Tuesday, January 18, 2011

a tragédia e algumas questões que não queremos responder




na semana passada eu estava do outro lado do mundo enquanto o céu desabava na região serrana do Rio de Janeiro, trazendo morro abaixo uma infinidade de água e lama e levando de volta pra cima centenas de almas. Mas obviamente esta explicação fatalista e quasi-religiosa não me satisfaz. Como entrar numa sala de aula ou sentar-se diante de um cliente e não pensar nas consequencias de cada talude mal drenado, de cada quintal impermeabilizado, de cada entulho jogado no lote do fundo que no próximo verão vai descer com a chuva para entupir as bocas-de-lobo, entupir de tragédia as páginas dos jornais, entupir de números as estatísticas e entupir de dor a vida dos que ficaram pra trás.


saturado pela discussão superficial e sensacionalista da mídia você neste parágrafo está pensando que este é mais um texto eco-chato sobre o modelo de ocupação das encostas, a política habitacional ou a incompetência do poder público.


nada disto. Como eu acabei de voltar de Cingapura, gasto hoje este espaço para refletir sobre os limites entre o poder de intervenção do estado e os direitos individuais.


uma das coisas que mais me assustou em Cingapura foram arquitetos e sociólogos, todos professores universitários com pós-graduação e experiência internacional, defendendo o modelo de democracia de Cingapura. Para quem não conhece, Cingapura tem partido único, imprensa controlada e um governo que regula e policia absolutamente tudo. Os casos mais famosos são os de chicotadas públicas por cuspir na rua ou multa por não dar descarga nos banheiros públicos. Numa outra conversa assuntos mais mundanos de arquitetura perguntei ao presidente do Instituto de Arquitetos de Cingapura se eles não tinham problemas de dilatação ao usar cerâmicas nas fachadas, caso típico de cidades tropicais como nós bem sabemos. A resposta dele: o código de obras especifica quais cerâmicas e quais argamassas podem ser usadas para cada tipo de edifício dependendo do tipo de estrutura, altura e exposição solar.


agora que nome damos a este tipo de relação público - privado? Capitalismo super-regulado? Fascismo pragmático? Exagero de zelo pelo bem comum? Mega big brother? Cingapura recebe tanta chuva quanto Manaus, 70% mais do que a media do sudeste brasileiro e o nível de planejamento é tanto que os arquitetos não estão nem um pouco preocupados com mortes decorrentes de enchentes e desabamentos. Estão preocupados em garantir que uma cerâmica 10x10 não despenque do 18o. andar.


a pergunta que andamos evitando no caso da tragédia da região serrana é que tipo relação com o estado nós queremos. Estamos dispostos a apoiar um estado que remova milhares de pessoas das regiões de risco e cobre impostos suficientes para prover infra-estrutura para estes mesmos milhares? Ou preferimos um estado que apenas policie e deixe para o mercado oferecer habitação de qualidade. Neste caso, estamos dispostos a pagar um salário mínimo de R$ 1500.00 que garanta a todos a possibilidade de pagar R$ 600.00 de prestação ou aluguel? Estamos dispostos a apoiar um estado (ou um CREA ou um CAU) que efetivamente fiscalize os afastamentos, áreas totais e taxas de permeabilidade?


nós que trabalhamos todo dia com a aprovação de edifícios e loteamentos estamos dispostos a defender as leis que os regulam diante dos clientes que perguntam se dá pra aprovar assim ou assado? Estamos dispostos a ir lá com a policia explicar os riscos da ocupação e exercer a interdição se necessário? Como, se não damos conta nem de explicar na reunião de condomínio que a varanda o pilotis não podem ser fechados com blindex.


o exemplo de Cingapura me parece sim extremo e autoritário, mas o nosso modelo de jeitinho para os amigos e leis para os inimigos está falido, enterrado debaixo de toneladas de lama em Ilha Grande, Angra, Teresópolis, Friburgo e onde mais chover. Estaremos dispostos a assumir responsabilidade coletiva por um modelo de espaço construído que não implique riscos de destruição em massa.

Saturday, January 8, 2011

uma década de bons horizontes





lá se vão 10 anos. Em 2000 eu fiz um workshop com os alunos da PUC-Minas procurando maneiras alternativas de se pensar e desenhar o espaço público. A idéia era termos workshops de “aquecimento” todo ano, em agosto em Minas e em janeiro em Michigan, aproveitando que as ferias de uns coincidiam com o início do semestre do outro.


viramos o milênio e nenhum professor da PUC se interessou em vir a Michigan mas cinco bravos alunos enfrentaram a neve para participar do segundo workshop em Detroit. Luciana Thomaz, Pedro Doyle, Gabriel Veloso, Marcelo Palhares e Luiz Felipe de Farias enfrentaram temperaturas de 10 graus negativos (e também se divertiram na neve) para redesenhar a praça central da Lawrence Tech University, diante de um edifício novo projetado por Charles Gwathmey, o menos famoso dos New York Five.


até ai nada de mais, se não fosse o fato de que Marcelo, Gabriel e Luiz Felipe abriram um escritório: Horizontes, assim que se formaram. Hoje Horizontes é líder em arquitetura pública em Minas Gerais, com vários prêmios e projetos no currículo. Eu, que nas minhas andanças tive a chance de passar várias vezes pelo caminho deles, tenho o maior orgulho de fazer parte desta história.


que venham a próxima década!



Thursday, January 6, 2011

ano novo, conselho novo

minhas boas vindas e uma sugestão de pauta para o CAU

aqui no Arqbacana

Saturday, January 1, 2011

dois pernambucanos




este blog parabeniza hoje estes dois pernambucanos da foto acima.


o de vermelho que todos conhecem acabou de fazer os melhor governo das últimas décadas, tirando milhões da pobreza, fazendo o país crescer e assumindo um papel muito mais importante no cenário mundial.


o outro, de terno, é Angelo Arruda, ex-presidente da Federação Nacional dos Arquitetos. No último dia de mandado (o lobby do CREA era tão forte quanto o de Berlusconi) o presidente Lula assinou a lei 12.378 que cria o CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, uma demanda de 70 anos dos arquitetos.


Angelo sabe que a luta está apenas começando, que não basta ter uma entidade própria, é necessário ter um conselho muito melhor que o CREA. Mas o passo é significativo, a valorização da arquitetura e do urbanismo passa pela afirmação dos valores próprios, distintos dos valores da engenharia.


a sensação do dever cumprido de ambos os pernambucanos (guardadas as devidas proporções) serve agora de inspiração e suporte para novos desafios.


Feliz 2011