Showing posts with label cidades. Show all posts
Showing posts with label cidades. Show all posts

Saturday, March 17, 2012

paradigma do asfalto

meu texto que saiu na Revista Forum de janeiro, agora disponível online

Sunday, February 5, 2012

A direita ecológica

num texto publicado pela Revista Forum no mes passado eu dizia que a esquerda está correndo um enorme risco por não levar a sério a questão ecológica, investindo tudo no desenvolvimento a qualquer preço e podendo jogar a questão ambiental no colo dos conservadores.

pois já começou, ver O Globo de hoje

Friday, March 25, 2011

triste Detroit

todo mundo sabe que Detroit é uma cidade decadente mas a escala da destruição naquela que ainda é a cidade sede da Ford e da GM é de assustar. Na última década a cidade perdeu 25% da população e agora voltou a níveis da década de 1910, exatamente um século atrás

minha reflexão a respeito está aqui

Monday, September 13, 2010

passeio é pra pedestre

genial a iniciativa do Carlos Alberto Cândido de documentar todas as agressões e omissões tão frequentes no espaço público.

vale ver e contribuir aqui.

Monday, April 19, 2010

recall of bad architecture

essa é a idéia interessante de Jay Walljasper que pode ser lida aqui. Se um carro com defeito tem de ser consertado pela fábrica por colocar o passageiro em risco, porque erros de urbanismo ou arquitetura não podem ter o mesmo destino? Paredes cegas rente as ruas, elevados que causam enormes danos às comunidades ou mesmo a carta de atenas devem ser “recalled”. Começou como uma brincadeira de primeiro de abril mas torço para virar coisa séria, tá na hora da arquitetura e do urbanismo calcularem em seus custos os riscos para a saúde e o bem-estar alheios.



this is the great idea explained here by Jay Walljasper. If a car with a bad accelerator pedal needs to be brought back and fixed for potential risk, why not do the same with urbanism or architectural defects? Blind walls, wrong transportation schemes, even the Athens' Charter itself need to be recalled. It all started as a joke for April’s Fools day but why couldn’t it be serious? It is about time that architecture and urbanism factor in its costs the potential damage to everybody else in the city.

Monday, March 15, 2010

aguas de março /waters of march

o verão brasileiro vai acabando mas as chuvas ainda se fazem presentes. Semana passada dois videos chamaram muito a minha atenção. O primeiro enviado pelo Pedro Marteletto mostra o baixo gávea inundado exatamente ao mesmo tempo em que eu falava em New Orleans que temos um Katrina todos os anos na América Latina. O segundo enviado pelo Low Cançado mostra um absurdo desperdício de água. Imagens que valem mais do que mil palavras.







the Brazilian summer is fading but the rain insists. Last week two videos called my attention. The first was sent by Pedro Marteletto and shows a fancy part of Rio flooded exactly at the same time that I was speaking in New Orleans about the fact that we have destruction equivalent to one Katrina every year in Latin America. The second was sent by Low Cançado and show an absurd waste of water. Images worth a thousand words.

Monday, March 8, 2010

a história se repete como farsa / history repeating as a farce



acabei de chegar de New Orleans onde fui falar que na America Latina temos o equivalente a um Katrina todo ano, e foi bom ver a cidade vibrante, bem melhor que a 3 anos atrás.


entender os limites da arquitetura perante a natureza é fundamental para percebemos o que podemos e o que não podemos fazer através do desenho. Mas pior que errar por prometer demais ou prometer de menos é errar por insistir num conceito ultrapassado e enterrar milhões numa obra errada em todos os sentidos.


pois foi isso que fez o popular governador das Minas Gerais. Errou feio e deixa um trambolho como legado da sua administração. Começando pela decisão de criar um campus administrativo a 15 km do centro, idéia que já foi testada antes na Bahia e no Paraná com resultados pífios. No momento em que centenas de edifícios no centro de BH tem ocupação de 20% (loja e sobre-loja valorizados, o resto vazio), o governo do estado estimula o esvaziamento ao transferir dezenas de milhares de funcionários dalí. Apesar de ser a favor da transformação da Praça da Liberdade em equipamentos culturais (não acredito que prédios com segurança controlando a entrada possam ser mais públicos que um museu ou uma sala de concertos), a decisão de mudar a administração estadual para longe do centro é um erro que vai causar muito dano a BH (deslocamento, esvaziamento, isolamento) e vai demorar muito para ser amenizado.


outro erro grosseiro foi chamar Oscar Niemeyer para o projeto. Prezados colegas oficiosos, ninguém avisou o governador que a idéia era furada? Qualquer arquiteto decente sabe que o genial velhinho não tem equipe há décadas. Mas no centro administrativo de MG ele bateu todos os recordes: fachadas envidraçadas para nascente e poente, volumes primários, pé-direito de 2,40m em algumas partes. Dois anos atrás eu tive a chance de ver os desenhos que a construtora recebeu de Niemeyer e fiquei chocado com o nível primário das plantas e a absoluta ausência de detalhes. Tenho pena de quem vai trabalhar lá.


em resumo, na ânsia de se fazer o JK do século 21, Aécio Neves conseguiu fazer a história se repetir como farsa.



