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Sunday, July 31, 2011

hoje no estadão




Estado de São Paulo, hoje, 31 de julho de 2011

Friday, December 10, 2010

o insustentável Libeskind

texto novo no ArqBacana,
tem mais comentários lá do que todo o ano de 2010 aqui,
cadê vocês todos?

boas festas,

F.

Monday, January 11, 2010

santiago perez

eu queria estar em Salvador esta semana para participar do juri do concurso do Teatro Castro Alves mas como não pude me livrar de compromissos acadêmicos aqui no Texas cá estou eu pensando em formas de juntar fabricação digital, sustentabilidade e sensibilidade social no mesmo projeto.


nesse sentido vale a pena conhecer o trabalho de Santiago Perez aqui em Houston que busca exatamente isso: usar as tecnologias digitais de forma a resolver de forma sustentável o problema da habitação. Veja tambem a parceria de Santiago com Bill Massie que já foi assunto aqui no parede.



I would rather be in Salvador this week working as a juror for the Castro Alves Theater competition but since academic obligations kept me in Texas I am here ruminating about digital fabrication, sustainability and social awareness.


in that sense it is worth checking the work of Santiago Perez here in Houston, attempting to do exactly that: to use digital fabrications to solve the issue of housing in a sustainable manner. It is also worth checking his partnership with Bill Massie that was already profiled here before

Tuesday, December 1, 2009

Gyong-Gi provincial government bldg competition

voltei da Coréia do Sul com o concurso na cabeça, claro, e escrevi três posts diferentes que foram rejeitados por diversas razões. Acabei resolvendo que seria melhor me expressar pelo desenho, assim evito indiscrições ou deslumbramentos de qualquer natureza.


as imagens abaixo (contexto + três finalistas: Rogers, Lee, Park) dão um resumo da minha leitura e indicam a direção de algumas das principais conversas entre os membros do júri. O resultado final pode ser lido aqui e não cabe a mim neste momento esmiuçar nenhum dos argumentos mas sim registrar a intensidade e a pluralidade das propostas e dos debates.


o resto fica por conta da imaginação de vocês até que possamos conversar a respeito numa mesa de bar.



o contexto / the site




Seung Hong Park




Richard Rogers




Sang Leem Lee


I came back from Korea thinking about the competition and wrote three different posts, all rejected. Instead I decided to use my analytical drawings to avoid indiscretions or infatuations of any nature.


the images above (site + three finalists: Rogers, Lee, Park ) summarize my analysis and indicate the route of some juri conversations. The final results can be read here and I think I should not elaborate any of the arguments but indeed register the intensity and the plurality of the proposals and the subsequent debates.


everything else belongs to your imagination until we can discuss it personally over good food and drinks.

Monday, November 16, 2009

raquel rolnik

na mesma semana em que alunos brutamontes de uma universidade desastrada trouxeram a tona o direito das mulheres de fazer da vida delas o que bem entender, a colega juliana m. puxou minha orelha, e com razão.


depois de escrever 3 posts sobre a invisibilidade das mulheres arquitetas eu organizei uma exposição de arquitetura mineira na coréia e lá constavam apenas 2 moças entre 14 rapazes.


o problema é sério. O trabalho das mulheres tende a ser invisível e é preciso esforço para mudar esse quadro. No meu caso, deliberadamente tentei encontrar obras projetadas por mulheres em Minas e discutí várias vezes, comigo mesmo e com colegas, se cromossomos XX ou XY era critério válido para a seleção.


acho que dá pra concordar que da mesma forma que é absurdo excluir por causa do gênero também não se justifica escolher alguém pelo mesmo motivo apenas. Mas como nas boas políticas de inclusão, é importante estar atento para a questão, no nosso caso buscar dar visibilidade a mulheres arquitetas e seus trabalhos excepcionais.


então aqui vai minha contribuição nesse sentido. Não ví nada da grande mídia brasileira (o que comprova minha tese da invisibilidade) mas nas últimas semanas a Profa. Raquel Rolnik, da FAUUSP, esteve viajando pelos EUA como observadora da ONU, com a missão de entender o problema habitacional deste que é o país mais rico do planeta. As conclusões (bem como a hostilidade de parte da imprensa Americana) são estarrecedoras.


vale seguir aqui, aqui e aqui o fantastico trabalho da Profa. Rolnik que merece toda visibilidade possível.




