Tuesday, November 13, 2007
maquiavel do avesso
atendendo ao desafio do Idelber no seu biscoito fino, resolvi me meter por mares não dantes navegados e escrever alguns parágrafos sobre o último livro de Roberto Mangabeira Unger: What the Left Should Propose, London: Verso, 2005.
Mangabeira Unger como todos sabem é brasileiro, professor catedrádico de direito em Harvard, foi nomeado ministro das ações de longo prazo, atualmente é ministro extraordinário de assuntos extratégicos do governo Lula. Se isso tudo parece muito confuso, o livro em questão não ajuda muito no esclarecimento.
em vários momentos do texto o autor usa de sua fluência intellectual para articular a idéia de que a esquerda está desorientada e precisa urgentemente de alternativas. Apesar de não ser tão original assim, entendo que esta é a parte mais interessante do livro. Extremamente culto e articulado, Mangabeira Unger diz já na página 2 que a tão falada “terceira via” não passa da primeira via com açúcar, ou quando defende uma nova heresia universal que ouse propor crescimento econômico com distribuição de renda. Até ai parece discurso de campanha eleitoral. E de certa forma é discurso de campanha eleitoral sim. Provavelmente da campanha presidencial de Ciro Gomes em 2010.
em outros momentos Mangabeira Unger faz uma contundente crítica ao governo do qual é hoje ministro extraordinário de assuntos estratégicos. Na página 29 ele diz (tradução minha): “a reorientação da esquerda passaria pela rejeição da idéia de que transferência de renda (cash) seria suficiente como base para uma sociedade solidária”. Pondo o dedo na ferida da sociedade brasileira, Mangabeira Unger defende que “a solidariedade social deve se basear também na responsabilidade universal de se cuidar dos outros”, um modelo de voluntarismo que funciona parcialmente bem nos EUA e está ainda engatinhando no Brasil.
mais para frente as propostas começam a parecerem menos elaboradas, como a idéia de que a esquerda precisa de uma crise (pag. 38) ou de que a legalização do aborto é uma bandeira que causa mais ônus que bonus àos democratas nos EUA (pag 118). Ao memso tempo em que as propostas parecem mal definidas, a ausência absoluta de números de qualquer espécie só contribui para a impressão de que são propostas absolutamente teóricas. Quanto custa, quanto tempo leva e quantas pessoas atinge são perguntas nunca respondidas, como se o autor preferisse a clareza de uma elaboração intelectual às impurezas de qualquer plano de açao a ser negociado, medido, orçado e implementado.
mas se a leitura dos dilemas da esquerda atual é correta, ela não traz nada de novo: o sistema educacional deveria contribuir para diminuir as diferenças e não reforça-las; a livre circulação do capital se beneficia muitíssimo dos limites impostos à livre circulação do trabalho, há de se buscar formas de limitar a influência do capital nas campanhas eleitorais.... e por aí vai.
no final das contas, fica a impressão de que Mangabeira Unger escreveu um pequeno manual de propostas políticas de esquerda para seu príncipe preferido, como Nicolau Maquiavel escreveu para Lourenço de Médice.
acontece que Maquiavel ficou para a história por descrever o sistema político como ele realmente é, e não como deveria ser.
daí o título deste post: Mangabeira Unger, Maquiavel do avesso.
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2 comments:
Na mosca, Fernando. O chute dele sobre o aborto é dos momentos mais fracos do livro, me parece. A outra coisa que me irritou à beça foi esse tom de que as saídas que ele apresenta são óbvias -- quando na verdade são uma mescla de sentido comum e propostas nada claras, ou pouco executáveis. Não me impressionou, não. Abraços,
E' isso ai'. Conteudo velho com roupagem intelectualizada para parecer novo.
Bjs,
Le.
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