Sunday, January 27, 2008

ainda sobre a crítica


enquanto alencastro diz que Ciro Pirondi se recusa a criticar Oscar Niemeyer e Montaner pôe o dedo na ferida dizendo que os críticos brasileiros deveriam ser mais, adivinhem!, críticos, a revista IstoÉ desta semana pôe mais lenha na fogueira que anda queimando, imagino que com certa razão, os últimos edifícios do mestre centenário em Brasília.

este modesto blogueiro acha que Oscar merece bastante respeito, e que Pirondi presta um desfavor à profissão ao se recusar a criticá-lo. Crítica não significa necessariamente desrespeito, muito pelo contrario. pode e deve ser bastante respeitosa.

agora o ponto central, na minha opinião, passou liso pela crítica da IstoÉ e tambem pela do New York Times: a qualidade dos profissionais (leia-se familiares) que hoje compõem o escritório Niemeyer. Já foi-se o tempo em que arquitetos do quilate de Filgueiras Lima ou Milton Ribeiro detalhavam as curvas riscadas pelo pincel pilot do mestre. Fiquei estarecido com a baixa qualidade da exposição que esteve em BH em julho passado e acho que andou por todo o país. Imagens pixeladas de um 3D tão primário que faz sketch-up parecer o máximo da sofisticação.

Niemeyer merecia melhor.

8 comments:

Anonymous said...

Eu gostando ou não das obras de Niemyer, tb continuo respeitando-o, por tudo que ele representa(ou) para a arquitetura moderna brasileira. E me sinto incomodada quando vejo em alguns grupos de discussões as criticas demasiadamente negativas dadas a ele, coisas “sem pé nem cabeça”. Ou eu não entendo nada de arquitetura mesmo ou gosto realmente não se discute. rsrssrs  Qto a qualidade das construções, infelizmente isto não se restringe a ele, eu não sei o que está acontecendo e nem sei de quem é a “culpa”, mas tenho visto coisas absurdas em termos de qualidade, um descaso. Se a arquitetura é deixada de lado, então que pelo menos a construção seja bem feita. Aliás, como é esta questão ai nos EUA? As edificações publicas ou grandes empreendimentos (supermercados, shoppings, etc) são bem construídos? Eles são rigorosos qto a isso? Acho que sim, não eh?! Paula Vieira.

Anonymous said...

"Oscar se esqueceu completamente do usuário." No, not really. Niemeyer nunca considerou, não considera o usuário. Seus prédios tem apena visitantes, espectadores, o flaneur reduzido de sue discurso sempre pueril.

Até quando suas obras sairam boas,e muitas sairam, o usuário era uma utopia irreal, como todas as outras com as quais ele se engajou. E também como em todas, a realidade encharca a camisa. Ora de suor, ora de sangue. mas divago.

Especificamente sobre as exposições, well, quem tudo terceiriza está ao sabor do vento não é? Achei na verdade muito representativo :)

Anonymous said...

Pois é...quem sempre entra nesses escritórios para trabalhar tem "QI" muito alto, mas nem sempre isso significa trabalho de qualidade.

Fernando L Lara said...

Paula,
aqui nos EUA, a situação é quase exatamente o contrário: eles tem a melhor arquitetura medíocre do mundo. Tudo bem certinho, bem especificado, bem construído, mas super sem imaginação. Deve haver um meio termo, um equilíbrio possível. Talvez na Espanha ou na Holanda.

Alberto, é isso mesmo, o usuário reduzido a um flaneur. Na mosca.

e Ricardo, no caso do atual escritório do Niemeyer é pior ainda, trabalham em volta todos os netos e bisnetos. Um fotografa, o outro faz maquetes, o outro escreve os contratos..... e nossos prefeitos e governadores acham o máximo ter um projeto dele, sem saber que estão comprando problemas. Deixa o homem ser genial, fazer seus desenhos de pincel atõmico e defender o comunismo..... mas chega de construir edifícios mal projetados e pessimamente mal detalhados como se fossem a melhor arquitetura que o Brasil pode fazer. Fico triste porque ele merecia algo melhor por tudo que fez nos últimos 70 anos.

Anonymous said...

Obrigada pela resposta, Fernando. Eu tinha esta duvida, e imaginava qe a resposta era neste sentido. Interessante seu comentario ao Ricardo, eu me lembrei que sempre que falo com alguém que não seja da área, eles acham o máximo ter uma obra de Niemeyer em sua cidade - tudo indica pela projeção (inter)nacional do arquiteto. Eu acho "engraçado", claro que ele é genial, mas nem tudo são flores, como podemos ver... Até mais, Paula Vieira

Anonymous said...

Fernando, vc tem acompanhado as discussoes em torno da criação do CAU? Desculpe mas não li seu blog todo e não sei se vc já postou sobre isso. Vc saberia dizer como funciona nos EUA ou em outros paises a regulamentação da profissão do arquiteto? Não sei se é aí, mas parece que o arquiteto recém formado tem que fazer um estágio ou prova (tipo OAB) para poder exercer a profissão. É isso? Não sei bem. Até mais. Paula Vieira.

Mário do Val said...

Engraçado como o Niemeyer é, de certa forma, uma paródia do sucesso para o brasileiro:

Ele vive no passado, com idéias anacrônicas, é melhor na aparência do que no conteúdo, prefere o nepotismo do que a qualidade ("se eu não puder confiar na minha família, vou confiar em quem?") e, principalmente, é o bode espiatório da nossa classe no Brasil.

Anonymous said...

só um exemplo claro de como funciona a "linha de produção" niemeyriana:
Ele foi contratado para elaborar o projeto da nova sede do TCU em Brasília. O cliente precisava de um prédio de 30.000 m2, mas recebeu um de 108.000 m2. Uéu, a partir dos croquis do mestre, um projetista-cadista do escritório responsável pelo projeto de ar condicionado (!!) desenhou toda a arquitetura. Sim, isso mesmo: um prédio de mais de 100.000 m2, escandalosamente caro, sequer foi "pensado" por um arquiteto. Uma régua colocada sobre os desenhos a mão livre foi o único critério adotado.