in the same week when hooligans in a second-rate university in São Paulo brought to the forefront the old issue of women’s right to do whatever they want with their bodies my blog colleague Juliana M blasted me, and for a reason.


after writing 3 posts on the invisibility of women architects I organized an exhibition of Brazilian architecture in Korea with only 2 young women and 14 men consisted. The issue is serious to me and if the work of women tend to be invisible we need to make an extra effort to change this picture. In this case I deliberately tried to find exemplary designs by women architects of Minas Gerais and discussed with others if chromosomes XX or XY were valid criterion for the selection. I think we can agree that in the same way that is nonsense to exclude somebody because of gender it is also not the best idea to choose someone for gender reasons only.


but as in the best affirmative action polocies it is important to be aware of the issue, in our case to make visibility the fantastic work of many women architects.


so here is my contribution in this direction: the big Brazilian media did not report but in the last 3 weeks Prof. Raquel Rolnik from the University of São Paulo School of Architecture was travelling around the U.S.A. as observer to the UN, to report on the striking housing troubles of the richest society in our planet.


the conclusions (as well as the hostility of part of the American press) are scary.


one can check here, here and here the fantastic work of the Prof. Rolnik that deserves as much visibility as possible.

Monday, June 1, 2009

global apartments book

esta semana marca o lançamento de mais um livro, desta vez uma produção do grupo de pesquisa que liderei em Michigan. O Global Apartments Research Group surgiu da convergência de vários interesses. Eu queria aprender sobre apartamentos em diferentes partes do planeta e os alunos que vinham de diferentes países estavam empolgados por finalmente encontrarem um professor interessado no ambiente construído contemporâneo de seus países de origem. Durante quatro anos nos reunimos duas vezes ao mês durante o calendário acadêmico para discutir edifícios multi-familiares em 13 países diferentes (Brasil, Costa-Rica, Índia, México, Egito, Finlândia, Itália, Coréia do Sul, Rússia, Alemanha, Estados Unidos, Turquia e Japão.


juntos aprendemos que os apartamentos são na realidade muito semelhantes, apesar de serem construídos em diferentes partes do mundo e de abrigarem famílias tão diversas quanto as brasileiras, egípcias e coreanas. Em 2006, uma bolsa do Office for the Vice President for Research (OVPR) da Universidade de Michigan possibilitou que eu organizasse esses dados de uma forma mais produtiva e promovesse o trabalho de alunos na análise de dados, alguns dos quais transformaram-se em capítulos para este livro.



o objetivo principal foi investigar o grau de semelhança entre esses edifícios, ou se as semelhanças são mais visuais do que sensoriais. A idéia inicial é que embora as fachadas desses edifícios aparentem ser relacionadas, as práticas habitacionais mais tradicionais ainda prevalecem na maneira como as pessoas se apropriam desses espaços. O livro pretende então investigar os meios e as maneiras como esses espaços modernistas (tão semelhantes) são usados em diferentes culturas (tão diversas).



com o transcorrer do século XX, a habitação nas áreas urbanas se homogeneizou dramaticamente ao redor do mundo. Os edifícios residenciais de São Paulo são hoje muito semelhantes aos de Seul, Moscou e Chicago. O livro lançado esta semana reúne trabalhos de vários alunos e colegas que são referência para o grupo de pesquisa que eu dirigi em Michigan entre 2004 e 2009.



o livro está disponível aqui na versão impressa (U$ 15.97) ou download (U$ 1.99)





this week marks the arrival of another publication, this one organized by the research group I led in Michigan. The Global Apartments Research Group was born from this convergence of interests. I was very curious to learn about apartments in different parts of the planet and many international students were excited that, at last, a professor was interested in the contemporary built environment of their native lands. For 4 years (2005-2009) we met regularly (twice a month for most of the academic year) and discussed multi-family housing solutions in 13 different countries (Brazil, Costa-Rica, India, Mexico, Egypt, Finland, Italy, South Korea, Russia, Germany, US, Turkey, Japan).


together we learned that the apartments are indeed very similar, despite being built in opposing parts of the world and housing families as diverse as Brazilians, Egyptians or Koreans. In 2006 a grant from Michigan’s Office for the Vice President for Research (OVPR) allowed me to organize the data collection in a more productive way and support student summer work on analyzing parts of the data, some of which became chapters in this book.


