Thursday, May 31, 2007

todos certos e algo muito errado

Revisitando The culture of building (Oxford U Press, 1999) de Howard Davis (que vai estar conosco em BH e Ouro Preto no final de agosto) encontrei este parágrafo na página 4 que vale a pena compartilhar:

“Os arquitetos estão corretos quando dizem que vivem a mercê dos códigos de obra e das intenções do cliente e que não têm tempo para fazer um trabalho melhor dado que são mal pagos. Os construtores estão corretos quando dizem que os arquitetos deixam muita coisa mal especificada. Os cidadãos comuns estão corretos quando se queixam sobre cidades sem vida e ausência de soluções econômicas para a moradia. Os funcionários da prefeitura estão corretos quando interpretam o código de obras ao pé da letra. As companhias de seguro estão corretas quando exercem a pressão sobre os códigos de obra (questão mais forte nos EUA onde mais de 80% dos edifícios são segurados, inclusive residências). Os bancos estão corretos quando baseiam suas decisões de financiamento nas avaliações com base no mercado (que eles mesmos manipulam, diga-se de passagem). Os professores de arquitetura estão corretos em criticarem a profissão que por sua vez está correta em sua crítica às escolas.

Todos estão “corretos” embora o ambiente construído não dê sinal nenhum de estar sendo aprimorado".

Saturday, May 26, 2007

consumo consumo


vale a pena seguir de perto o trabalho de Chris Jordan, fotografo baseado em Seattle, como a serie recente: "an american self-portrait" de onde a imagem acima foi tirada.

Thursday, May 24, 2007

latino power

esta semana Bill Richardson, governador do Novo México, anunciou sua candidatura à presidência dos EUA em um programa de radio latino em Los Angeles, com as seguintes palavras: anuncio ahora mi candidatura a la presidencia de los estados unidos.
O anúncio em espanhol (Bill Richardson é filho de mãe mexicana e fluente na língua materna) foi tema de artigos de jornal e programas de radio por aqui. Mas o fato é que ao fazê-lo, Richardson chamou atenção para o crescente poder latino nos EUA, tanto em termos de consumo quanto, neste caso, em termos de votos. Nas eleições de 2004 os latinos perfizeram menos de 9% dos eleitores, mas sendo o grupo étnico-lingusitico que mais cresce por aqui, devem chegar aos 12-15% em 2008 e perto dos 20% em 2012. Bill Richardson sabe que suas chances para 2008 são pequenas perto de Barack Obama e Hillary Clinton, e que o voto latino na casa dos 12% não é suficiente uma candidatura forte. Mas em 2012 a historia pode ser muito diferente, o número de eleitores somado à importância que o assunto “hispanic migation” tomará nos próximos anos pode lhe ser muito favorável.
Mas voltando ao assunto Brasil. O que diriam Aldo Rebelo (que quer proibir o uso de palavras estrangeiras) ou o público brasileiro em geral se um candidato gaúcho fizesse um anúncio desses em alemão ou um candidato paulistano fizesse o mesmo em japonês?
Diversidade é bom só nos olhos dos outros?

as voltas do mundo

difícil explicar aos não-iniciados porque somos tão apaixonados por futebol. Diante de pernas-de-pau se achando craques, dirigentes se enriquecendo as custas do clube e juizes incompetentes (pra dizer o mínimo), fica difícil manter o gosto pelo esporte.
Mas ontem a noite os deuses da bola afagaram um pouco a minha frustração, eliminando o Botafogo por erros de arbitragem. O mesmo Botafogo que só se classificou para esta rodada graças à covardia do Carlos Simon que não teve coragem de marcar pênalti para o Galo aos 45 do segundo tempo, mas teve pelo menos a coragem assumir o erro no dia seguinte.
Não resolve nada, talvez seja ate pior já que um erro não justifica o outro. Mas meus queridos amigos botafoguenses, nada como um dia após o outro. Seria ótimo se o futebol se modernizasse e usasse a tecnologia disponível de forma inteligente (como no tênis) para acabar com erros esdrúxulos.
Mas enquanto isso não acontece cabe às voltas do mundo corrigir (quae sera tamen) as injustiças do futebol.

