Thursday, November 27, 2008

espaços colaterais


estive em Chicago esta semana e várias vezes me lembrei do Carlos Teixeira porque andei basicamente pelas mesmas ruas que andamos juntos uns 10 anos atrás.
chegando em casa encontro um pacotinho dele com o novo livro “Espaços Colaterais”, que será lançado amanha, sexta-feira, às 19:00h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073), São Paulo.

Carlos é talvez o mais talentoso pensador e provocateur contemporâneo no Brasil. Morasse ele em São Paulo ou no Rio e ele já seria conhecido nacionalmente. Mas Carlos é bem mineiro apesar de transitar em vários mundos, da AA de Londres a Coronel Fabriciano. O fato é que muito provavelmente Belo Horizonte permite um exercício de reflexão (e interlocução) que leva a obra e dos textos de Carlos Teixeira a um nível por poucos alcançado (vide seu texto sobre o capim).

neste livro, junto com os co-editores Tandi Campos, Renata Marquez e Lou Cançado, Carlos reúne o que mais instigante se fez nas alterosas na última década. Um dos trabalhos, o das próteses de ventilação e iluminação para barracos de Brana Carvalhaes, merecia prêmio internacional pela precisão casada com inventividade.

bom, vou parar por aqui, sugiro a quem estiver em Sampa que vá no lançamento e pra quem não estiver que dê um jeito de ler o livro.

ISBN 978-85-61659-00-4, collateralspaces@gmail.com

Monday, November 24, 2008

500 kilometros em 47 semanas!

o fim do ano está chegando um pouco mais cedo pra mim e não é só porque chego em BH daqui a 10 dias. No natal passado ganhei da Lê um ipod com pedômetro, provavelmente o presente mais útil e prazeroso dos últimos anos.

o negocinho tem sido pra mim um enorme incentivo. Se correr ouvindo música (Benjor e Fernanda Abreu são meus favoritos) já é bom, imagina ter um gadget que computa distância, tempo, ritmo, upload pra uma webpage, calcula totais, médias e ainda compara suas corridas com as de outros amigos.

o resultado é que eu devo ter corrido quase o dobro esse ano.

ainda em janeiro fiz um cálculo por alto de que se eu corresse em média 2 vezes por semana chegaria a 500 km no ano, e foi essa marca que eu alcancei ontem, com 5 semanas de antecedência.

foram 84 corridas de mais ou menos 30 minutos e 6km cada, algumas ótimas como na praia na Bahia outras nem tanto como a vez que levei um tombo da esteira na academia, saindo com alguns arranhões no corpo e muitos mais no ego.

mas se tem uma coisa que me fez feliz nesses 500 km foi perceber que posso usar minha obsessão com dados e medições para levar uma vida mais saudável

e quem sabe celebrar 1000 km em outubro de 2009.

Friday, November 21, 2008

Sejima em busca da extrema simplicidade

o jornal espanhol El Pais mais uma vez nos presenteia, agora com uma preciosa entrevista com Kazuyo Sejima, a quem nao me canso de elogiar.

e' preciso ler a entrevista inteira para perceber o quao Sejima tem sido bem sucedida nesta tal busca da extrema simplicidade. No meio de tantos egos e tanta pavonice a mestra japonesa brilha com sua discricao.

e' de uma humanidade invejavel.

Tuesday, November 18, 2008

depois da crise


a cena é mais ou menos a seguinte: uma crise severa tem origem nos EUA e se espalha pela Europa e depois pelo mundo todo. Países exportadores de commodities perdem receita num primeiro momento mas se recuperam mais rapidamente com ajuda de seus mercados internos menos endividados e portanto menos deprimidos que os dos países mais desenvolvidos. Mas a crise é suficiente para deixar os arquitetos do mundo desenvolvido sem trabalho e eles aos poucos vão se abrindo para oportunidades d’além mar.


parece 2009 mas pode também ser 1929, tão parecidos são os cenários de agora e os de 80 anos atrás.

entre 1929 e 1936 apareceram no Rio de Janeiro Le Corbusier, Marcelo Piacentini, Frank Lloyd Wright e Eliel Saarinem. Quem acha que Corbusier foi só dar umas palestras ou FLW foi só julgar um concurso não sabe da ferocidade com que arquitetos deste porte se dedicam a conseguir grandes projetos. Dão até murro nos outros e talvez por isso sejam tão bem sucedidos na nossa charmosa mas carnívora profissão.

coincidentemente, Libeskind e Sejima só foram dar uma palestra depois de ter visto as imagens do novo prédio do Siza que, ao contrário de Bernard Tschumi e Jean Nouvel, provou ser possível realizar um projeto de altíssimo nível no Brasil. Que eu me lembre o primeiro deste porte desde que Corbusier percebeu que não podia mais chamar de seu o prédio do MEC.

então acho que cabe celebrar o fim desses 70 anos de auto-isolamento buscando perceber que a boa arquitetura tem um poder enorme de disseminação e tanto Siza quanto futuros H+dMs ou Koolhaases ou Pianos ou Saanaas podem contribuir enormemente para ventilar a arquitetura brasileira. Da mesma forma nossos arquitetos tem tido uma presença muito maior no cenário internacional que acabam gerando obras pelo mundo a fora.

