Monday, June 30, 2008

less is more again

voltando ao assunto das tendências urbanísticas do século XXI, vale a pena conhecer o plano de Dessau, a mesma Dessau da Bauhaus que vem encolhendo desde antes da re-unificação germânica e que agora com ajuda da velha escola de Gropius transformada em instituto lidera o movimento das cidades encolhidas (shrinking cities).

“Dessau itself (...) had two distinctive features. One, as Karl Gröger indicated from the sausage-factory lookout, is that it is surrounded by protected national forest. The other is that it has no historic town center (80 percent of the city was destroyed in World War II) and thus no core. The plan, therefore, calls for demolishing underused sections of the city and weaving the nature on the periphery into the center: to create “urban islands set in a landscaped zone,” as Sonja Beeck, a Bauhaus planner, told me. “That will make the remaining urban areas denser and more alive.” The city has lost 25 percent of its population in recent years. “That means it is 25 percent too big,” Gröger said. “So far we have erased 2,500 flats from the map, and we have 8,000 more to go.” Beeck and Gröger walked with me through an area where a whole street had been turned into a grassy sward. Many residents were dubious at first, they told me, but as we walked, a woman recognized the government official and marched up to chat about when promised trees and flowers would be planted in front of her building”. NYTimes, 29 de junho de 2008

ruas se transformadas em jardins, viadutos desmontados, predios inteiros demolidos para trazer a natureza de volta enquanto as cidades encolhem de maneira planejada.

acho que vale a pena prestar atenção nisso.

Friday, June 27, 2008

ainda New York City




Guimaraes Rosa (cujo centenário se comemora hoje como bem lembrou o Marcão)escreveu o seguinte no Grande Sertão: “O senhor vê: existe cachoeira?; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma?”


continuando nossa conversa sobre New York City, vale a pena ver este video da instalação que Olafur Eliasson e o Public Arts Fund acabam de inaugurar naquela cidade.


pois é Rosa, o homem fez não apenas uma mas quatro cachoeiras só com água, sem barranco.


viver é mesmo muito perigoso


Thursday, June 26, 2008

um parque a 10 metros do chão




semana passada tivemos uma boa discussão aqui nesse blog sobre se New York continuava sendo ou não um modelo de cidade para o século XXI.


eu até que me posicionei de forma um pouco cética afirmando que New York ainda era influente mas que outros modelos já em formação hão de se consolidar no futuro.


mas não é que hoje, olhando as imagens para o parque do high-line, fiquei admirado mesmo com a capacidade de New York City de se reinventar.


a cidade que já é um exemplo de densidade, diversidade e ênfase no transporte público de massa ganha agora um parque linear elevado, implantado em cima de uma linha férrea desativada.


o projeto do high-line foi objeto de um concurso ganho por Diller, Scofidio + Renfro em 2004 e está sendo implementado aos poucos. Quando completo, ligará 20 quarteirões no lado oeste de Manhattan. Mais informações aqui


e se existe uma tendência predominante neste início de século XXI é a implementação de parques e jardins em áreas residuais, gerando um novo layer de espaços peatonais sobrepostos ao tecido da cidade. No caso do high-line em New York isto se dá de maneira literal uma vez que os novos espaços públicos estão a cerca de 10 m do chão.


cá entre nós, enquanto o etanol der sobrevida ao transporte sobre rodas, que tal usarmos as nossas vias férreas abandonadas ou sub-utilizadas para cortar as cidades com novos parques e espaços públicos de lazer?

Monday, June 23, 2008

cadê os arquitetos e urbanistas?



imagem by studio teddy cruz


um artigo de Jim Lewis no New York Times de 8 de junho sobre a crise da habitação (principalmente a partir do problemas dos refugiados de toda natureza) é tão bom que merece ter alguns parágrafos citados aqui na íntegra, principalmente no que se refere à pergunta que dá título a este post.


Refugee crises are usually seen as a stark example of the more general problem of disaster relief, which is similarly urgent though in crucial ways different. (Hurricanes, earthquakes and the like are usually over quickly, the affected population remains near home and rebuilding can begin almost immediately.) But it may be more useful to see them in the context of the enormous new tide of urban migration, a trend that has created at least 26 cities worldwide with a population greater than 10 million.