Wednesday, May 23, 2007

ninguém escapa ao Galvão Bueno

por essa eu não esperava. Acabo de assistir ao segundo gol do Milan contra o Liverpool e dado o silêncio dos comentadores da ESPN-2 que estão torcendo explicitamente pelo time inglês, deu pra escutar os berros do Galvão Bueno que deve estar na cabine ao lado.


Eu ingenuamente pensando que tinha ficado livre dele...


Mas adoro quando os comentaristas torcem para o time errado...



Monday, May 21, 2007

a lição de Curitiba


Um artigo da revista do New York Times de ontem, domingo, descreve muito bem o sucesso de Curitiba, e dá os devidos créditos a Jorge Wilheim e Jaime Lerner (a César o que e de César) e discute os desafios que a metrópole de quase 3 milhões de habitantes tem pela frente para continuar na liderança do movimento ambientalista. Vale a pena.
Aliás, a revista inteira vale a pena ler.

Wednesday, May 16, 2007

identidade coreana



Na minha viagem a Coréia por duas vezes me vi conversando sobre uma certa “identidade” Brasileira nos projetos recentes que mostrei, em parceria com Humberto Hermeto e alguns com participação especial do Sylvio Podestá. Assumo que tal brasilidade na verdade muito me orgulha, e não é a toa que estudamos tanto Niemeyer, Reidy, Lucio, Artigas, Lina Guedes, Paulo Mendes e Humberto Serpa entre tantos outros mestres. Mas para os colegas coreanos ficava sempre a questão de que eles não conseguem ver nenhuma identidade local nas próprias obras. Talvez porque constroem a um ritmo alucinado (parecido com o do Brasil nos anos 50 na verdade) ou porque absorvem tanto da cultura arquitetônica global (de novo parecido com o Brasil) que fica difícil precisar uma identidade coreana nas obras.

Mas ao visitar um edifício de escritórios projetado por Jai Eun Lew, líder do Seearchitects Group, deu para perceber vários elementos que eu chamaria de coreanos combinados em um edifício muitos graus acima do normal.

Logo na fachada o edifício de Lew diz a que veio. Localizado em uma avenida movimentada e ladeado por torres mais altas (e na verdade bem comuns), o edifício se destaca pela paginação da fachada onde grandes molduras levemente deslocadas e/ou inclinadas marcam a identidade de cada um dos possíveis usos internos. Na lateral direita uma rampa de acesso aos subsolos/garagens é coberta por um espaço diferenciado, revestido com placas metálicas vermelhas e ligado ao edifício principal por uma passarela.

Por dentro a esperada eficiência e flexibilidade dos espaços de escritório tem sua monotonia quebrada pelas frestas e sombras da intersessão dos planos da fachada com as lajes de piso/forro. E tanto no terraço quanto nos balcões posteriores o uso consistente dos revestimentos dá a espaços distintos uma certa identidade.

Mas até aqui vale perguntar: o que há de coreano nisso tudo? Minha leitura foi no sentido de destacar um nível de precisão e apuro fora do comum na construção civil, mas acima de tudo uma resposta criativa e dinâmica à necessidade de flexibilidade no espaço de trabalho contemporâneo. Tudo isso feito de uma forma econômica, sem exageros ou luxos e sem também comprometer a qualidade em nenhum momento. Alem é claro de ter "emoldurado" o conhecido de uma forma inovadora. Qualquer semelhança com a dinâmica economia coreana, ancorada na excelência da educação e na produção industrial com valor agregado cada vez mais alto não é mera coincidência.

Monday, May 14, 2007

pela modernização URGENTE do futebol

Interrompo mais uma vez minhas narrativas arquitetônicas para lançar um inútil manifesto pela modernização do futebol.

Chega de lambanças como a que fez o juiz Carlos A. Simon na quinta-feira passada decidindo o resultado do jogo a favor do Botafogo aos 47 do segundo tempo.

Claro que isso dói mais em mim torcedor do Galo e escaldado desde 1980. Mas com certeza todos os apaixonados por futebol já tiveram o gosto amargo de um erro ridículo do juiz, mal intencionado ou simplesmente incompetente, decidindo uma partida importante em favor dos outros.

Que a FIFA acorde (antes que seja tarde demais como no caso da igreja católica clamando por religiosidade) e instale câmeras nos estádios para a revisão de lances polêmicos. O exemplo do tênis é ótimo, cada time teria o direito de invocar as câmeras apenas 3 vezes por jogo, evitando atrasos e catimbas.