the main goal was to investigate the extent to which those buildings are or are not alike, or whether the similarities are more visual than experiential. The idea is that, although apparently related on the façade, more traditional ways of inhabiting still prevail in the way people appropriate these spaces. The book then investigates the means and the forms by which those modernist spaces (so comparable) are appropriated by local cultures (so diverse).


as the 20th Century progressed, urban housing became quite homogenized throughout the world. Apartment buildings in Sao Paulo are very similar to those in Seoul, Moscow, and even Chicago. It is clear that the modernist architectural vocabulary made famous by the so-called “International style” has gone much beyond corporation identity buildings and prevails in the housing sector in most of the urbanized world.


the book is available here in print form (15.97) and download (1.99)

Sunday, January 4, 2009

quem tem medo da pré-fabricação?



a capa da revista Dwell deste mês traz Bill Massie e sua casa de Crambrook, já resenhada aqui no Parede em outubro passado. A Dwell no entanto reforça todos os problemas que eu percebo quando a elite arquitetônica (ou a arquitetura elitista) tenta se apropriar dos processos de fabricação em massa.

o título do artigo “Massie Produced” , já faz o trocadilho com o nome do arquiteto e a tão temida idéia de mass-production que tanto assusta os arquitetos.

e cabe aqui perguntar porque? porque a idéia de produção de edifícios em escala industrial assusta tanto?

em pleno século XXI, depois de um século de Fordismo, me parece ilógico pensar que a produção em série é um fantasma ameaçador que venha a destruir a arte e a magia da arquitetura. Tudo bem que os Fords e Fiats da nossa era não tem lá nenhuma magia, mas os Audis, BMWs e Lexus são fabricados com a mesma lógica, só que com mais capricho. Exclusividade e artesania mesmo ficam por conta das Ferrari e Lamborghini que ninguém em sã consciência proporia como representantes do futuro da industria automobilística.

acontece que na arquitetura se passa justamente o contrário. Me lembro de uma conversa com Charlie Lazor, criador da Flatpack house, em que um colega insistia em colocar um limite onde a produção das casas deixaria de ser arquitetura. “Com 10 casas por ano você ainda pode dizer que faz arquitetura, mas quando chegar a 100, 200 casas seu trabalho passa a ser industralização”, dizia o tal colega. E Lazor, muito apropriadamente respondia: mas se as casas são todas desenhadas pelos mesmos arquitetos e construídas com o mesmo sistema construtivo desenvolvido por nós, porque elas seriam arquitetura se fizermos 10 e deixariam de ser arquitetura se fizermos 200?

não preciso dizer que eu concordo em número e grau com Charlie Lazor. Esta obsessão com a exclusividade e com a originalidade nos impede de alçar vôos mais altos e cumprir um papel muito mais relevante na sociedade.

o artigo da Dwell sobre a casa de Massie por exemplo explica todo o projeto de fabricação (que de produção em massa não tem quase nada) para argumentar que se trata de uma edificação única, uma peça de design by Massie com o precinho de 750.000 dólares.

não sei que tipo de produção em massa é essa? Para mim me parece muito mais uma peça de alta costura cujo valor, inquestionável, está na investigação e experimentação ali investidos.

o que me incomoda mesmo é o fato de que enquanto Lazor é descartado como não-arquitetura, o modelo de alta-costura de Massie e cia se faz cada vez mais dominante. E segundo este modelo os arquitetos vão seguindo a sina dos alfaiates: enquanto uma meia dúzia se torna gênio da alta costura, milhares se tornam operadores de máquinas em Bangladesh, Hanoi ou Shanghai.

Thursday, September 11, 2008

do parede para a AU



um post despretensioso de exatamente um ano atrás acabou se transformando em uma matéria mais elaborada para a Revista AU. Para tanto eu acabei entrevistando os arquitetos Stephen Kieran e James Timberlake que aliás foram super atenciosos e prestativos.

deixo aqui meu agradecimento a toda equipe da AU e em especial a Simone Capozzi pelo convite que me permitiu mostrar a arquitetura de Kieran e Timberlake construída aqui na minha Ann Arbor para colegas do Brasil inteiro,

o texto completo pode ser lido no site da AU

Wednesday, June 4, 2008

um ócio nada criativo


um pensamento me ocorre toda vez que ando pelo centro de Belo Horizonte: quando é que o Mercado imobiliário vai perceber que temos espaços fantásticos pouquíssimo utilizados nas áreas centrais de todas as grandes cidades brasileiras?