I Just got back from New Orleans where I spoke about the tragedy of having the equivalent of one Katrina every year in Latin America. It was good to see the city vibrant again, very different from the last time I was there 3 years ago.


to understand the limits of architecture is fundamental for us, to know what we can and what we cannot achieve from drawings. But much worse than promising too much or too little is to insist on a antique idea and bury millions on a project that is wrong in every count.


unfortunately that’s what the governor of my beloved Minas Gerais just did. His decision of creating an administrative campus 10 miles from downtown, something already deemed as a failure, was bad at the root and bad all the way. In times in which hundreds of downtown buildings are only 20% occupied (storefronts only mostly), the state government makes it worse by transferring 12.000 employees to this campus: that means more congestion, more abandonment, more isolation.


the second big mistake was to invite Oscar Niemeyer. I wonder why nobody in the governor’s circle told him what we all know: that the genial centennial has no team in the last 2 decades. And in this project he might have done the worse job of his long and productive life. Glass facades facing east and west??!!! Ceiling heights of 8ft in many rooms??!!! Two years ago I had the chance to see the drawings he delivered and I was chocked with how poorly detailed and undeveloped the plans were. I have pity on those who will work there.


in summary, anxious to become the Kubitcheck of the 21st century, Aécio Neves made history repeated as a farce.

Monday, March 1, 2010

walls

na semana passada a escola de direito aqui do Texas promoveu um seminário interessantíssimo sobre “walls”. Vale perceber que em inglês o termo serve para parede, muro, cerca, além de ser usado metaforicamente para significar tudo que nos divide e separa.


pois entre tantas apresentações fascinantes que discutiam desde as favelas até a política de imigração da união européia, passando claro pelas fronteiras EUA-México e Israel-Palestina, uma pergunta maior se desenhou:


parece que concordamos que as paredes em torno de uma família são extremamente necessárias, mas que qualquer parede em torno de um grupo maior é problemática. Em algum ponto na modernidade entendemos que a célula familiar tem direito absoluto a privacidade mas qualquer outra associação não. Se assim for, como lidar com grupos em que a noção de família implica um grupo maior que pais e filhos, ou com associações que se vêem como famílias estendidas.


em resumo, como saber quando as paredes estão protegendo ou quando estão excluindo?



last week the Law School here in Texas promoted a very interesting seminar on “walls”, meaning everything that divides us. Among many fascinating presentations that run from the favelas to the EU immigration policy, from US-Mexico to Israel-Palestine, one major question emerged:


we tend to agree that walls around a family are needed but any wall around a larger group is problematic. Somewhere on modernity’s course we understood that a family cell has absolute rights to privacy but other associations do not. If that’s the case, how should we deal with groups in which the idea of family goes beyond parents and children, or associations that see themselves as a extended family?


in summary, how can we know when a wall is protecting and when it is excluding?

Monday, February 15, 2010

desigualdade de violência / violence inequality

cá estou eu escrevendo sobre desigualdade, ciente de que quase ninguém vai ler porque é segunda-feira de carnaval. Enquanto todos os índices de desigualdade foram caindo ao longo do governo Lula, ainda não vi nada que mostrasse a queda da desigualdade da violência. Pelo contrário, enquanto os números da violência vem caindo nas áreas nobres, a redução é bem menor na periferia, indicando que a diferença entre a segurança dos ricos e a dos pobres vem aumentando na contra-mão da redução da desigualdade.


o tema é tabu, principalmente na esquerda (onde eu me posiciono). A tradição do pensamento de esquerda brasileiro culpa a desigualdade (e apenas a desigualdade) pela violência. Se assim fosse devíamos estar assistindo cair a violência no mesmo ritmo da desigualdade. Meu apelo é para que a esquerda invista numa política eficiente de segurança para que o tema não seja seqüestrado pela direita como é nos EUA (e vem sendo crescentemente no Brasil) e para que nunca mais um filho de catadora de lixo aprovado em primeiro lugar no vestibular da UFPE seja assassinado aos 22 anos, meses antes da formatura, só porque estava no lugar errado na hora errada.



