Friday, November 30, 2007

benvindos à melhor torcida do mundo




essa vai para todos os meus amigos cruzeirenses que vão ter de torcer para o Glorioso no domingo.

Thursday, November 29, 2007

morte e ressureição de uma jóia



































desde setembro, com a Lê trabalhando para as Nações Unidas num relatório dos Millenium Development Goals, eu tenho aproveitado a desculpa pra passar vários finais de semana em New York.

na maioria das vezes voamos por La Guardia, um aeroporto feio e sem graça mas com mais opções de horários, mas hoje, não sei porque, voamos para JFK. logo na hora do pouso me veio a cabeça o lindo terminal da TWA no JFK, projeto de Eero Saarinen (1962), cujo abandono (desde 2001) me doía todas as vezes que passava por lá.

acho que ainda sob o impacto do Obituário Arquitetônico de Luiz Amorim, fiquei pensando na morte por falência (da empresa TWA) deste que é talvez o mais lindo terminal de aeroporto do mundo, cabeça a cabeça com o Santos Dumond. ok, o expresionismo de Saarinen é mais impactante que a elegância dos irmãos Roberto, mas de qual outro aeroporto se pode sair andando para uma reunião?

e não é que ao sair do avião dei de cara com o edifício de Saarinen sendo renovado. A JetBlue, empresa nova low-cost (pense na Gol), está ampliando suas operações no JFK e comprou o terminal da falida TWA. Dá pra perceber que as mudanças serão muitas, em parte por conta das novas regras de segurança, em parte porque a JetBlue vai operar muito mais vôos que a capacidade de terminal quase cinquentão. Os novos edifícios são enormes e deixam o prédio original meio enterrado que no meio.

mas o fato de que esta pequena jóia vai parar de acumular poeira e goteiras e voltar a assombrar os viajantes com suas curvas já é válido apesar das mudanças. Afinal de contas, no longo prazo, uma arquitetura que não se permite transformação é fadada a entrar na lista de Luiz Amorim.


enquanto esperamos para ver o resultado, celebremos sua ressurreição.

Tuesday, November 27, 2007

momento nata da nata

nunca dei muita bola pra rankings, acho que são todos invariavelmente reducionistas, mas seguindo a dica do Idelber fui dar uma sapeada no ranking do Chronicle of Higher Education e lá estava:

U of Michigan # 1 em Arquitetura e Planejamento Urbano.

no momento em que o meu departamento é alçado à primeira colocação em termos de produtividade dos professores (publicações basicamente) entre os programas de doutorado em arquitetura e urbanismo dos estados unidos, não dá pra não se encher de orgulho e abrir uma cerveja para comemorar o bom resultado de tanto trabalho.

parabéns a nós todos aqui

Monday, November 26, 2007

vasco da gama ao reverso



recebi esse filminho hoje, mostrando uma entrevista de Charles Correa na RTP de Portugal a respeito de um projeto dele, parte do centenário da república portuguesa a ser comemorado em 2010. Vale a pena dar uma olhada.

Charles, como todos sabem, é o mais famoso arquiteto indiano do século 20, uma figura sensacional que tive o prazer de conhecer em janeiro passado e que aos 80 e tantos anos de idade ainda respira arquitetura diariamente. Autor de uma obra absolutamente brilhante, indiana e ao mesmo tempo cosmopolita.

nos últimos anos Charles Correa tem projetado ao redor do mundo (MIT Neuroscience Center, India mission at the UN em NY, Ismaili Center em Toronto) e o fato de um arquiteto nascido em Goa estar projetando um edifício importante para a república portuguesa diz algo significativo a respeito dos processos de influência e contra-influência dos nossos tempos e toda a problemática associada aos movimentos de pessoas e idéias.

como Charles mesmo diz na entrevista, como um Vasco da Gama ao contrário, um arquiteto de Goa projeta em Portugal 500 anos depois.

mas tive dificuldades de lembrar de um edifício importante em Portugal projetado por um arquiteto brasileiro. Niemeyer tem um hotel apenas, na Ilha da Madeira. Alguem sabe de algo da estatura deste prédio de Charles Correa?