é como se a cidade fosse feita de camadas horizontais com nenhuma ou pouca relação entre elas.

nas calçadas falta espaço, milhões de pessoas circulando entre ambulantes, bancas, lojas, esperando ônibus e disputando espaço com os carros mesmo nas faixas de pedestre. Dentro das lojas o espaço também é escasso e esta primeira camada fervilha de atividade.

logo acima vem a camada das sobre-lojas, espaços usados para estoque e escritórios apertados. Ainda vivo mas sufocado pela falta de luz e ar.

e depois vem a camada que um dia foi nobre: andares e mais andares de edifícios bem ou mal projetados, a grande maioria dos anos 50 e 60 e precisando de alguns ajustes mas cuja super-estrutura poderia durar mais um século inteiro. E estes espaços agonizam com taxa de ocupação muitas vezes abaixo de 50%.

um verdadeiro tesouro desperdiçado como este aí da foto, o antigo edifício do Banco Mineiro da Produção, desenhado por Niemeyer nos anos 50 que por muito tempo foi Bemge e agora se encontra quase vazio.

agora que estamos aprendendo a conservar e reciclar quase tudo, quando é que vamos parar de desperdiçar arquitetura?

Sunday, May 4, 2008

faca de dois gumes


na semana passada a agência de classificação de risco Standard & Poor elevou o grau de investmento do Brasil e como conseqüência o Real se valorizou perante todas as moedas (perante o dólar já não é notícia) e bilhões de dólares ou euros devem migrar para o mercado brasileiro nos próximos meses.

mas quem são e o que fazem essas poderosas agências de classificação de risco que agem literalmente como a famosa mão invisível do mercado?

ou mais importante, o quão confiável são tais classificações?

junto com a Moddy e a Fitch, a Standard & Poor compõe as três principais agências especializadas em avaliar o risco de quase tudo. No mercado imobiliário dos EUA elas reinam absolutas e desenvolveram uma tabela com 8 tipologias diferentes: residencial unifamiliar, multifamiliar, comercial, escritórios e shopping centers são 5 dessas categorias, e não se consegue um bom financimento se seu projeto não se encaixar nos parâmetros deles.
ou seja, se você projetar uma casa ou um shopping center que não se encaixe no modelinho, pode se preparar para pagar juros de 10% ao ano ao invés dos costumares 5 ou 6 % da maioria absoluta dos financiamentos.

mas mesmo com todo esse controle elas erraram feio na análise dos chamados financiamentos sub-prime cuja implosão já causou perdas de 250 bilhões de dólares aos bancos e investidores que vão desde gigantes como o tal Bear Sterns à aposentadoria privada de quase todo mundo.

e porque erraram? porque os bancos que faziam os empréstimos no varejo para clientes cuja renda dificilmente seria suficiente para pagar as prestações não ficavam mais de uns poucos dias com a dívida. Juntavam alguns milhares de hipotecas em um pacote e as revendiam para outros bancos, sem antes contratar uma das agências de risco para “avaliar” o pacote. Com todo mundo ganhando gordas comissões a cada transação e ninguém fiscalizando vocês já imaginam o que aconteceu.

milhares de pacotes de hipotecas classificados como AAA (ou praticamente de risco zero) são agora moeda podre. O valor da casa caiu, as taxas de juros subiram, o morador ficou com uma dívida maior que o valor da casa e se mandou, perdendo tudo que investiu inclusive o próprio teto. E quem comprou esses papéis que deveriam ser seguríssimos ficou com uma casa abandonada nas mãos que vale pouco mais da metade do valor da dívida.

agora essas mesmas agências de risco avaliam o potencial de investimento de um país inteiro.

pra mim é uma faca de dois gumes. Da mesma forma que no mercado imobiliário risco baixo significa conformidade com uma certa tabela de tipologias, no mercado financeiro internacional risco baixo significa adesão a um certo número de parâmetros, e pode ter certeza que investimento em educação e pesquisa não conta, mas redução de benefícios previdenciários conta e muito.

a famosa mão invisível do mercado as vezes se suja tanto que fica bem visível, e a imagem não é nem um pouco agradável.