usando de todo o meu otimismo disponível eu diria que a novíssima geração brasileira tem tudo para se libertar de antigos dogmas e pensamentos mofados de forma a juntar o melhor da brasilidade com o melhor da universalidade,

como fizeram de maneira tão eficiente os moços de mil e novecentos e trinta e poucos

Saturday, November 15, 2008

que pena que não foi o Piano.....




saiu hoje na Slate a segunda parte da crítica de Witold Rybczynski sobre os dois novos prédios de Renzo Piano na California, agora enfatisando a academia de ciencias em San Francisco. O edifício é lindo e elegante, como alias tudo que conheço de Renzo Piano, e o texto de Rybczynski é excelente.


mas o melhor do texto (e eu nem vou falar aqui da cobertura com plantas nativas e do aproveitamento da água de chuva) é o ultimo parágrafo que trata da relação entre o projeto de Piano e seus vizinhos Herzog e De Meuron:

“The California Academy of Sciences sits across from the new de Young museum of art, which likewise replaced a building damaged in the 1989 earthquake. Two different types of museums, two different architects (the de Young was designed by Swiss Pritzker Prize winners Herzog and de Meuron)—and although both buildings could be described as big boxes, they represent two different visions of the role of the contemporary architect: problem-solving vs. art-making. Of course, all buildings do both, but Piano seems to be more directly concerned with the former, while Herzog & de Meuron's self-absorbed architecture is a result of the latter. Whether you prefer one or the other may be a matter of taste, but standing on the roof of the Academy looking at the de Young, I was struck by its slightly ominous appearance—and how intrusive the 144-foot canted tower is in Golden Gate Park. The California Academy feels much more at home.”

Wednesday, November 12, 2008

torcendo os brises do MEC








o post de hoje trás um projeto que me fascinou pela beleza, pelo desafio e pela referência direta à arquitetura brasileira.

Tsz Yan Ng e Mehrdad Hadighi do Studio for Architecture projetaram em Shantou, China, um edifício multi-uso para uma indústria textil que conjuga show-room, escritórios e andares para a própria fabricação.

a solução barata e extremamente elegante foi inspirada ao mesmo tempo no nosso MEC de 1936e na caixinha de comando de Herzog e De Meuron em Basel.

o fantástico do edifício de Ng e Hadighi foi modelar um brise torcido e perfurado a ser fabricado na China, em concreto, a partir de moldes elaborados em Bufallo, NY.

o resultado está aí nas fotos mas trazendo a discussão para o nosso contexto, em primeiro lugar é importante perceber o impacto que a arquitetura moderna brasileira tem no exterior. Nem Ng nem Hadighi tiveram nenhum contato maior com o Brasil a não ser através dos livros de história da arquitetura moderna e no entanto ao explicar de onde veio a idéia do brise torcido lá estão o MEC e H+dM.

mudando de assunto para a recente contratação de Herzog e De Meuron para um projeto em São Paulo, ainda bem que vamos aos poucos evoluindo e finalmente deixando os autores do genial prédio do MEC onde eles ficam melhor: no século passado. Agora um concurso internacional traria propostas daqueles que serão os melhores arquitetos das próximas décadas e não das passadas. Foi isso que Getulio Vargas e Gustavo Capanema fizeram em 1936, investiram na arquitetura do futuro, mesmo que pra isso fosse preciso cancelar um concurso.

Sunday, November 9, 2008

Eisenmann por escrito

acabei de ler este final de semana a tese de doutorado de Peter Eisenmann: The Formal Basis of Modern Archietcture.

um primor de análise formal, Eisenmann é excelente quando analisa Corbusier, Aalto, Wright e seu favorito Guiseppe Terragni. Como arquiteto são muitas as criticas a sua obra. Eu arrepio por exemplo toda vez que ele fala que faz arquitetura para si mesmo e não se importa com mais ninguém, nem com o cliente que está pagando a conta.

mas como estudioso da arquitetura Peter Eisenmann é fantástico, ler sua tese é entender em detalhes a gênese formal do que de melhor construímos no século passado.

só que tem um detalhe importante, a tese de Eisenman foi publicada em 2006 por uma pequena editora Suíça, 43 anos depois de ter sido defendida em Cambridge. Isso mesmo, entre 1963 e 2006 a tese ficou juntando poeira em prateleiras inglesas. Eisenmann publicou alguns artigos a respeito mas juntando tudo tenho absoluta certeza que pouco mais de algumas centena de pessoas leram a respeito.

no entanto, não conheço nenhum arquiteto digo do titulo profissional que carrega que não diga conhecer a obra de Eisenmann. Mas ao invés de ler sua obra nós consumimos imagens dela apenas. Não estou aqui negando o fato de que a visualidade tem um papel central na nossa profissão e serei o primeiro a defender que uma imagem vale mais que mil palavras.

mas existe algo em uma tese, uma organização lógica e sistematização do conhecimento que não se transmite apenas graficamente.

agora se a tese de doutorado de um dos mais celebrados arquitetos do final do século 20 demora 43 anos para ser publicada, tem algo muito errado acontecendo (ou não acontecendo) entre a produção do conhecimento na academia e a divulgação deste.