Mas pelo amor de Deus tirem o destino do futebol das mãos dos juizes, eles não são a razão do espetáculo.

Saturday, May 12, 2007

tsukiji, a outra metade da arquitetura



Eu tinha apenas 26 horas em Tokyo e as 8 primeiras foram muito bem gastas andando pra todo lado do centro da cidade com meu amigo Satoshi Nakamura. Então hoje de manha segui o conselho de John Comazzi e fui até o Tsukiji, o mercado central de peixes. Não podia ter feito uma escolha mais precisa. Amante de pescarias, apreciador de sushi e casado com uma Marteleto, um mercado de peixes em Tokyo era mesmo o meu lugar.
Mas nada podia ter me preparado para o que vi às 7 da manhã deste sábado. Nem as descrições empolgadas do Comazzi chegam aos pés do espetáculo de formas, cores e gentes que formam o Tsukiji. Peças de atum de 50, 70 kilos são transportadas por pequenos carrinhos motorizados que zigue-zagueam pelas estreitas ruelas do mercado que se estende por vários galpões que no tal medem cerca de 300 por 60 metros ou mais ou menos 3 campos de futebol lado a lado. Em outras bancas, atum já congelado é cortado em serras tico-tico. Centenas de outros peixes estavam expostos em caixinhas de isopor ou embalados para entrega. Polvos, lulas, enguias, peixes vermelhos, negros, brancos. Uma profusão de cores e, claro, cheiros pra todo gosto.
O Tsukiji é o tipo de lugar que consegue tirar minha atenção da arquitetura para concentrar apenas nas atividades que se desenrolam ali. Não que eu não tenha olhado para cima e para os lados para entender os galpões mas nesse caso as colunas e telhas são apenas um envelope para algo muito mais importante e excitante que acontece ali dentro. Em nome da arquitetura, vale notar que a iluminação natural é razoável para um edifício tão gigantesco.
Mas por 90 minutos esta manhã eu esqueci completamente da metade forma da arquitetura (também chamada de estrutura ou envelope) para apreciar apenas a metade função, resultado da atividade humana, sem a qual nenhum espaço vale mais do que um amontoado de matéria.

Thursday, May 10, 2007

pequenas arquiteturas de grande impacto

ontem no Seoul Art Museum vi uma peça que me causou um impacto enorme. Um artista coreano (não me perguntem o nome, estava escrito em caracteres coreanos) fez um modelo de um edifício residencial dos anos 60, “mapo” como eles chamam aqui. A maquete na escala 1:10 eu imagino, mede uns 5 metros de comprimento por 1,80 de altura, e é uma fiel representação de um edifício de 6 andares, sem elevador, com 4 ou 5 prumadas de escada e apartamentos. Fiquei pensando a noite inteira porque esta pequena arquitetura causa mais impacto que qualquer um dos edifícios de verdade que eu visitei, sejam os singelos e agora surrados “mapo” de 40 anos atrás ou as exuberantes torres contemporâneas. Acho que foi a humanidade do registro, o fato de que um artista se deu ao trabalho de pintar cada pedaço de reboco descascando, cada calça secando no varal, cada adesivo pregado na janela. De uma maneira muito sensível estavam retratadas ali várias das facetas que compõem a Coréia do Sul atual: a ênfase na construção civil como alavanca do desenvolvimento, a incrível modernização que tornou o país de hoje muito, muito mais rico do que o país de apenas 40 anos atrás, e por fim a triste desigualdade que marca todas as sociedades capitalistas neste inicio de século, condenando uns a viver em habitações caindo aos pedaços enquanto outros vivem em luxuosas torres e consomem vorazmente Prada e Armani nas lojas aqui do meu lado no aeroporto.
Alias, cada dia que passa nesta pesquisa me convenço de que a semelhança com os conjuntos habitacionais brasileiros por exemplo não são mera coincidência.
uma pena que não me deixaram fotografar, mas da pra refazer a imagem não dá?
me despeço de Seoul e vôo rumo a Tokyo daqui a uma hora.