Saturday, November 24, 2007

quando eu morrer quero ir de fralda de camisa





saiu hoje em Vitruvius minha resenha do novo livro de Luiz Amorim:

Obituário Arquitetônico – Pernambuco Modernista.

o texto poético de Amorim torna leve e saboroso um tema doloroso, a morte da arquitetura.

não cabe repetir aqui meus elogios ao livro, a resenha , encomendada por causa deste post de agosto passado, está disponível aqui.

Wednesday, November 21, 2007

nobreza brown

como amanhã é feriado resolvi entrar na onda e inventar meu próprio título de nobreza:




Milord Earl Fernando Writer of Beer Labels in Ancient Times,

ha ha ha..... vale checar a brincadeira aqui.

Tuesday, November 20, 2007

o desenho como linguagem




na última quarta-feira meu studio aqui em Michigan recebeu a visita de 6 alunos da Chung-Ang University de Seoul, Coréia do Sul. Mais pro final de dezembro prometo mostrar o resultado do estúdio, o primeiro da graduação, que este ano tem como projeto final (6 semanas) um edifício sede de uma ONG que trate da questão das águas urbanas.

qualquer semelhança com o studio toró não é mera coincidência.

mas o assunto do post de hoje é o desenho como linguagem. Me fascina pensar que entre 2 a 3 milhões de indivíduos espalhados por esse planeta a fora comungam de uma linguagem em comum: o desenho arquitetônico.

desenvolvido a partir da Europa nos últimos 400 anos e sistematizado por Durand e cia na Ecole Polytechnique a cerca de 200 anos atrás, as convenções de representação espacial que comumente chamamos de desenho arquitetônico se espalharam pelo mundo, unificando a representação gráfica do espaço a ser construído e levando nas costas todo um sistema espacial intimamente ligado à modernidade.

por isso quando pesquisamos a homogeneização das tipologias arquitetônicas (ver Global Apartments Research Group) é fundamental entender o desenho arquitetônico como vetor desta contaminação.
mas o que isso tem a ver com a visita dos alunos coreanos?
é que diante da barreira da língua o desenho toma uma importância muito mais central. Quando faltam as palavras, os traços sobre o papel comaçam a falar mais alto e tomam conta da conversa.

é a linguagem do desenho aproximando arquitetos de cantos opostos do mundo

Thursday, November 15, 2007

MoMA builds, again




o New York Times de hoje traz um artigo assinado por Nicolai Ourousoff sobre uma torre de 75 pavimentos projetada por Jean Nouvel a ser erguida bem ao lado do MoMA.


o museu que acabou de inaugurar sua própria mini-torre 3 anos atrás, vai ver seu espaço ampliado em cerca de 4,000 m2 dentro na torre de Nouvel, ligado diretamente a suas galerias superiores.
mas o melhor do artigo é a crítica de Ourousoff ao conservadorismo do MoMA em contraste com o progressismo do incorporador. Segundo o NYTimes, o incorporador pediu a Jean Nouvel que elaborasse duas propostas e acabou escolhendo a mais inovadora, usando todo o potencial de marketing que possui a arquitetura hoje em dia. Em contraposição, o MoMA parece temeroso em suas decisões de design e de certa maneira incomodado com o vanguardismo de Nouvel.


seria esse conservadorismo um sinal de que a arte moderna está envelhecendo e levando junto seu mais famoso museu, responsável por tantos momentos cruciais da arquitetura Norte-Americana no século passado (vide exposição do modernismo de 1932 ou publicação do livro de Venturi em 1966, pra não falar do nosso Brazil Builds de 1942-43).


ou seria o risco imobiliário e financeiro o culpado pelo conservadorismo dos diretores do MoMA?


de qualquer forma, a torre é benvinda por balançar as fundações do MoMA e por ser, nas palavras de Ourousoff, a melhor adição do skyline de Nova York das últimas décadas.