Sunday, April 27, 2008

luxúria imobiliária



House Lust é o nome do livro de Daniel Mcginn cuja tradução seria algo como “luxúria imobiliária. Mcginn é jornalista da Newsweek e no livro ele tenta explicar as razões psicológicas por trás da bolha imobiliária de 2002-2005 nos EUA. Percorrendo lançamentos imobiliários de 600 m2 cujo preço inicial é de 1 milhão (podendo ir a 5 milhões em algumas áres de New York ou San Francisco).

escrito em 2007, o livro já indicava que esta bolha imobiliária estava para estourar e que muita gente ia acabar devendo mais do que o valor da casa assim que as taxas de juros subissem e o mercado esfriasse.

mas o interessante do livro de Mcginn é quando ele começa a tentar entender porque alguem que vive bem em uma casa de 300 m2 fica obscecado em se mudar para uma casa de 450 m2 e 1 milhão a mais.
por exemplo, em um dos capítulos Mcginn discute a idéia de que muita gente busca se dispõe a pagar muito mais por uma casa nova, como se imóvel fosse um carro e o “cheiro de novo” fosse um valor de uso. Acontece que carros tem uma vida útil de 10 anos, talvez 15, enquanto casas tem uma vida perfeitamente útil de no mínimo 60 anos, talvez 100, muitas vezes 200.

e o argumento usado para explicar esta obcessão a casa nova é de que as pessoas não gostam da idéia de que alguem já usou aquele banheiro ou deixou marcas de gordura na parede da sala de jantar.
mas como na comparação com os carros, os especialistas sabem que o semi-novo, aquele carro de 1 ou 2 anos com menos de 20 mil kilômetros é de longe o melhor custo-benefício, assim como aquela casa ou apartamento de menos de 10 anos, cujo valor já caiu um pouco ao mesmo tempo em que a infra estrutura não deve dar problema nas próximas décadas.

e quanto a supervalorização do novo, pra mim isso é uma mal disfarçada fixação com a idéia de pureza ou virgindade. Pureza que aliás é um conceito inventado artificialmente para reforçar a exclusão daquilo que não é considerado “puro”.

portanto cuidemos bem das nossas casas velhas (principalmente as modernas senhoras de 1950), que como escreveu o Quintana, é onde reside a melhor arquitetura.

Monday, March 31, 2008

dois brasis

ontem, na dita conferência do MIT sobre concreto, foram duas as apresentações sobre o Brasil, e não poderiam ser mais contrastantes.

pela manhã, apresentei minha análise da elegante e coerente obra de Paulo Mendes da Rocha, ressaltando sua contribuição individual em paralelo com uma evolução coletiva da arquitetura brasileira em geral e paulista em particular.

duas horas depois, apresentava o Sr. Robert Boulard, executivo de uma empresa canadense chamada BPDL ou Beton Pre-fabriques du Lac. E o que faz a BPDL? Fabrica peças pre-moldadas de concreto decorativo que imitam pedras, motivos florais e capitéis gregos, usados extensivamente em obras de restauro e conservação mas também nas edificações neo-neoclássicas pelo mundo a fora. E por incrível que pareça o maior cliente da BPDL nos últimos anos tem sido o mercado imobiliário de São Paulo. Tanto que a BPDL inaugurou a pouco tempo uma fábrica alí e o Sr Boulard, com a melhor das intenções, se referiu várias vezes à minha apresentação para confirmar que o operário brasileiro, apesar de ter pouca instrução formal, domina um enorme conhecimento empírico sobre concreto, agregados, formas, aditivos, ferragem e etc...

de certa maneira, a triste impressão que fica é a de que nossos talentosos arquitetos dos anos 40, 50 e 60 desenvolveram todo este conhecimento técnico-construtivo sobre o uso do concreto para ser agora usado nestes pastiches neo-clássicos que, como nossa premiada proposta no concurso da ponte da Daslu já denunciava, provavelmente significa uma saudade recalcada dos tempos da escravidão.

eu sei que existem vários brasis e que a diversidade é uma das nossas maiores riquezas, mas esse brasil nouveau-rich cliente do Sr. Boulard é duro de aguentar.

quando contrastado com o Brasil de planta livre e peito-aberto desenhado por Artigas e Mendes da Rocha é ainda pior, deixa o gosto amargo de saber que nossos ideais já foram muito melhores.