I am writing on carnival Monday and much probably very few people will read this but while all the measurements of inequality have fallen during the Lula government I have yet to see something about the violence (spatial) inequality. Much to the contrary, while crime numbers are falling on wealthy areas, the reduction is much less visible in working class neighborhoods. That means that the spatial difference between a crime-ridden periphery and safe upper-class areas might be rising, not diminishing.


the topic is controversial, specially in the political left (where I locate myself). The Brazilian left tradition associates income inequality (and that only) to the growth in urban violence. If that was the case we should be seeing crime numbers falling at the same speed in which inequality is falling. My argument is for the political left to develop efficient proposals for public safety before the right takes hold of the conversation like happens in the US. All other efforts on diminishing inequalities might stall if violence inequality is not addressed. I am pleading here to save the lives of many other young boys like Alcides who was shot dead last week for being on the wrong place (his neighborhood) at the wrong time. Being the son of a garbage collector, Alcides got first place on the entrance examination at the Federal University of Pernambuco in 2007 and was supposed to graduate later this year.

Monday, December 14, 2009

Serra, as enchentes e a responsabilidade de cada um / urban flooding and everybody's resposibility

nunca achei que ia escrever isso mas Jose Serra tem razão, ainda que parcialmente, quando diz que a população tem uma parcela de culpa pelas enchentes. Só que o problema maior não é o lixo nos córregos, ou se fosse o Tietê não teria trasbordado (ou alguém acredita que é possível atravessar 8 pistas de carros a 90km/h para jogar fora um saco de lixo?)


a culpa de cada um de nós está no quintal. No meu, no seu, no de todo mundo. Na medida em que impermeabilizamos toda (ou quase toda) a area das nossas propriedades urbanas, estamos lançando uma quantidade enorme de água no sistema público que invariavelmente descarrega no Tietê.


vejamos os números: uma chuva como a do dia 4 de dezembro jogou 77mm de água sobre toda a cidade. Isso significa 23 mil litros por lote de 300m2 ou 770 mil litros por quarteirão de 1 hectare (10.000m2). Para segurar essa água toda cada quarteirão da cidade precisaria de um piscinão de 770m3 ou um lote inteiro de 12 x 30 m por 2 m de profundidade. Mais pode ser lido aqui.


em resumo, Serra tem razão ao apontar a responsabilidade individual mas erra grosseiramente ao apontar para o lixo nos córregos, culpando apenas as populações mais pobres que vivem nas beiras dos cursos d’água, quando a culpa é de todos, principalmente dos que pavimentaram a totalidade de seus quintais.



I never thought I would write this but Jose Serra, governor of São Paulo has some reason when he says that the population is partially to blame by urban flooding. But he is absolutely wrong on blaming only garbage dumped into streams when the problem is low permeability because we pave everything, sending enormous amounts of water into the public system.


let’s see the numbers: when 77 mm of rain falls on the city (as happened on December 4th) we get 23.000 liters for an average lot of 300m2 or 770.000 liters for a regular block of 1 hectare. To hold all that water each block of the city would need a reservoir of 770m3 or an entire lot of 30 x 12 m x 2m deep. More here.


in summary, Serra is correct to point towards individual responsibility but comes, again, quite elitist when he blames only the poor who live by the waterways when the responsibility falls on everybody, mainly those who paved the totality of property.

Monday, December 7, 2009

Curitiba fica longe de Coritiba?



a selvageria ontem em Curitiba fica ainda mais horrorosa quando se pensa na cidade “verde”, civilizada e planejada de Lerner, tão celebrada no Paraná e no exterior. Como na música de Caetano, alguma coisa está fora da ordem. Hoje apareceram nos jornais e nos blogs vários relatos de que a relação entre a elite paranaense e a população não vai muito bem (aqui). Curitiba revelou ontem uma fúria inesperada, as imagens tem algo de primitivo combinado com um discurso fascista.


enquanto isso o Rio de Janeiro explodia numa alegria tripla (quádrupla se contarmos a volta do Vasco). Parabéns ao Rio de todas as cores, torço para que os cariocas aproveitem esse momento único de alegria para retomar pouco a pouco sua cidade.


e torço também para que os críticos da autocracia e do autoritarismo curitibano sejam ouvidos. Os hooligans do Coritiba podem ter prestado, de forma criminosa, um favor a cidade.