Tuesday, November 13, 2007

maquiavel do avesso


atendendo ao desafio do Idelber no seu biscoito fino, resolvi me meter por mares não dantes navegados e escrever alguns parágrafos sobre o último livro de Roberto Mangabeira Unger: What the Left Should Propose, London: Verso, 2005.

Mangabeira Unger como todos sabem é brasileiro, professor catedrádico de direito em Harvard, foi nomeado ministro das ações de longo prazo, atualmente é ministro extraordinário de assuntos extratégicos do governo Lula. Se isso tudo parece muito confuso, o livro em questão não ajuda muito no esclarecimento.

em vários momentos do texto o autor usa de sua fluência intellectual para articular a idéia de que a esquerda está desorientada e precisa urgentemente de alternativas. Apesar de não ser tão original assim, entendo que esta é a parte mais interessante do livro. Extremamente culto e articulado, Mangabeira Unger diz já na página 2 que a tão falada “terceira via” não passa da primeira via com açúcar, ou quando defende uma nova heresia universal que ouse propor crescimento econômico com distribuição de renda. Até ai parece discurso de campanha eleitoral. E de certa forma é discurso de campanha eleitoral sim. Provavelmente da campanha presidencial de Ciro Gomes em 2010.

em outros momentos Mangabeira Unger faz uma contundente crítica ao governo do qual é hoje ministro extraordinário de assuntos estratégicos. Na página 29 ele diz (tradução minha): “a reorientação da esquerda passaria pela rejeição da idéia de que transferência de renda (cash) seria suficiente como base para uma sociedade solidária”. Pondo o dedo na ferida da sociedade brasileira, Mangabeira Unger defende que “a solidariedade social deve se basear também na responsabilidade universal de se cuidar dos outros”, um modelo de voluntarismo que funciona parcialmente bem nos EUA e está ainda engatinhando no Brasil.

mais para frente as propostas começam a parecerem menos elaboradas, como a idéia de que a esquerda precisa de uma crise (pag. 38) ou de que a legalização do aborto é uma bandeira que causa mais ônus que bonus àos democratas nos EUA (pag 118). Ao memso tempo em que as propostas parecem mal definidas, a ausência absoluta de números de qualquer espécie só contribui para a impressão de que são propostas absolutamente teóricas. Quanto custa, quanto tempo leva e quantas pessoas atinge são perguntas nunca respondidas, como se o autor preferisse a clareza de uma elaboração intelectual às impurezas de qualquer plano de açao a ser negociado, medido, orçado e implementado.

mas se a leitura dos dilemas da esquerda atual é correta, ela não traz nada de novo: o sistema educacional deveria contribuir para diminuir as diferenças e não reforça-las; a livre circulação do capital se beneficia muitíssimo dos limites impostos à livre circulação do trabalho, há de se buscar formas de limitar a influência do capital nas campanhas eleitorais.... e por aí vai.

no final das contas, fica a impressão de que Mangabeira Unger escreveu um pequeno manual de propostas políticas de esquerda para seu príncipe preferido, como Nicolau Maquiavel escreveu para Lourenço de Médice.

acontece que Maquiavel ficou para a história por descrever o sistema político como ele realmente é, e não como deveria ser.

daí o título deste post: Mangabeira Unger, Maquiavel do avesso.

