o blog esteve tão quente na semana passada (ver comentários) que os assuntos foram se acumulando.
no dia 11 de setembro queria ter escrito sobre a inauguração do memorial as vítimas do pentágono projetado pelo Keith Kaseman e pela Julie Beckman do KBAS. Depois veio o artigo de Ouroussoff no NYTimes de ontem comparando a desolação de New Orleans e o fracasso do World Trade Center com a construção frenética da China.
então o post de hoje junta as duas coisas para falar de tantas oportunidades perdidas. A começar por New Orleans que três anos depois da inundação ainda tem áreas onde parece que a água acabou de secar. Eu estive lá em Março de 2007 e a cena é desoladora, milhares de casas condenadas e outros milhares de lotes vazios já demolidos. E nenhuma resposta significativa ao desafio de como construir uma cidade melhor para o século XXI. O mais rico e militarmente mais poderoso país do mundo não conseguiu dar uma resposta a altura da tragédia que se abateu sobre New Orleans.
agora a comparação de Ouroussoff também é fraca. A china está se enchendo de edifícios desenhados por arquitetos famosos mas isso está longe de ser uma resposta adequada ao desafio de construir a cidade do século que se inicia. Ninhos de pássaro e sedes de TV servem como ícones de um crescimento acelerado mas não se traduz exatamente em qualidade de vida como Barcelona, Paris ou São Francisco. Ou alguem aqui preferia viver em Bilbao, Kuala Lumpur ou mesmo Vegas a viver nas três cidades supra-citadas.
mas no meio de tantas oportunidades perdidas vem Keith e Julie recém formados pela Columbia (2001) vencer o concurso para o memorial das vítimas do 11 de setembro no pentágono. Um desenho limpo, simples e capaz de captar simbolicamente o trauma vivido por este país (do qual o mundo todo sofre a ressaca até hoje).
184 bancos de aço, um para cada vítima, alinhados na direção do avião quando se chcou contra o prédio. Keith e Julie se mudaram para Alexandria, Virgínia e trabalharam por 5 anos no projeto que foi inaugurado na semana passada, desde ajudando a levantar doações até fazendo no CNC Router os moldes de cerâmica que serviram para fundir todas as peças de aço.
as grandes oportunidades parecem perdidas, New Orleans e Ground Zero continuam como dois grandes buracos na alma de um país traumatizado e agora também quebrado financeiramente (muito por conta de erros decorrentes do trauma de 9/11)
enquanto isso uma nova geração de arquitetos se agarra com vontade às pequenas oportunidades e vão aos poucos renovando o ar carregado que paira por aqui.
16 comments:
interessante, vou tentar achar esse projeto para ver melhor.
Mas nao fala nada para a D. Patroa: ela nao acredita ate hoje que um aviao se chocou contra o Pentagono. Sabe aquelas teorias de conspiracao? Poizentao, ela acredita em todas... rs...
Gosto de Bilbao, e moraria facilmente lá, mas é como dizer assim: "Já que não posso morar em São Paulo, vou morar em Itu"...entendeu, acho que não não é?...rs... Barcelona é maravilhosa, o saudades da terrinha!!!
Sobre New Orleans, eu vi um site, com a propaganda do Brad Pitt, ajudando a reconstruir casa com projetos até do MVRDV...não sei se esse programa está ainda em funcionamento! O problema é que os EUA parece que quer ser o contro das atenções, seja sobre o que for...O projeto do 11 de setembro vai a passos de tartaruga. Reconstrução de New Orleans idem, e o desafio de uma nova cidade do "sec XXI" ate agora nada!!!
Lembro daquela instalação com dois quadrados na projeção das antigas torres jogando luz para o ceu. Tão bonito, tão elegante, que não poderia durar nos EUA. E não durou (apesar de eternizado em um filme do spike lee que não lembro o nome, com o edward norton).
De lá para cá, ladeira abaixo, apesar do proejto vencedor-mas-não-levador do Libeskind ser infinitamente melhor que esse condomínio alphaville que estão fazendo lá.
OS EUA parecem ter desaprendido a organizar concursos e grandes projetos (trauma dos projects até hoje? o yamazaki já morreu até...) e realmente new orleans é também uma oportunidade perdida.
Apesar do assunto ser um pouco pesado, seu post foi muito bonito. As fotos do Ground Zero são muito interessantes....vou procurar algumas mais.
Sobre Nova Orleans....é triste ver que as coisas continuam da mesma forma. (Ou quase).
=[
Bjos
Penso que as operações consorciadas devem ser revistas pelos urbanistas (advogados, arquitetos, geógrafos, geólogos...).
Seria uma boa saída.
como assim Marco?
Não entendi também Marco!!
Gostava também daquela luz que lembrava as torres. Não podia ter deixado daquele jeito? Ou é melhor entulhar a Berrini e a Faria Lima toda em um quarteirão?
Alberto e Ricardo,
Como muitos devem saber, as operações urbanas consorciadas tem por finalidade a promoção de intervenções urbanas, visando a alcançar transformações urbanísticas e estruturais na cidade, mediante parcerias entre o Poder Público e o setor privado.