Tuesday, December 1, 2009

Gyong-Gi provincial government bldg competition

voltei da Coréia do Sul com o concurso na cabeça, claro, e escrevi três posts diferentes que foram rejeitados por diversas razões. Acabei resolvendo que seria melhor me expressar pelo desenho, assim evito indiscrições ou deslumbramentos de qualquer natureza.


as imagens abaixo (contexto + três finalistas: Rogers, Lee, Park) dão um resumo da minha leitura e indicam a direção de algumas das principais conversas entre os membros do júri. O resultado final pode ser lido aqui e não cabe a mim neste momento esmiuçar nenhum dos argumentos mas sim registrar a intensidade e a pluralidade das propostas e dos debates.


o resto fica por conta da imaginação de vocês até que possamos conversar a respeito numa mesa de bar.



o contexto / the site




Seung Hong Park




Richard Rogers




Sang Leem Lee


I came back from Korea thinking about the competition and wrote three different posts, all rejected. Instead I decided to use my analytical drawings to avoid indiscretions or infatuations of any nature.


the images above (site + three finalists: Rogers, Lee, Park ) summarize my analysis and indicate the route of some juri conversations. The final results can be read here and I think I should not elaborate any of the arguments but indeed register the intensity and the plurality of the proposals and the subsequent debates.


everything else belongs to your imagination until we can discuss it personally over good food and drinks.

Monday, November 23, 2009

do outro lado do mundo / from the other side of the planet

como bem me lembrou Jaepil Choi, a Coréia fica exatamente do outro lado do mundo em relação ao Brasil, ou seja, estou literalmente no ponto mais distante do planeta e fico aqui até a quarta feira fazendo parte deste juri fantástico para escolher um entre estes arquitetos mais fantásticos ainda.


mas não posso deixar de anotar a expansão do curso d’água Cheonggye. Como já escrevi aqui há 3 anos, Cheonggye era mais um rio urbano canalizado e enterrado até que o atual presidente da Coréia do Sul, na época prefeito de Seoul resolveu quebrar uma via expressa elevada para abrir e recuperar o riozinho que agora é um parque linear, e cuja expansão a jusante é a manchete do jornal de hoje por aqui.


enquanto isso no México, na Inglaterra e no Brasil as manchetes são as enchentes causadas pelo péssimo tratamento dado às águas.


update nov 24: dois textos meus publicados esta semana na blogosfera, no blog do sarj e no arqbacana.




as reminded by Jaepil Choi South Korea is exactly opposite to Brazil, which means I could not be further away. Until Wednesday I am here as part of an amazing juri to chose one between those even more amazing architects.


what I can’t help but notice is the expansion of the Cheonggye stream. As I wrote here 3 years ago Cheonggye was a buried river when the current president of South Korea (at that time mayor of Seoul) decided to demolish an elevated highway to open and regenerate the small river which is now a linear park crossing the city. Its expansion is the main headline of the paper this morning.


meanwhile in Mexico, England or in Brazil the headlines are the flooding caused by mistreating urban waters

Monday, October 26, 2009

cidades sem fim? endless cities?


Ricky Burdett esteve aqui em Austin essa semana e fez uma palestra bastante provocativa. Com metade da população mundial vivendo em cidades (3 bilhões de pessoas), 33 % destes em favelas (1 bilhão), não há sustentabilidade ambiental sem sustentabilidade social nem vice-versa.


no caso brasileiro, por mais que estejamos investindo pesadamente em melhorias nas áreas mais carentes podemos estar perdendo uma oportunidade única para pensar um modelo de desenvolvimento (e consequentemente de cidade) para a segunda metade do século XXI.


foi isso que tentei falar no Projetar, sobre a responsabilidade das escolas de arquitetura em antecipar a cidade do futuro. As crianças que nascem hoje vão começar a vida adulta em 2030 com uma população mundial em torno de 8 bilhões, energia mais cara e água mais rara. Que cidade vai estar se desenhando pra elas?


em duas décadas no ritmo atual o Brasil vai ter alcançado significativos aumentos de escolaridade, renda média, consumo e expectativa de vida. Mas e as cidades onde vivem 80% dos brasileiros? Como estarão em 2030? Desculpe a franqueza mas esse problema é todo nosso e mais do mesmo não vai nos levar a lugar nenhum.




Ricky Burdett was in Austin this week where he delivered a quite provocative lecture. With half the world population living in cities (3 billion people), 33% of these in slum quarters (1 billion), we just cannot have environmental sustainability without social sustainability and vice versa.


in the Brazilian case, no matter much we invest in improvements in the most vulnerable areas, we can be losing an unique opportunity to rethink the model of development (and therefore the city) for the second half of the 21st century.


that’s what I tried to say at Projetar, on the responsibility of schools of architecture in anticipating the city of the future. The children born today will start their adult life in 2030 with a planetary population around 8 billion, energy more expensive and water more rare. Which city will be there for them?


in two decades with the current growth Brazil will achieve significant increases in education, income, consumption and life expectancy. But what about the cities where 80% of us live? How they will be in 2030? Forgive my bluntness but this problem is all ours and more of the same will not take us anywhere.