Friday, February 15, 2008

vanguarda coreana

ano passado fiquei fã de carteirinha da nova arquitetura sul-coreana,

hoje então vou só repassar o link para o blog da Vanessa , deixa ela mostrar o que eles tem inventado por lá.

vale a pena ver

Thursday, February 7, 2008

werner sobek



o nosso programa de doutorado aqui em michigan está promovendo este semester um simpósio com três renomados professors das areas de tecnologia, projeto e teoria, nesta ordem: Werner Sobek, Jonathan Hill e Reinhold Martin.

sobek abriu a série na segunda passada, e não poderia ter sido melhor. Arquiteto-engenheiro da tradição alemã, Sobek é discípulo de Frei Otto e hoje coordena o instituto fundado por Otto em Stuttgart.

parceiro de Norman Foster e Helmut Jahn, Sobek tem também um escritório próprio de consultoria em estrutura e materiais, com filiais em New York, Moscow, Cairo e Khartoun (eu confesso que não sabia direito onde na África ficava esta cidade, mas é a capital do Sudão.

mas a principal lição de Sobek, além da memorável prática internacional, é a busca constante do casamento perfeito entre a estética e a técnica. O que fica visível na sua casa por exemplo, a primeira construção 100% carbon-free na alemanha, uma caixa de vidro aquecida e/ou resfriada por um sistema a base de água que circula no subsolo, aquecendo no inverno a 12 graus e resfriando no verão a 25 graus sem nenhuma intervenção mecânica. Se alguem lembrar acertadamente que 12 graus não é nem um pouco confortável para sair do banho por exemplo, a casa tem também um sistema de placas foto-voltaicas que geram energia suficiente não só para aquecer a água como também para aquecer o banheiro e o closet. A cama se aquece com cobertores e na sala usa-se um suéter. Segundo Sobek, este deveria ser o paradigma da conservação de energia: metade tecnologia já existente, metade mudança de hábitos.

ah, mas faltou falar de algo também muito importante: a casa é linda, os detalhes são impressionantes, a beleza alida à performance, como nos melhores carros alemães – BMW e Porshe, não coincidentemente projetados e testados em Stuttgart.

Monday, January 14, 2008

ainda 40 Bond




não há como passar incólume na frente de um edifício desses, 40 Bond parece despertar reações até nos mais distraídos.

moda passageira ou tendência processual, as superfícies customizadas via computador estão na minha opinião só começando. Interessante seria observar se vão continuar sendo um revestimento luxuoso ou se vão se incorporar de vez no processo de desenho e construção.

mas hoje de manhã recebi um e-mail de uma colega em NY, Rachel Villalta que me deixou ainda mais intrigado. Duas semanas atrás nós conversávamos justamente sobre este edifício e o que ele representa, e Rachel resolveu investigar mais de perto. Com olhos de arquiteta brasileira e norte-americana ao mesmo tempo, ela descobriu esta planta no site promocional do prédio.

para surpresa de Rachel e agora minha também, esta unidade 9A (das maiores e mais caras) tem duas portas de acesso, o que é raríssimo por aqui em apartamentos. O que é ainda comum no Brasil e em outras regiões de similar desigualdade (diga-se de passagem, desaparecenco aos poucos) é tido como desperdício de área por aqui e quase sempre interpretado, corretamente, como marca de preconceito arraigado no espaço construído.

em defesa de Herzog e De Meuron cabe dizer que ambas as portas levam à sala principal e não à cozinha ou à área-de-serviço,aqui substituída por máquinas no utility closet que se vê no corredor.

por que então duas portas? Uma para o ir e vir do dia a dia, e outra para impressionar as visitas com a grandiosa “entrance gallery”?

complexo, e para mim cada vez mais alinhado com a sociedade do excesso , da exuberância e da contradição que caracteriza tão bem este início de século XXI.

obrigado Rachel pelo achado, global apartments agradece.

Saturday, December 22, 2007

prefeito furacão



a história se repetindo é sempre interessante, as vezes trágica, as vezes ridícula. Na Coréia do Sul o ex-prefeito de Seoul e ex-executivo da Hyundai, Lee Myung-Bak, foi eleito presidente na semana passada com uma votação expressiva e uma enxurrada de dúvidas sobre seu comportamento ético.

mas o que me chamou a atenção foi seu apelido: bulldozer ou "demolidor". Lee Myung-Bak foi prefeito de Seoul no final dos anos 90 e ficou famoso pelo projeto Cheonggyecheon. Um rio urbano que havia sido canalizado nos anos 70 (tinha inclusive um viaduto tipo minhocão por cima) e foi reaberto, teve suas águas tratadas e agora é um parque linear no meio da frenética Seoul.

