Saturday, September 29, 2007

papo ruim

reporter – É a primeira vez que o senhor vem à Bienal de Buenos Aires?

entrevistado– Eu estou sempre em Buenos Aires.

reporter – Na Bienal...

entrevistado– É a primeira vez.

reporter – Chegou a ver outras conferências...

entrevistado– O que você quer saber???

reporter – Eu quero fazer uma entrevista sobre você aqui na Bienal.

entrevistado– Mas porque você quer saber se eu vim em outras entrevistas, eu não estou entendendo nada.

reporter – Outras conferências. Nós estamos tendo conferências aqui desde...

reporter – Como você vê a arquitetura aqui na Argentina e na América Latina...

entrevistado– É uma pergunta muito ampla, você não pode me perguntar como eu vejo a arquitetura... Daqui onde estamos não se vê. Você está louca. Isso não é entrevista para esse momento.

o entrevistado acima poderia ser um deputado qualquer logo depois da eleição, um participante do BBB reagindo aos caras do panico ou um jogador de futebol que acabou de perder um pênalti aos 45 do segundo tempo….

mas sendo Paulo Mendes da Rocha, nosso Pritzker II, fica um gosto amargo de decepção na boca.

a entrevista inteira pode ser lida aqui no blog da AU na Bienal, e a dica veio do Alencastro

Friday, September 28, 2007

quae sera tamen



acabou de sair n' O Globo com a mesma foto,

a CBF acordou e finalmente resolveu investir no futebol feminino,

alguem duvida que, se bem organizados, os jogos femininos podem levar tanta gente aos estadios quanto os jogos masculinos?

talvez por isso tenha demorado tanto.

mas como diz a bandeira das minhas minas gerais, ainda que tardia....

parabens Marta e cia por ter vencido mais uma herculea batalha (essa mais dificil que qualquer selecao estrangeira)

Thursday, September 27, 2007

a melhor do mundo



pode até ter sido uma surpresa para os comentaristas da ESPN aqui nos EUA, mas para todos os amantes de futebol ao redor do mundo deu a lógica hoje nos 4x0 da seleção canarinha em cima das norte-americanas.


e assim a copa do mundo feminina será decidida por duas equipes tradicionalíssimas: Brasil e Alemanha


se coincidências históricas existem (ou seriam farsas?) as copas do mundo masculina e feminina seguem com trajetórias muito parecidas. No início os EUA e países nórdicos se dão muito bem com suas estruturas esportivas baseadas na universidade. Mas com o tempo a falta de uma liga professional mais competitiva (tanto feminina quanto masculina) acaba por deslocar o centro para países de maior tradição futebolistica.


atenção meninas da argentina e da itália, cadê vocês?


os dois últimos jogos entre Brasil e os EUA (5x0 no Rio em julho e 4x0 em Hangzhou hoje) reforçam a idéia de que por alguma razão que só os deuses do futebol conhecem, a fórmula vitoriosa da ginástica, da natação e do atletismo não se aplica ao futebol.


que talvez justamente por isso seja o esporte mais popular no planeta.


nesse sentido poderíamos traçar um paralelo entre esse time feminino e a seleção de Leônidas da Silva em 1938, brilhando apesar da precária organização e falta de estrutura.


acontece que a história não se repete e por isso o time de Marta e mais dez vai colocar mais uma medalha de ouro no pescoço lá do outro lado do mundo como fez no panamericano em casa.

Tuesday, September 25, 2007

Kieran + Timberlake ali na esquina



No meio de tanta mediocridade sendo construida nos quatro cantos do mundo, a gente meio que tem a obrigação de elogiar e anotar quando uma pequena pérola aparece no campo de visão. Mais ainda quando esta jóia fica bem ali na esquina.


Este é o caso deste pequeno edifício de apartamentos, projeto de Kieran, Timberlake, and Associates (KTA), aqui em Ann Arbor, a 50 metros da escola da minha filha.


Como eu passo na frente da obra 10 vezes por semana, já tinha notado a composição arrojada das aberturas, e já sabia que se tratava de um projeto de Stephen Kieran + James Timberlake, cujo sucesso em edifícios educacionais tem sido tema de várias reportagens da mídia arquitetônica por aqui.


Mas ao chegar agora em setembro e ver o edifício terminado encheu meus olhos. A intrincada organização interna dos apartmentos gera uma variação de pé-direitos e volumes que dá a cada unidade uma espacialidade diferenciada, além de permitir essa composição mais livre na fachada. Um cruzamento bem sucedido de raumplan do Loos com a fachada livre do Corbusier.


Vale também ressaltar que o edifício foi totalmente ocupado imediatamente após o término da obra em agosto último, um prodígio em tempos de crise no mercado imobiliário norte-americano e particularmente em Michigan.


Pra mim, além de ganhar uma pérola ali na esquina, ganhei um excelente exemplo de que a boa arquitetura pode aprimorar e muito a qualidade dos edifícios de apartamento ao mesmo tempo em que se faz mais rentável e vendável.

Thursday, September 20, 2007

Sobre como comprar um apartamento

Imagine se ao comprar um carro, ao invés de buscar informações sobre o custo de manutenção, o consumo de combustível e o valor de revenda, você olhasse apenas os itens em destaque na propaganda da revista: o estofamento assinado por fulano, a cor da luz do painel e a nova lanterna traseira re-estilizada para o modelo 2008 ficar um pouco diferente do modelo 2007.

Ridículo não?

Agora na hora de comprar um apartamento, um investimento normalmente 10 vezes mais caro que um carro e no qual você vai passar 12 horas por dia e não duas, um numero enorme de pessoas tem deixado que o piso da cozinha, os metais do banheiro e o espaço gourmet do pilotis sejam os fatores mais importantes na hora da escolha.