Tuesday, May 8, 2007

da distância entre são paulo e minas

Depois da palestra de hoje na escola de arquitetura na Seoul National University, um aluno paulista de intercâmbio me diz no maior entusiasmo que Niemeyer, Costa, Artigas e Mendes da Rocha ele já estava cansado de ver, mas essa arquitetura interessante de Belo Horizonte ele nem sabia que existia, se referindo a edifícios que mostrei de Humberto Serpa, William Abdalla, Eolo Maia, Gustavo Pena e dos jovens Humberto Hermeto e Carlos Teixeira, além do nosso projeto premiado para a sede da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.
É que as vezes a distancia entre São Paulo e Minas vai pra mais de meio mundo.

primeiras impressões de Seoul

Minhas primeiras impressões de Seoul na Coreia do Sul são de uma São Paulo um pouco mais organizada e muito mais rica. A cidade tem um tecido bem parecido com o da maior metrópole brasileira, com edifícios altos ladeando as avenidas e a escala diminuindo gradativamente a medida em que se penetra nas ruas secundarias. Mas o dia não foi de muito passeio e sim de varias conversas com professores e arquitetos sobre as políticas habitacionais e as configurações dos apartamentos aqui. Aprendi por exemplo que o governo coreano tem prerrogativas legais para desapropriar qualquer área de interesse das políticas urbanas, repassando enormes glebas para a iniciativa privada construir seguindo novos coeficientes e diretrizes de assentamento. Ao mesmo tempo, para controlar a oferta de unidades habitacionais (acima de 1 milhão por ano antes de 1998, hoje perto de 500 mil) o governo impõe um limite máximo de preço de venda final. No melhor modelo asiático temos um governo forte intervindo pesadamente no setor habitacional para em seguida repassar tudo para a iniciativa privada. Intervencionismo diriam os neo-liberais! Entreguismo diriam os neo-esquerdistas! No entanto a Coréia do Sul saiu da ruína para a bonança em apenas 40 anos. Desconfio que temos muito o que aprender por aqui.

Friday, May 4, 2007

um concerto com três solistas











Acabei de voltar de Denver onde participei como guest critic das bancas finais do mestrado em arquitetura (projeto) na University of Colorado. Entre vários projetos interessantes com destaque para o projeto de uma brasileira sobre uma adição no campus de Cranbrook, fui na hora do almoço dar uma volta pelo centro cívico para ver o novo museu de arte moderna de Daniel Libeskind lá.
Fui meio que preparado para não gostar porque o museu judaico em Berlin me decepcionou muito, mas seguindo os sempre bons conselhos de Raul Smith, esse valia a pena. E vale mesmo. Concordo que o edifício é uma escultura, mas é uma escultura desenhada com esmero onde a ginástica expressiva do exterior gera espaços internos interessantes nas áreas mais publicas e deixa que a arte brilhe sozinha na maioria dos espaços. Lição aprendida dos museus de Frank Ghery, deixe a dinâmica para o teto, permita que as obras de arte sejam expostas em paredes neutras.
No caso de Libeskind em Denver o edifício dialoga bem com as obras de arte, vários espaços meio que escondidos ou apertados acabam sendo belas suspresas, os ambientes se separam e se articulam de forma a valorizar o percurso e as obras ao mesmo tempo. O ponto negativo fica com os 2x4 (caibros) pregados no chão para evitar que desavisados batam a cabeça nas paredes inclinadas.
Agora o que eu não sabia e acabou sendo outra grata surpresa é que o antigo museu onde agora se entra por uma passarela elevada é projeto de Gio Ponti. Bem mais sóbrio por dentro apesar de não menos marcante por fora apesar de certa sisudez, o edifício de Ponti tem passagens muito interessantes onde rasgos escultóricos na parede deixam a luz entrar de forma marcante, ditando o ritmo do interior.
E ainda completando o conjunto esta a biblioteca publica de Denver, projeto de Michael Graves que nós, formados nos anos 80, já vimos e revimos tantas vezes. Incrível como o tempo passa. Ha vinte anos atrás Denver estava no mapa da arquitetura por causa de Graves, hoje ninguém se lembra e foi Daniel Libeskind quem me fez andar meia hora ate o centro cívico. Provavelmente a turma que se formou nos anos 70 tinha Gio Ponti como figurinha repetida, hoje um clássico do modernismo tardio.
De qualquer forma, é muito interessante ver que área cultural de downtown Denver consegue fazer um concerto com três solistas, um cantando boleros, outro pop e o terceiro musica eletrônica. Claro que não sai nenhuma sinfonia dali mas em tempos de IPod, cada um escuta sua trilha sonora.