Monday, June 8, 2009

andando para trás / moving backwards







chegando a Belo Horizonte esta semana me deparei com esse elefante branco projetado pelo centenário Niemeyer que servirá de centro administrativo do estado. Nada mais século 20 do que esses edifícios monumentais, umas curvas simplórias no auditório, prateleiras em curva formando dois prédios enormes, um projeto difícil de engolir se viesse dos traços de um aluno de primeiro ano de arquitetura. Vindo do nosso maior arquiteto é mesmo uma vergonha. Dizem os que trabalham na obra que não havia nenhuma forma de compatibilização entre os vários projetos, erros primários relativos a insolação, absoluta ausência de detalhes. Isso na a maior obra do governo do estado projetado pelo mais famoso arquiteto brasileiro é triste, muito triste. Pra não falar na oportunidade perdida. Com o centro da cidade esvaziado, as secretarias e autarquias estaduais poderiam ter se instalado em dezenas de edifícios que estão sub-ocupados, injetando vida e recursos numa área que apesar de suas belezas está condenada ao abandono. Daria mais trabalho, sim, e provavelmente o orçamento para reformar vários edifícios com mais de 50 anos de uso seria quase o mesmo da obra em andamento. Mas seria o tipo de intervenção que pede o século que se inicia. Niemeyer teve seu momento nos anos 40 e 50 quando ele era um dos melhores do mundo e seus contratantes tinham uma visão apontada para o futuro. Hoje, ao contrário, seus projetos são completamente anacrônicos e construí-los aponta para o passado.




arriving in Belo Horizonte this week I found this white elephant designed by our centennial Niemeyer that will house the administrative center for the state government of Minas Gerais. Nothing could be more 20th century than those monumental buildings, simplistic curves on the auditorium, stacks of slightly curved floors making two enormous structures. A composition that would be considered poor if it were presented by a 1st year student. Coming from our most famous architect is just a shame. People who work in the construction reported that there were no compatibility between the different sets of drawings, basic mistakes regarding solar orientation and absolutely no detailing. Not to mention that the location of this enormous complex is in itself a huge missed opportunity. With downtown quite empty, the state government branches could occupy dozens of buildings that are now mostly idle. It would probably be more troublesome and the budget to renovate many 50-year-old buildings would be about the same. But it would be a intervention worthy of its time. Niemeyer had his moment in the 1940s and 50s when he was among the best in the world and his clients had a view towards the future. Today, unfortunately, his designs are extemporaneous and to build them points to the past.

Monday, May 4, 2009

favela studio





na última segunda feira tivemos a banca final dos projetos do favela studio que aconteceu aqui em Michigan este semestre. Por aqui todos os studios tem ao final uma defesa formal e pública, com professores convidados de outras escolas e de outras disciplinas.


no nosso caso os convidados foram Raul Smith que veio de NY onde esta colaborando com Keith Kaseman em um estúdio parecido na Columbia cujo foco é o morro da Conceição no Rio, e Edesio Fernandes, referência mundial em direito urbanístico que veio de Londres via Lincoln Institute em Boston. Outros três professores de Michigan formaram as bancas que discutiram o trabalho de 6 alunos na parte da manhã e outros 6 a tarde.

não vou entrar aqui nos detalhes dos projetos porque vamos editar um livro nos próximos meses em que todos os trabalhos vão ser tornados públicos (e traduzidos para o Português). O interessante é registrar algumas das discussões que aconteceram durante o studio e que nortearam o debate da banca final.

em primeiro lugar, a dificuldade de tratar a questão das favelas com as ferramentas tradicionais da arquitetura. Entender o processo construtivo de baixo-custo no Brasil foi fascinante para os 12 alunos que vieram de 3 continentes, mas o melhor da investigação ficou por conta da incapacidade das ferramentas de modelagem 3d em captar a espacialidade das favelas. O nível de precisão dos nossos instrumentos de desenho não lida bem com “erros” da ordem de 5cm e nem a mais elaborada geometria chega perto da riqueza de texturas e pequenas digressões que ocorrem numa favela.