eu confesso que adoro a idéia: abrir todos os rios urbanos e transformá-los todos em parques lineares cortando as cidades, com águas limpas. Todos ganham: a população ganha um parque com o barulhinho da água; a natureza ganha um pequeno oásis no meio da cidade para pássaros e insetos; a infiltração de água no solo melhora o micro-clima e evita enchentes nas areas baixas; e o prefeito – bem o prefeito vira presidente da república.

como em todo o mundo, nem tudo são flores: Lee Myung-Bak é acusado de ser próximo demais dos empreiteiros (era CEO da Hyundai Construtora), e a água em Cheonggyecheon é bombeada do rio Han porque tratar o esgoto dos edifícios tornaria o projeto inviável financeiramente.

mas seguindo a estrada aberta por JK nosso prefeito furacão, Lee Myung-Bak se tornou presidente usando como plataforma a fama de construtor (ou demolidor no seu caso), uma receita que continua rendendo frutos e semeando polêmicas: deixe sua marca no espaço. Não fosse a situação crítica da segurança pública na Colômbia e eu apostaria em Enrique Peñalosa como o próximo da fila.

Monday, December 10, 2007

lições de capitalismo a la yankees


muito já foi escrito sobre o fato de que a economia norte-americana foi feita de inúmeros calotes e falências, e que o respeito aos contratos só vale quando interessa aos grandes.


pois o modelo econômico de Alan Greenspan (diretor do Fed entre 1987 e 2006, nomeado por Reagan mas mantido por Clinton) e sua ênfase no endividamento fácil que por sinal sustenta o consumo parece ter criado mais um desses momentos com a chamada crise dos financiamentos imobiliários sub-prime.

resumindo a ópera em dois parágrafos temos mais ou menos o seguinte: entre 99 e 2000 quando a bolha dot.com começou a estourar, Greenspan já de olho na eleição de Bush facilitou a injeção de bilhões no mercado imobiliário como forma de evitar uma recessão mais dolorosa. A migração de recursos para a carteira de imóveis provocou um aumento de preços sem precedente. Entre 2000 e 2004 qualquer casinha nos EUA estava valorizando ao ritmo de 10% ao ano no mínimo, em algumas cidades como São Francisco, Chicago, New York e partes da Florida muito mais que isso. Com as casas valorizando nesse ritmo e a oferta de crédito facilitada um número gigantesco de norte-americanos refinanciou seus imóveis, vendendo para os bancos a valorização (equity) de suas casas em troca de cash para continuar consumindo. O aumento de preços (não acompanhado pelo aumento de salários, muito pelo contrário) começou a apertar a classe média que precisava de casa para morar mas não podia pagar meio milhão por um apartamentinho a 50km de distância de Manhattan ou qualquer outra cidade hipervalirizada. É ai que entra o tal subprime. Trata-se de um financiamento de alto risco onde o mutuário pagaria uma taxa baixa nos três primeiros anos (explicitamente chamada de teaser ou isca) e depois teria os juros aumentados acima da flutuação normal da taxa básica para compensar. Em vários ARM (adjustable rate mortgages) o mutuário não paga nada do principal nos primeiros anos, só os juros, como forma de baratear a prestação mensal.

o pesadelo começa quando as casas deixam de se valorizar ou mesmo desvalorizam como vem acontecendo nos últimos 24 meses. O mutuário que não está pagando o principal deve exatamente o mesmo valor que devia 2 anos atrás, sua casa vale menos (queimando a entrada paga ou indo diretamente para o vermelho) e a taxa de juro está programada para subir acima do normal dentro de alguns meses.
o resultado: 18% desses mutuários tipo ARM já atrasou pelo menos uma prestação em 2007. Caso não consigam pagar a casa volta para o banco e vai ao leilão. O fato de algumas casas na vizinhança estarem indo a leilão derruba ainda mais o preço de todas as outras e temos um efeito dominó que, especula-se, pode colocar o mundo numa recessão de 2008.

isso porque o consumo desenfreado norte-americano sustenta a expansão da manufatura chinesa tanto quanto o agro-business brasileiro e o mercado de commodities em geral.

a saída proposta semana passada pelo governo Bush foi uma espécie de acordo de cavalheiros com os bancos de forma a frear o aumento das taxas dos financiamentos ARM e assim dar uma sobrevida ao sistema todo.

eu não tenho nehuma ilusão quanto à famosa mão invisível do mercado e acredito que ela só entra em ação para proteger os interesses dos grandes contra milhões de pequenos. Mas ao mexer nos contratos desta maneira o goveno Bush está recompensando mutuários que compraram casas maiores ou mais caras do que podiam pagar e banqueiros que emprestaram de forma predatória para quem não teria mesmo como pagar. Os milhões de outros que tomaram a decisão certa de comprar o que lhes cabia estão pagando pela imprudência de uns e pela ganância de outros.

continuar insistindo no endividamento como forma de manter a economia girando não me parece tambem nem um pouco sustentável mas vale lembrar que a economia norte-americana foi formada por calotes históricos e quebradeiras homéricas,

as nuvens vão se acumulando no horizonte, resta saber se a tempestade cai aqui ou depois da serra.