Sunday, November 11, 2007

beleza pura






uau, como este lugar é bonito…


foi assim que Caetano começou o show aqui na sexta passada. Leticia já fez a crônica do show, eu só queria registrar que concordo com Caetano (apesar de discordar de quase tudo o mais que ele andou falando).

o Hill Auditorium, projeto de Albert Kahn (1869-1942) foi construído em 1913 e restaurado em 2000. Comporta 3500 pessoas confortavelmente sentadas e tem uma acústica de dar inveja a qualquer especialista com todos os softwares disponíveis hoje em dia.

depois de Gil elogiar o espaço em março passado e Caetano sexta passada, agora só falta João Gilberto para a obra prima de Albert Kahn.

ps: o post anterior relatava os problemas de goteira e infiltração em um prédio novinho em folha, projetado em CATIA. Albert Kahn projetava com caneta tinteiro em papel linho.

Thursday, November 8, 2007

briga de cachorro grande



esta semana foi notícia em todos os principais jornais aqui: Boston Globe, NY Times, NPR.


o MIT (Massachusetts Institute of Technology) está processando o escritório do arquiteto Frank Gehry, alegando erros de projeto no Stata Center (orçamento total 300M, honorários do escritório de arquitetura, 15M), inaugurado em 2004.

segundo o documento apresentado pelo MIT substanciando o processo, a universidade já gastou mais de 1,5 milhão em reparos de goteiras, trincas, mofo e problemas de drenagem.


cabe lembrar que nos EUA o primeiro responsável pela obra é o arquiteto. A corte vai provavelmente pedir a especialistas que avaliem o detalhamento feito por Gehry Partners e averiguem se a construção seguiu todas as especificações. Caso a obra tenha sido executada exatamente como desenhada, o arquiteto é responsável por eventuais danos mesmo que esteja tudo dentro das normas técnicas.


a discussão na mídia regular e na blogosphera gira em torno da seguinte questão: quem contrata Frank Gehry o faz porque quer um edifício ímpar. Mas mesmo assim, não se trata de uma escultura, os espaços deveriam ser próprios para atividades humanas.

ou não?

Tuesday, November 6, 2007

gadgets?




eu não costumo me entusiasmar muito com tecnologias, menos ainda com gadgets eletrônicos incorporados no envelope das edificações, mas confesso que fiquei impressionado com o trabalho da firma Shen, Milson & Wilke no ovo digital que envolve o Grand Lisboa Casino em Macau, China.

como explicou Fred Shen, a estrutura é recoberta de espelhos e milhares de LEDs coloridos que apesar de ocuparem apenas 2,5% da superfície, são capazes de formar qualquer imagem a distância graças aos espelhos.

por enquanto ainda me parece um artifício para chamar a atenção, mas neste caso começa a induzir transformações na própria espacialidade.


nas mãos de arquitetos mais instigantes pode ser um instrumento interesante, o que vocês acham?

Thursday, November 1, 2007

sinceridade argentina


casa moriconi


casa fregoletto

para nós que estamos já acostumados com toda aquela manha dentro das quatro linhas durante aqueles fatídicos noventa minutos, o título deste post parece uma contradição inerente.

mas ano passado tive o prazer de conviver com um arquiteto argentino cuja sinceridade (na obra e na vida cotidiana) é absolutamente arrebatadora.

Gerardo Caballero vive em Rosário, cidade cuja posição relativa lembra a minha Belo Horizonte (mas vale lembrar Buenos Aires representa algo como Rio e São Paulo e Brasília fundidos numa só cidade).

trabalhando em Rosário desde meados dos anos 80 com constantes passagens por universidades norte-americanas, Caballero desenvolve uma prática de pequena escala, de novo bem parecida com os melhores escritórios de BH, POA e Recife.

mas não foi o paralelo com a mineiridade que me fez admirar sua obra, e sim a sinceridade expressa em seus desenhos, a forma direta e clara com que se manifesta materialmente e o discurso simples, sem efeitos ou rebuscamentos intelectuais, de quem sabe o que está fazendo e busca incessantemente fazê-lo melhor a cada dia, a cada novo desenho.


fica aqui no post de hoje um pequeno elogio a esta arquitetura da sinceridade.