This has created an ongoing housing emergency: megaslums, shantytowns, favelas, squatter’s colonies. There are 80,000 people living on top of a garbage dump in Manila; a population of indeterminate size — perhaps as many as a million — who sleep every night in the cemeteries of Cairo; homeless encampments in San Francisco, Atlanta and Houston; guest workers camped beside the towers of the Persian Gulf; migrant workers in the San Fernando Valley. They are all displaced people.

You may be asking where the architects are in all of this, the urbanists and city planners, the people who are trained to address this sort of thing. I asked, too, and it took me a while to find anyone.


There was a time when they were everywhere. Modernist architecture was created to be, among other things, a way of providing housing for the masses in buildings that were dignified, aesthetically pleasing, practical and inexpensive. The Bauhaus, at least under Walter Gropius, was committed to working-class housing, and Le Corbusier helped found the Congrès Internationaux d’Architecture Moderne to spread the notion of cities dotted with affordable residential towers across the world. The project failed, or perhaps it succeeded too well, in time degenerating into hideous and soulless apartment blocks. The emblem of that failure, the spectacular demolition of the Pruitt-Igoe housing projects in St. Louis in 1972, marks the end of Modernism as well as anything does


As the world’s population has grown and its disparities have become more evident, the needs Modernism addressed have become greater and more pressing, while most of our architecture continues to be built for the relatively well-off. Still, if you look hard enough, you can find a few strands of practice committed to housing the unhoused. There is a history and tradition that includes figures like Hassan Fathy, a Cairene architect who, starting in the 1930s, trained the poor of Egypt to build homes from mud bricks; Buckminster Fuller, with his geodesic domes; and Habitat for Humanity.

o texto inteiro pode (e deve) ser lido aqui no NYTimes.


Friday, June 20, 2008

Lelé contamina





quando se fala na obra do genial João Filgueiras Lima, o Lelé, sempre se destaca sua dedicação aos sistemas pré-fabricados para logo depois vir a ressalva: uma pena que não há continuidade, que ninguém mais usa tudo que ele desenvolveu.


pois eu discordo.

acabei de chegar de Salvador e depois de rodar pela cidade por 3 dias, vendo suas obras e tudo o mais que se tem construído por lá, fiquei felizmente surpreso de ver que Salvador usa mais pré-fabricação que qualquer outra cidade brasileira que eu visitei nos últimos anos.


na saída norte, desde a Av. Paralela até a estrada do coco que rasga Lauro re Freitas e segue para o litoral, são inúmeros os predinhos e galpõezinhos estruturados e fechados com placas, vigas e colunas em concreto pré-fabricado.


o que isso me diz é que Lelé fez escola sim, e deixa com certeza um legado riquíssimo para a sua Salvador. Mas obcecados que somos com a originalidade e a autoria, não percebemos uma disseminação maior que acontece ao largo das pranchetas dos arquitetos famosos.


basta imaginar quantos milhares de pessoas trabalharam nas obras com Lelé ao longo de todos esses anos. E estes todos, do engenheiro ao servente, ganharam uma familiaridade com os sistemas pré-fabricados que não existe em outras praças e faz de Salvador um caso muito especial.


oxalá Lelé

Monday, June 16, 2008

as águas do acaba mundo



apresentamos esta manhã os resultados do Brasil Studio para a Prefeitura de Belo Horizonte, com a presença do Sr. Prefeito Fernando Pimentel, dos secretários municipais Maria Caldas (urbanismo) e Rodrigo Perpétuo (relações internacionais) e da Profa. Jeanne Marie Freitas, coordenadora do curso de arquitetura da PUC-Minas.

o Brasil Studio foi uma parceria entre a nossa escola de Michigan, a Prefeitura de BH e a PUC-Minas, em que 12 alunos de mestrado em arquitetura da Universidade de Michigan trabalharam por 4 semanas no Brasil sob minha coordenação.

tomando como ponto de partida para a reflexão o problema das águas, seu manejo e conservação, bem como a necessária contribuição do ambiente construído – individual ou coletivamente considerado – para se alcançar a sustentabilidade, o studio pretendeu apresentar idéias provocativas, mas calcadas na realidade, para uma situação específica, a favela do Acaba Mundo, em Belo Horizonte.

o problema é até fácil de descrever. Em cada faixa de 10 m de largura caem num dia normal (20mm de chuva) 50m3 de água, e 40% destes ou 20m3 chegam ao córrego num tempo médio de 10min.