Tuesday, November 20, 2007

o desenho como linguagem




na última quarta-feira meu studio aqui em Michigan recebeu a visita de 6 alunos da Chung-Ang University de Seoul, Coréia do Sul. Mais pro final de dezembro prometo mostrar o resultado do estúdio, o primeiro da graduação, que este ano tem como projeto final (6 semanas) um edifício sede de uma ONG que trate da questão das águas urbanas.

qualquer semelhança com o studio toró não é mera coincidência.

mas o assunto do post de hoje é o desenho como linguagem. Me fascina pensar que entre 2 a 3 milhões de indivíduos espalhados por esse planeta a fora comungam de uma linguagem em comum: o desenho arquitetônico.

desenvolvido a partir da Europa nos últimos 400 anos e sistematizado por Durand e cia na Ecole Polytechnique a cerca de 200 anos atrás, as convenções de representação espacial que comumente chamamos de desenho arquitetônico se espalharam pelo mundo, unificando a representação gráfica do espaço a ser construído e levando nas costas todo um sistema espacial intimamente ligado à modernidade.

por isso quando pesquisamos a homogeneização das tipologias arquitetônicas (ver Global Apartments Research Group) é fundamental entender o desenho arquitetônico como vetor desta contaminação.
mas o que isso tem a ver com a visita dos alunos coreanos?
é que diante da barreira da língua o desenho toma uma importância muito mais central. Quando faltam as palavras, os traços sobre o papel comaçam a falar mais alto e tomam conta da conversa.

é a linguagem do desenho aproximando arquitetos de cantos opostos do mundo

Tuesday, November 6, 2007

gadgets?




eu não costumo me entusiasmar muito com tecnologias, menos ainda com gadgets eletrônicos incorporados no envelope das edificações, mas confesso que fiquei impressionado com o trabalho da firma Shen, Milson & Wilke no ovo digital que envolve o Grand Lisboa Casino em Macau, China.

como explicou Fred Shen, a estrutura é recoberta de espelhos e milhares de LEDs coloridos que apesar de ocuparem apenas 2,5% da superfície, são capazes de formar qualquer imagem a distância graças aos espelhos.

por enquanto ainda me parece um artifício para chamar a atenção, mas neste caso começa a induzir transformações na própria espacialidade.


nas mãos de arquitetos mais instigantes pode ser um instrumento interesante, o que vocês acham?

Tuesday, October 23, 2007

furacão Teddy Cruz



Teddy passou por aqui, deu uma palestra ontem para um auditório lotado, tomou café hoje com alguns professores conversando sobre a necessidade da arquitetura investir em diversidade (ainda somos uma profissão de homens branquinhos, apesar dos lentos progressos), almoçou com um grupo de alunos e se mandou para NY, para daí voltar correndo pra San Diego antes do final da semana pra ver se sua casa não pegou fogo.

conheço Teddy a uma década e ele sempre foi assim, apressado, multi-tasking, atencioso e um orador inflamado que consegue como ninguém levantar questões complexas de ordem social e ainda ensaiar uma resposta de ordem arquitetônica.

seu trabalho na fronteira entre San Diego (que ele chama de a maior gated community do mundo) e Tijuana é mesmo inspirador. Numa pesquisa quase antropológica, Teddy vai fundo na análise das trocas entre o capital norte-americano e o trabalho mexicano para entender como estas transformações repercutem na arquitetura. A partir daí ele movimenta ONGs, associações de bairro e até o departamento de planejamento urbano da cidade, em busca de uma arquitetura mais socialmente responsável sem deixar de ser esteticamente avançada.

ano passado ganhou um premio importante do CCA (canadian center for architecture), tem sido chamado para quatro em cada cinco bienais e este ano viu seu trabalho ganhar as páginas do New York Times.

vale a pena ficar de olho em Teddy Cruz