Se o leitor é um colega arquiteto, provavelmente já sabe de cor e salteado o conteúdo destas linhas.

Mas se você desconfia que na hora de comprar um apartamento os corretores desviam a sua atenção para um monte de bobagens comparáveis com a lanterna traseira re-estilizada, então essa serie pode lhe servir.

Usando da experiência de pesquisa comparando tipologias habitacionais ao redor do mundo (ver Global Apartments Research Group) e da experiência da frustração (quase desespero) de tentar encontrar um apartamento decente em Belo Horizonte (2 vezes por sinal), eu pretendo escrever de vez em quando aqui neste blog sobre algumas das questões que na minha opinião são mais importantes do que os metais do banheiro na hora de comprar um imóvel.

E pra começar conto uma historia verídica acontecida em São Paulo uns 10 anos atrás. Uma reconhecida critica de arquitetura que eu muito admiro foi procurada por um jornal de circulação nacional para escrever uma coluna semanal de arquitetura. Como teste, escreveu uma coluna sobre como comprar um apartamento: como entender a insolação, como verificar o estado da estrutura, como qualificar os revestimentos, como perceber problemas na rede hidráulica e etc... Acontece que o editor do referido jornal disse que ela pra ela escrever mais sobre arquitetura assim tipo obras excepcionais, museus, lojas, vanguarda ...... Mas, respondeu ela, 90% da cidade é feita de edifícios residenciais, metade da vida todo mundo passa dentro de casa, porque não escrever sobre este que é o maior investimento da vida de quase todos nós. O editor então respondeu curto e grosso: 35% do faturamento do jornal vem dos classificados de imóveis e os anunciantes não gostaram nem um pouco do tema daquela coluna piloto.

Pois é, foi lembrando dessa historia que tive a idéia de escrever justamente sobre isso nesse blog que não tem anunciante mesmo. Se servir para duas ou três famílias escolherem um espaço melhor pra se viver já vou dormir feliz.


Tuesday, September 18, 2007

david byrne on johnson’s glass house

ótima dica diretamente da barriga de um arquitecto:

a descrição que David Byrne fez em seu blog sobre uma visita a Glass House de Phillip Johnson. Além do olhar detalhado (Byrne estudou aquitetura se não me engano), o cérebro dos talking heads faz algumas perguntas curiosas como:

para viver nessa casa sem os pavilhões adicionais, só mesmo um monge!!!

as vezes acho que o melhor do modernismo estava mais ou menos por ai: em uma vida mais simples com menos gavetas e armários, mais panos de vidro para ver e ser visto.

vale a pena ler o post inteiro aqui.

Thursday, September 13, 2007

até onde podemos mudar o mundo?

esta semana uma discussão acalorada neste blog (ver a dezena de comentários no post anterior) me fez pensar na questão da responsabilidade individual em busca de um mundo melhor.


coincidentemente, Bill Clinton lançou tamb
ém esta semana um livro sobre este mesmo tema:Giving- how each of us can change the world.


no caso de Clinton (eu ainda não li o livro, só escutei a entrevista dele no radio e suas reverberações na blogosfera) a mensagem é claramente no sentido de inspirar a todos a iniciarem um processo de transformação do mundo ainda que apenas plantando uma flor na sua janela. Reflete muito do momento nos EUA e também em outras partes do mundo em que paira um certo descrédito, uma certa desesperança que pode facilmente escorregar para o cinismo. Algo como: eu não votei no Bush então não sou responsável então não há muito o que eu possa fazer até a próxima eleição.


o argumento de Clinton é que há sim muito a ser feito independente do Bush, do Lula ou do Chavez, e começa por cada um de nós.


de certa forma o argumento é um pouco ingênuo. Um George (Soros ou Bush) sozinho pode fazer um planeta inteiro retroceder ou avançar décadas com o deslocamento de seus soldados ou de seus investimentos. Por outro lado, todo mundo que trabalha em ONGs ou organizações em fins lucrativos percebe o imenso poder das redes de informação e sua capacidade de mobilização.


enquanto isso, aqui embaixo na vida cotidiana, a flor do meu vizinho me ajuda a pensar num mundo melhor e me incentiva a fazer algo amanha.

Thursday, September 6, 2007

ann arbor ainda me surpreende

como todos os meus cinco leitores já sabem, desde 1996 eu vivo entre Belo Horizonte e Ann Arbor, Michigan. Nesse tempo todo eu percebo com tristeza que Ann Arbor vai ficando mais careta a cada ano. Não tem mais naked mile (corrida de alunos pelados), não tem mais hashbash (festival de cannabis no campus) e proliferam os SUVs por todo lado, ainda que convivendo lado a lado com as plaquinhas de impeach bush e no war for oil em 70% dos jardins.

mas ao voltar pra essa outra casa esta semana, encontrei entre as centenas de correspondências junk-mail uma cartinha da prefeitura que me deixou feliz, entusiasmado mesmo.

a partir deste mês a companhia municipal de saneamento vai passar a cobrar a taxa de água pluvial (storm water) com base na metragem quadrada impermeabilizada do seu terreno. Terreno permeável paga menos, casa grande e quintal cimentado pagam mais. E se você instalar coletores de água de chuva ganha um desconto. Se construir um pequeno canteiro de infiltração (um morrinho invertido para captar água de chuva) ganha um desconto maior ainda.

agora falta espalhar a idéia pra todos os candidatos a prefeito no ano que vem no Brasil.

mais inform
ões aqui