com a melhoria da renda da população e as obras de urbanização em curso, existe uma clara tendência de impermeabilização do solo. Se os espaços intersticiais forem cimentados como é nossa tradição ibérica, teremos o DOBRO de água descendo na METADE do tempo.

o trabalho do Brasil Studio aqui rapidamente apresentado foi de buscar soluções na escala da arquitetura e do desenho urbano para alguns dos problemas decorrentes dessa nossa relação conflituosa com as chuvas.



prometo colocar mais detalhes no blog no futuro próximo,

por hora encerramos os trabalhos em BH e partimos amanhã para Salvador, última parada dessa turma.

Wednesday, June 11, 2008

ainda as calçadas da democracia




a entrevista do Peñalosa no New York Times me fez pensar nas calçadas como expressão mesma do valor que damos à democracia, ou na expressão do ex-prefeito de Bogotá, ao espaço democrático por excelência.


a foto acima foi
tirada aqui no meu quarteirão em Belo Horizonte, onde a prefeitura tem cuidado de recapear as principais avenidas mas as calçadas, de responsabilidade dos proprietários de cada lote, ficam assim arrebentadas.




ou ainda na conversa do post anterior sobre a influência de New York como modelo para tantas outras cidades. Acontece que quando Detroit por exemplo estava fazendo tudo para facilitar a vida dos carros, New York apostou na densidade e na criatividade que emana dos encontros fortuitos entre as pessoas.


e esses encontros só acontecem nas calçadas.

e daí vem a minha pergunta, qual o modelo de cidade substituirá NY nas próximas décadas? qual cidade está construindo agora as calçadas que a tornarão referência do século XXI?

Sunday, June 8, 2008

para onde vai a arquitetura?


a revista do New York Times deste domingo é inteiramente dedicada a arquitetura.

vale a pena ler a entrevista com Enrique Penãlosa, ex-prefeito de Bogotá, um daqueles raros que entende o poder transformador das intervenções físicas na cidade sem se transformar em JKs tardios,


tem ainda uma entrevista bobinha com Bernard Tschumi, um artigo sobre Wini Mass e seu escritório MVRDV, um outro sobre o trabalho de reciclagem especial do grupo LOT-EK e um texto do Ourousoff em que ele tenta salvar uma certa importância de New York diante de tantas outras cidades globais emergentes neste início de século XXI (afinal de contas, ele trabalha para o New York Times)

mas o que me chamou a atenção foi o artigo sobre os “jardineiros guerrilheiros” de Londres e suas bombas de sementes, uma idéia genial pelo que tem de urgente (melhoria do ambiente urbano) e pelo uso das técnicas subversivas dos anos 70 que andam fazendo uma falta danada.

Wednesday, June 4, 2008

um ócio nada criativo


um pensamento me ocorre toda vez que ando pelo centro de Belo Horizonte: quando é que o Mercado imobiliário vai perceber que temos espaços fantásticos pouquíssimo utilizados nas áreas centrais de todas as grandes cidades brasileiras?

é como se a cidade fosse feita de camadas horizontais com nenhuma ou pouca relação entre elas.

nas calçadas falta espaço, milhões de pessoas circulando entre ambulantes, bancas, lojas, esperando ônibus e disputando espaço com os carros mesmo nas faixas de pedestre. Dentro das lojas o espaço também é escasso e esta primeira camada fervilha de atividade.

logo acima vem a camada das sobre-lojas, espaços usados para estoque e escritórios apertados. Ainda vivo mas sufocado pela falta de luz e ar.

e depois vem a camada que um dia foi nobre: andares e mais andares de edifícios bem ou mal projetados, a grande maioria dos anos 50 e 60 e precisando de alguns ajustes mas cuja super-estrutura poderia durar mais um século inteiro. E estes espaços agonizam com taxa de ocupação muitas vezes abaixo de 50%.

um verdadeiro tesouro desperdiçado como este aí da foto, o antigo edifício do Banco Mineiro da Produção, desenhado por Niemeyer nos anos 50 que por muito tempo foi Bemge e agora se encontra quase vazio.

agora que estamos aprendendo a conservar e reciclar quase tudo, quando é que vamos parar de desperdiçar arquitetura?