também bastante discutida foi a questão da acessibilidade. A literatura especializada há muito já demonstrou que as melhores intervenções em uma favela são aquelas que melhoram a acessibilidade, permitindo que o Estado se faça presente e apoiando níveis crescentes de integração entre a favela e a cidade formal. Para tanto é preciso criticar normas e flexibilizar parâmetros que dificultam tal integração. Toda rua deveria ter 12 metros de largura e no máximo 20% de inclinação mas se a forma mais viável de acesso a certas partes da favela passa por uma rua com apenas 7 metros de largura e 30% de rampa que assim seja, é melhor que rua nenhuma.

e por último vale registrar que tanto os críticos voltaram sempre na questão de que a técnica construtiva das favelas é a mesma da cidade formal, só que barateada a ponto de se alcançar uma distinção estética entre os imóveis “embrulhados” com pedra, cerâmica ou tinta na cidade formal e o tijolo nu da favela. Esta distinção de natureza imagética que normalmente é repudiada como mero embelezamento por aqueles que mais se interessam pela questão social merece ser trazida a tona para discussão porque de maneira inconsciente (embora eficiente) ela reforça o abismo entre dois lados de uma mesma cidade, um mesmo regime urbano, uma mesma sociedade que tem historicamente uma enorme dificuldade de se ver inteira.



last Monday we had the final review of the favela studio that I offered here in Michigan this semester. Among our visiting critics was Raul Smith from NY where this collaborating with Keith Kaseman in a similar studio at Columbia whose focus is the Conceição Hill in the Rio, and Edesio Fernandes, world-wide reference in urban law who came from London via Lincoln Institute in Boston. Other three Michigan faculty completed the review lineup that saw 6 projects in the morning and another 6 in the afternoon.

I do not want to discuss the details of each projects because in the next few month we will edit a book and all the works will become public. The interesting thing is to register some of the discussions that happened during the studio and that echoed during the final review.

first the difficulty to approach the favela problem using our traditional design tools. To understand the technicalities of cheap construction in Brazil was fascinating for the 12 students who came from 3 different continents, but most challenging was to perceive the limitation of our modeling 3D software in capturing the spatiality of the favelas. The level of precision of our drawing instruments cannot not deal with “errors” on the magnitude of 2 inches, nor can the most elaborated geometry get close to the wealth of textures and small digressions that occur in a favela.

also discussed was the question of accessibility. The scholarly literature has already demonstrated that the best favela interventions are those that improve accessibility, allowing the State to be present and supporting increasing levels of integration between the favelas and the formal city. For that to happen it is often necessary to take a critical approach towards norms and parameters that make such integration difficult. All street should be 12 meters wide and have less than 20% incline but if the most viable access to certain parts of the favela require a street only 7 meters wide and 30% slope so be it. A narrow and steep street is better than no street.

and finally it is worth noting that the critics often came back to the realization that the constructive technology of favelas is the same of the formal city, only cheapened to the point of becoming an aesthetic distinction between buildings “wrapped” in stone, ceramics or paint in the formal city and the naked bricks of the favelas. Such imagétic distinction is often dismissed as beautification by those more concerned with social matters but deserves to be brought up for discussion because in an unconscious (albeit efficient) way it widens the gap between two sides in one city, one urban condition, one society that historically has had an enormous difficulty of perceiving itself as one.

Monday, April 20, 2009

ruas no lugar de muros / streets not walls

de toda essa discussão sobre o desastrado muro em torno das favelas do Rio uma das melhores colocações foi a da Ana Paula Medeiros do Urbanamente e o que ela chamou de “mania de cercadinho”ou nas palavras dela mesma:“tendência à fragmentação, a criar grupos estanques de pessoas, de coisas. Tendência a reforçar a cisão entre grupos sociais distintos, a criar barreiras, a excluir. Seja com o intuito de enfatizar a exclusividade e o privilégio, como os currais vip dos shows, seja disfarçando com o argumento da preservação ambiental, como é o caso da atual discussão envolvendo as favelas do Rio.”

pois isso me parece um dos mais tristes fenômenos deste início de século. Quanto mais criamos comunidades virtuais ou laços com pessoas do outro lado do planeta, mais dificuldade temos em estabelecer qualquer troca com aquele que vive ali pertinho mas que se mostra muito diferente de mim.

ano passado me chamou a atenção o livro The Big Sort, de Bill Bishop e Robert Cushing. Os autores, um jornalista e um professor de sociologia da Universidade do Texas, partiram de dados eleitorais para mostrar que a população norte-americana esta se fragmentando em territórios ideológicos. Na eleição de Carter em 76 a grande maioria do país teve disputas acirradas a nível dos condados. Já na eleição de Bush em 2004 (e muito provavelmente também na eleição de Obama ano passado) a maioria do país foi de “lavadas” onde um ou outro candidato ganhou com mais de 20% de frente.