A operação urbana é compreendida como um conjunto integrado de intervenções e medidas a ser coordenado pelo Poder Público, com a participação de recursos da iniciativa privada.
Hodiernamente, muitas pessoas consideram tal instrumento como um equívoco da agenda da reforma urbana. Mas entendo que não é bem por aí e tão pouco é o maná do desenvolvimento urbano.
Mas as operações urbanas consorciadas podem ser entendidas como potencialmente benéficas, contanto que sua regulamentação afaste o perigo de utilização que sirva tão-somente aos interesses empresariais.
É imperioso que a Prefeitura assuma a coordenação técnica da implantação e da ocupação da área, enquanto o setor privado contribuiria com os recursos necessários para as obras. Pode-se prever, ainda, que a operação urbana deve incluir uma área para a construção de habitações populares, sempre que houver população de baixa renda residindo perto do espaço a ser incorporado ou revitalizado e que sofrerá valorização.
As operações urbanas devem ser propostas segundo a visão maior da cidade, numa estratégica avançada e integradora de vários setores da sociedade.
Então, se o Poder Público agir para que o setor privado invista buscando alcançar, inclusive, um impacto social positivo, ótimo.
É uma discussão ampla e complexa, mas se pensarmos que podemos mobilizar agentes econômicos e sociais para a construção coletiva do espaço, avaliando os prós e os contras da implantação da operação urbana, a cidade só tem a ganhar.
Devemos analisar os impactos das operações urbanas de maneira ampla, e não restrita ao local de sua implantação. Bilbao, por exemplo, lucra bastante com o turismo em decorrência do museu Guggenheim.
Assim, tais oportunidade poderão ser melhor aproveitadas. O setor privado pode lucrar, mas em contrapartida proporcionará algo em benefício para a cidade.
Entendi. Não associei de cara com as Operações urbanas, fiquei imaginando uma outra coisa.
E claro, concordo com todo o dito. E tenho uma dúvida na pratica: quem bate o martelo nas O.U. ? Quem apita?
Segundo o artigo 32 do Estatuto da Cidade, para a aplicação da O.U.C. é necessário que o Município institua a operação através de uma lei municipal específica que delimite a área objeto da operação. Esta lei municipal deve estar de acordo com o Plano Diretor da cidade.
A competência para aprovar as operações urbanas consorciadas é do Legislativo Municipal.
Dependendo da Lei Orgânica Municipal, pode o Prefeito e/ou a Câmara Municipal propor projetos de lei visando instituir uma O.U.C.. Também pode ser proposta por iniciativa popular (artigo 29, XIII da C.F.).
A sociedade, de modo geral, pode discutir com políticos a necessidade da proposição da lei.
Mas reitero: É imperioso que a Prefeitura assuma a coordenação técnica da implantação e da ocupação da área, enquanto o setor privado contribuiria com os recursos necessários para as obras.
É, na verdade essa é minha dúvida. Na hora do impasse, quando cada setor quer levar o projeto para um lado, quem tem a palavra final. Mas pelo que eu entendi, a resposta é "depende".
Uau, eu estou cada dia mais absorto nas discussões que acontecem nos comentários aqui do parede-de-meia. Fico feliz de ver o blog ganhando vida própria graças a um grupo de leitores dedicados e cá pra nós, prontos a polemizar em cima das minhas disgressões.
Mas o que eu queria ponderar em cima das conversas sobre operações urbanas consorciadas é a dificuldade de se encontrar um ponto de equilíbrio entre a iniciativa privada e o setor público. Aqui nos EUA o setor público tem muito pouco espaço para lidar com qualquer questão fundiária, daí a dificuldade de se levantar o novo World Trade Center ou de se re-construir New Orleans. Fica tudo na dependência da iniciativa privada que neste momento não tem dinheiro nem pra salvar a própria pele quanto mais para investir e grandes projetos simbólicos. No caso brasileiro acontece o contrário, é a iniciativa privada que me parece muito tímida e desconfiada do poder público que acaba assumindo para sí toda a responsabilidade das intervenções urbanas. Um meio termo entre as duas maneiras de agir não seria nada mau.
Infelizmente, ou não, as O.U.C. dependem de lei e essa lei é aprovada pelos vereadores. E essa lei depende do prefeito ou do vereador ou da iniciativa popular para ser proposta.
Tudo depende de alguém. De mim, do Lula, de Deus...
O IAB, a OAB, um sindicato, uma associação comunitária, uma construtora, um empreendedor, um político podem reunir para elaborarem uma lei para O.U.C..
Temos que lutar com as armas que temos, por mais difícil que seja.
Trabalhar com o Poder Público é aborrecido muitas vezes, mas muitas vezes é inevitável.
Pois é, Fernando. Esse instrumento quase nunca é posto em prática.
E a verdade é que todos ganham com ele: a cidade, as pessoas, a iniciativa privada.
Dêem uma olhada: http://www.archidose.org/Sep08/15/dose.html
Abraços.
Fernando,
eu falei meio que brincando em teoria da conspiração sobre o 9/11, né?!
Mas dá uma olhada nisso aqui:
http://www.ae911truth.org/
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