades numa escala absolutamente impensável nos EUA (almoçaram depois no restaurante popular a R$ 1.00). E foram também surpreendidos pela quantidade de perguntas que os moradores do Acaba-Mundo tinham sobre Obama. E acabaram tendo uma conversa ótima comparando os programas tipo bolsa-escola e bolsa-família com food-stamps. Claro que os moradores do Acaba-Mundo ficaram também surpresos com os números sobre a pobreza nos EUA que os meus alunos conhecem mas que estão absolutamente ausentes de qualquer debate aqui no norte.

e no final fica reforçada minha idéia de que o Brasil e os EUA são muito mais parecidos do que gostam de se imaginar.

Thursday, March 5, 2009

em solidariedade aos excomungados


cheguei ao Brasil hoje e já no avião do Rio para BH leio sobre o caso menina de 9 anos que engravidou ao ser estuprada pelo padrasto. E eis que no meio de toda monstruosidade a mãe da menina resolve fazer o que eu acho absolutamente correto: conseguiu autorização judicial para realizar o aborto, e assim procederam.

ora convenhamos, um aborto implica traumas físicos e de consciência, mas a última coisa que essa menina que já passou por tanto abuso precisa é de correr mais risco e a gravidez antes de estar o corpo preparado é fisiologicamente arriscada pra não falar do absurdo psicológico que é a maternidade aos 9 anos.

mas não é que o bispo de Recife decide excomungar a mãe, o juiz e os médicos que participaram do procedimento. Senhor bispo, se ainda não percebeu, o aborto no caso de incesto ou de risco de vida da mãe é legal nesse país, e nesse caso cabiam ambas as prerrogativas.

e para usar uma ótima estória bíblica, que atire a primeira pedra aquele que nunca teve um aborto na família. Ou melhor, dado o caminho da irrelevância que a igreja escolheu depois de massacrar a Teologia da Libertação, pode me excomungar também senhor bispo, não vai fazer nenhuma diferença, nem pra VSa e nem pra mim.

Tuesday, March 3, 2009

as últimas

o parede de meia cumprimenta a iniciativa do site as últimas que reúne o melhor da blogosfera brasileira e como o texto de apresentação bem diz, funciona como um agregador. Estou orgulhoso de ver o parede entre os blogs de arquitetura e com certeza vou usar as últimas frequentemente já que vários dos blogs que eu leio regularmente estão lá.

e continuando minha volta ao mundo em 15 dias eu embarco amanhã pra BH com 10 alunos de mestrado que estão trabalhando no studio com a questão da permebilidade nas favelas e periferias brasileiras.