nas palavras de Bishop e Cushing“os EUA são hoje mais diversos do que nunca mas os lugares onde vivemos estão se tornando cada vez mais cheios de pessoas que vivem como nós, pensam como nós e votam como votamos. Esta transformação social não aconteceu por acidente, nós construímos um país onde podemos todos escolher qual vizinhança morar como quais notícias assistir. E estamos vivendo com as conseqüências desta segregação.Nosso país se tornou tão polarizado, tão ideologicamente incestuoso, que as pessoas não sabem e não conseguem compreender os outros.”

no caso brasileiro esta divisão não se revela tanto espacialmente, pessoas de ideologia e modos de vida bastante diferente ainda dividem o mesmo elevador na maioria dos prédios onde vive a classe média e média-alta das grandes cidades. Mas fora a diversidade dos apartamentos esta segregação acontece com força total, nas escolas que escolhemos para nossos filhos, nos shoppings, nos clubes, nos restaurantes. A mídia já percebeu isso há muito tempo e cada radio toca para seu público, cada revista escreve para seu público e com isso cria-se um ciclo vicioso que gera polarização porque as idéias iguais vão sendo ampliadas ao reverberarem em ouvidos fiéis. A direita torna-se mais direita e a esquerda mais esquerda num processo que espelha a profunda divisão norte-americana.

inconscientemente cada vez mais escolhemos estar em espaços onde estarão também aqueles que pensam como a gente, e as cidades vão perdendo um pouco do que elas tem de melhor que é facilitar o contato com tudo que me é diferente, com a alteridade, com aquilo que me altera.

por isso insisto em criticar o muro como intervenção desastrada. Primeiro porque como bem escreveu Sergio Besserman, ex presidente do IBGE, as favelas estão crescendo horizontalmente na zona leste e verticalmente na zona sul, onde os muros então não servirão para nada. Segundo porque se o problema é preservar a mata porque o estado não consegue conter a expansão ilegal então o muro não vai durar duas semanas. Terceiro porque os 40 milhões de reais reservados para os muros poderiam ser investidos em abertura de ruas. Ruas para que possa subir a polícia mas para que também possa subir a ambulância, o caminhão de lixo, os bombeiros. Ruas para descer o esgoto devidamente encanado. Ruas para que a acessibilidade gere mais possibilidade de contato, mais oportunidade de emprego e geração de riqueza. Ruas para que nossas vidas rodeadas de iguais sejam mais permeáveis, ainda que apenas potencialmente.

vale ler também o que escreveram Roberto da Matta e Sergio Magalhães [alem do otimo texto de Luiz Fernando Janot publicado em O Globo no ultimo dia 17 que o proprio autor disponibilizou nos comentarios desse post].


of all this quarrel around the disastrous wall around the favelas of Rio one of the best posts was written by Ana Paula Medeiros at Urbanamente and what she called “fancing mania” , the contemporary trend to create groups, to strengthen the split between distinct social groups, to create barriers, to exclude. Either with intention to emphasize exclusiveness and privilege, as the vip corrals in concerts, either hidden under the argument of environmental preservation, as is the case of the current wall around Rio's favelas.”

this seems to me as one of the saddest phenomena of this new century. The more we create virtual communities or ties with people on the other side of the planet, more difficulty we have in establishing any kind of meaningful exchange with that think different but might be so close to me.

last year the book “The Big Sort”by Bill Bishop and Robert Cushing called my attention. The authors, a journalist and a professor of sociology at UT Austin departed from electoral data to show that the North American population has been breaking down into ideological territories. In their own words: “America may be more diverse than ever coast to coast, but the places where we live are becoming increasingly crowded with people who live, think, and vote like we do. This social transformation didn't happen by accident. We've built a country where we can all choose the neighborhood and church and news show — most compatible with our lifestyle and beliefs. And we are living with the consequences of this way-of-life segregation. Our country has become so polarized, so ideologically inbred, that people don't know and can't understand those who live just a few miles away.”

in the Brazilian case this division not yet so strikingly spatialized. People of diverse ideology and life-style still share the same elevator in the majority of the buildings where the middle and upper middle class lives in major cities. But outside of apartments buildings segregation happens with total force, in the schools that we choose for our children, in shopping malls we go, in clubs, in restaurants. The media already knows that for a long time and each radio station caters to its public, each magazine writes for its subscribers in a vicious cycle that generates polarization because equal ideas get louder when reverberating in faithful ears, to the point of becoming two different languages, unintelligible for another audience. The right becomes more right and the left more left in a process that mirrors the deep North American divisions.