Wednesday, November 5, 2008

mais Obama




a fila da foto não é de eleitores esperando a vez de votar ontem mas sim de gente fazendo fila para comprar um jornal hoje de manhã (no caso o NY Times). Jornais do país inteiro esgotaram a tiragem de 50% a mais que o normal por volta das 9 da manhã.


este é o clima hoje nos EUA. A sensação de que o país finalmente acordou e oito anos de Bush-Cheney foram um longo e tenebroso pesadelo.

dava pra ver na cara das pessoas hoje de manhã, o dia bonito de novembro ajudou mas a energia coletiva liberada pela vitória expressiva de Obama é impressionante.

Tuesday, November 4, 2008

Obama




hoje fomos dormir felizes da vida. O reinado do medo e da ignorância explorado pelos conservadores aqui nos Estados Unidos acabou. Se fini. It is over. Vale aqui o slogan de Lula em 2002: a esperança venceu o medo!

e não só isso, o país acaba de eleger um negro ,com nome árabe, nascido no Hawaii, que morou na Indonésia quando criança. A carga simbólica disso é gigantesca, um passo significativo na direção de uma desejável igualdade independente de sexo, cor da pele, religião ou etnia.

aqui em Ann Arbor, o clima é de festa. Os posters de jardim como os da foto acima são tantos que OBAMA foi a primeira palavra que minha filha de 5 anos leu sozinha na rua.

Obama trás uma carga de otimismo e esperança que tem sim um enorme poder de transformação. Só a mensagem de diálogo e diplomacia já seria suficiente para colocar os EUA alinhados com o resto do mundo depois que Bush usou 9/11 para seqüestrar o discurso político.

e assim como Lula em 2002, Obama deve desapontar muita gente porque governar é muito mais difícil do que fazer campanha, mas minha expectativa é de que assim como Lula, Obama deixe um país melhor depois dos oito anos que deve governar.

de qualquer forma, eu deixo de dizer que gosto de 49% dos EUA e passo a dizer que gosto de mais ou menos 52%. A diferença de 3 ou 4% é enorme.

bom dia 5 de novembro pra todo mundo.

Monday, November 3, 2008

salvemos nós mesmos o mercado

há tempos eu ando pensando em escrever sobre a questão dos mercados em BH e nos últimos dias duas notícias chamaram a minha atenção: uma reportagem dizendo que o Iphan quer tombar o Mercado Central e um e-mail sobre a luta para manter o Distrital de Santa Tereza.

mas o fato de ser um tema muito caro à minha família faz com que as idéias nem sempre saiam muito organizadas. Mesmo assim me sinto compelido a externar minha opinião.

faz mais de um ano que Olímpio e Olinto Marteleto (avô e tio-avô da Letícia) fecharam o Armazém Aymoré, depois de 75 (isso mesmo, setenta e cinco) anos de trabalho. Olinto foi embora dessa vida em setembro e Olímpio, aos 92 anos, ainda se preocupa com o Mercado como se preocupa com sua própria vida, isto porque sua vida sempre foi o Mercado. Mas o armazém não existe mais, fechado depois de dar prejuízo por muitos anos.

daí a minha frustração com os movimentos pelo tombamento do Mercado Central ou pela manutenção do de Santa Tereza. Nenhum mercado se sustenta sem uma base forte de clientes e a elite belorizontina que gosta tanto de mostrar o mercado para os visitantes já não faz compras lá há décadas.

pra mim já é tarde demais para os mercados de Santa Tereza e da Barroca, e não adianta restaurar e reabrir porque os pequenos lojistas que fazem destes espaços um espetáculo de cores e cheiros não tem a mínima condição de competir com os sacolões ou com o Epa-Carrefour. A não ser que os moradores da Barroca e de Santa Tereza passem a comprar lá semanalmente, o que eu duvido que venha a acontecer.

basta lembrar do mercadinho da Lagoinha que passou por uma restauração cuidadosa quando o Patrus era prefeito e foi reinaugurado com a presença de toda a intelligentsia de BH para poucos anos depois estar novamente às moscas.

já o Mercado Central pode ser salvo pelo alcance metropolitano que ainda emana dalí. Tanto a base de clientes das classes C e D que passam por lá antes e depois do ônibus, diariamente (e é quem compra de verdade no mercado), quanto das classes A e B que passam por lá de vez em quando (para comprar algo especial ou para mostrar aos turistas) ainda sustentam, no limite, as bancas sobreviventes.

então meus caros, para salvar o Mercado Central e evitar que ele se transforme numa versão melhorada do Shopping Oi, façamos lá as nossas compras do mês

e antes que me acusem de cínico ou de romântico aviso que quando estamos em BH é lá que compramos frutas e verduras, mesmo tendo um Mart-plus a 100 metros de casa.

outras estratégias, por reforma ou por decreto, estão na minha opinião fadadas ao fracasso.