Imagine se ao comprar um carro, ao invés de buscar informações sobre o custo de manutenção, o consumo de combustível e o valor de revenda, você olhasse apenas os itens em destaque na propaganda da revista: o estofamento assinado por fulano, a cor da luz do painel e a nova lanterna traseira re-estilizada para o modelo 2008 ficar um pouco diferente do modelo 2007.
Ridículo não?
Agora na hora de comprar um apartamento, um investimento normalmente 10 vezes mais caro que um carro e no qual você vai passar 12 horas por dia e não duas, um numero enorme de pessoas tem deixado que o piso da cozinha, os metais do banheiro e o espaço gourmet do pilotis sejam os fatores mais importantes na hora da escolha.
Se o leitor é um colega arquiteto, provavelmente já sabe de cor e salteado o conteúdo destas linhas.
Mas se você desconfia que na hora de comprar um apartamento os corretores desviam a sua atenção para um monte de bobagens comparáveis com a lanterna traseira re-estilizada, então essa serie pode lhe servir.
Usando da experiência de pesquisa comparando tipologias habitacionais ao redor do mundo (ver Global Apartments Research Group) e da experiência da frustração (quase desespero) de tentar encontrar um apartamento decente em Belo Horizonte (2 vezes por sinal), eu pretendo escrever de vez em quando aqui neste blog sobre algumas das questões que na minha opinião são mais importantes do que os metais do banheiro na hora de comprar um imóvel.
E pra começar conto uma historia verídica acontecida em São Paulo uns 10 anos atrás. Uma reconhecida critica de arquitetura que eu muito admiro foi procurada por um jornal de circulação nacional para escrever uma coluna semanal de arquitetura. Como teste, escreveu uma coluna sobre como comprar um apartamento: como entender a insolação, como verificar o estado da estrutura, como qualificar os revestimentos, como perceber problemas na rede hidráulica e etc... Acontece que o editor do referido jornal disse que ela pra ela escrever mais sobre arquitetura assim tipo obras excepcionais, museus, lojas, vanguarda ...... Mas, respondeu ela, 90% da cidade é feita de edifícios residenciais, metade da vida todo mundo passa dentro de casa, porque não escrever sobre este que é o maior investimento da vida de quase todos nós. O editor então respondeu curto e grosso: 35% do faturamento do jornal vem dos classificados de imóveis e os anunciantes não gostaram nem um pouco do tema daquela coluna piloto.
Pois é, foi lembrando dessa historia que tive a idéia de escrever justamente sobre isso nesse blog que não tem anunciante mesmo. Se servir para duas ou três famílias escolherem um espaço melhor pra se viver já vou dormir feliz.