Sunday, January 20, 2008

do excesso à falta





com bastante estadarlhaço na mídia especializada e em todos os “cadernos de cultura” dos jornais, foi inaugurado em dezembro o New Museum of Contemporary Arts, em New York, projeto de SANAA, o escritório de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa.

Sejima é uma das minhas favoritas na atualidade, não só por ser uma das poucas mulheres nesse tremendo clube-do-bolinha da arquitetura internacional, mas por ter uma sensibilidade extraordinária. Seu edifício de apartamentos em Gifu Kitagata é uma obra-prima (já escreví isso).

no caso do New Museum, vale dizer que a insercao urbana é fantástica, uma das melhores volumetrias que eu ví nos últimos tempos. De uma simplicidade franciscana, o edifício se faz a partir de 6 caixas empilhadas, cada uma ligeiramente deslocada em relação a inferior. Nem uma diagonal, nem um grito formalista, apenas deslocamentos ortogonalmente rigorosos criando uma sensação de movimento na fachada, parece mesmo que os volumes vão se mexer a qualquer momento.

ironicamente localizado na Bowery avenue, região que congrega centenas de lojas de luminárias e equipamentos elétricos, o New Museum deveria (notar o futuro do pretérito) ser um espaço dominado pela idéia da luz.

tudo parece ter sido feito para que a luz fosse protagonista principal. O revestimento externo é todo em chapa cortada formando uma tela branca (mas reflexiva, algo como um alumínio bem claro) que uniformiza e quebra um pouco a luz. E os deslocamentos entre os 6 volumes cria diversas oportunidades para a luz penetrar de maneira marcante os espaços de exposição internos.

mas de dentro o predio é no mínimo estranho e para muitos, se mostrou frustrante mesmo. Na estrada, uma curva feita da mesma tela do exterior (parece ser apenas uma versão menor do mesmo corte) envolve a livraria e empurra o visitante, suavemente, para os elevadores. Sobe-se ao último andar para que se possa visitar as salas de exposição descendo escadas.

aí começam as contradições e frustrações. As salas se expandem e contraem, ora oferecendo espaços nobres e generosos, ora espremendo e forçando a circulacao pelo que deveria ser uma escada secundaria, de incendio ou serviço. Eu até que achei as contrações espaciais bem interessantes, mas a maioria das escadas foi totalmente removida de qualquer contato visual com as salas (legislação de incêndio, talvez?) e a ruptura é inevitável. Interrompe-se a fruição e é como se estivéssimos em um prédio adaptado para o uso do museu.

a arte lá exposta também não ajuda. Isso de atravessar uma lâmpada fluoressente por um sofá velho e dizer que é uma reflexão sobre o sexo na sociedade contemporânea não em pega. No final, Deborah cronometrou a visita: levamos exatos 16 minutos para descer os 6 andares e olha que éramos 4 arquitetos e mais 2 familiares conversando animadamente sobre o edifício.

é certo que o prédio foi feito com um orçamento muito apertado, mas o piso estava já todo trincado com apenas 2 semanas de uso. Ouví depois que Sejima propositadamente não quis usar juntas de dilatação mas para quê? Que tipo de radicalidade é essa? Olhando para cima, o forro em tela branca é barata mesmo, tudo absolutamente exposto (ok) mas a imprssão deixada é que não houve nenhum investimento em detalhes.

e finalmente a luz, a grande promessa do edifício. Na primeira visita era de noite (horário em que o museu espera receber a maioria dos visitantes) e então nada de jogo de luz natural. Mas não me dei por vencido e voltei lá durante o dia. Mesmo assim a luz nao me impressionou. Talvez num dia de sol tenhamos sobras fortes nos rasgos como nos livros de Tadao Ando, mas num dia nublado do inverno novaiorquino a luz natural não me emocionou nem um pouco e todo o discurso celebratório da crítica me pareceu inflado.

ah, vale a pena falar que os banheiros sao geniais, umas pastilhas laranjas elaboradamente compostas fazendo um trabalho de superfície a-la-Herzog+DeMeuron.

seria isso uma provocacao de Sejima, as galerias apressadas e mal acabadas e um banheiro super detalhado e exuberante? Ao contrário do 40 Bond que celebra o excesso, o New Museum faz como que a apologia da falta, do crú, do osso.

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