we feed that unconsciously each time we choose to be in spaces where we can find those that think like we do, and the cities lose a little the best they can offer which is to facilitate the contact with the different, with alterity, with that which alters me.

that’s why I insist on criticizing the wall as disastrous intervention. First because as stated by Sergio Besserman, ex director of the Brazilian Census Bureau IBGE, the favelas are growing horizontally in the east periphery and vertically in the southern part of town where the walls will then be good for nothing. Second because if the problem is to preserve the forest while the state cannot contain the illegal expansion then such wall won’t last two weeks. Third because the 40 million reais reserved for the walls could be invested in opening of streets. Streets so that give access to the police but also the ambulance, the garbage truck, the firetruck. Streets such that the sewage can come down properly. Streets that increase accessibility and more chances of contact (not less), more jobs and generation of wealth. Streets that make our contemporary insulated societies more permeable, even if only potentially so.

Monday, April 13, 2009

o muro do Rio / Rio’s wall





esta semana o assunto da blogosfera foi o início da construção de vários muros no Rio de Janeiro, entre algumas favelas e as vizinhas áreas verdes remanescentes. Me lembrei imediatamente da discussão acalorada que tivemos aqui em Michigan em 2007 quando a escola de arquitetura comemorou 100 anos e trouxe vários figurões para um seminário de 3 dias que pretendia olhar tanto para o século que passou quanto para o século que temos pela frente. O resultado foi um racha entre defensores da sustentabilidade ambiental (Ed Mazria, William Saunders, John Thackara, Ken Yeang, David Orr) e os defensores da sustentabilidade social (Teddy Cruz, Charles Correa, Saskia Sassen, Michael Sorkin). No final ficou no ar um certo consenso de que as duas sustentabilidades são inatingíveis em separado, que a forma de alcançar uma delas passa necessariamente pela outra.

o muro do Rio me parece uma forma extremamente infeliz de lidar com esse conflito, como bem lembrou Sergio Besserman. Sim, as áreas verdes precisam ser preservadas, mas a população também precisa de soluções urgentes de habitação com um mínimo de qualidade e acesso aos serviços e oportunidades da cidade.

e por isso cabem aqui várias perguntas:

preservar as áreas verdes para quem? Já que isoladas por um muro (vamos fantasiar que o muro não vai ser quebrado ou escalado) elas deixam de participar do convívio da população e qualquer chance de uma efetiva educação ambiental desce pela enchurrada (na ausência de ralo)

porque murar em volta das favelas e não em volta de tantas áreas ricas do Rio que também invadem, desmatam e se apropriam das áreas de preservação que deveriam ser públicas? As mansões do Recreio ou de Angra vão ganhar muros também?

talvez valha a pena lembrar o muro de Berlim, o muro da faixa de Gaza e a cerca entre San Diego e Tijuana, barreiras que só servem para materializar fisicamente o preconceito, a desigualdade e o desinteresse numa solução melhor e mais permanente para o problema.

tem de haver uma solução melhor!



the buzz of the week in Brazil was the beginning of the construction of some walls in Rio De Janeiro that are supposed to separate the favelas from the neighboring remaining green areas. Reading about it I immediately I recalled a interesting discussion we had here in Michigan in 2007 when the architecture school celebrated its centennial and brought many distinguished scholars for a 3-day seminar that was supposed to reflect on the century past and the one ahead. The result was a debacle between proponents of the environmental sustentability (Ed Mazria, William Saunders, John Thackara, Ken Yeang, David Orr) and the defenders of social sustainability (Teddy Cruz, Charles Correa, Saskia Sassen, Michael Sorkin). In the end there was a consensus that the two sustainability are unreachable separately, that the road one of them necessarily goes through the other.

the wall of the Rio seems to me an extremely unhappy solution to this problem. Yes the green areas need to be preserved but the population also needs urgent housing solutions of minimum quality and access to the services and opportunities of the city. And many questions arise:

is the wall the best solution to preserve the green areas or just the first surface waiting the others three that will constitute a new dwelling?

to whom are we preserving this nature? Isolated by a wall (let’s pretend for a second that it will not be breached) they disappear from people’s perception and any possibility of an effective environmental education goes down the drains (opps, drains are rare in the favelas)

why build walls around the favelas and not around wealthy areas in Rio that also invade, deforest and appropriate nature preserves that should be public. Will they eventually wall the mansions of Recreio and Angra also?

but I am sure it is worth noting that as much as the Berlin wall, the Gaza wall or the Tijuana fence, the main purpose of these barriers is to materialize prejudice, inequality and a profound lack of interest in a better (and therefore permanent) solution for the problem.

Rio deserves a better solution!