Sunday, October 26, 2008

digital fabrication feita à mão.


acabei de voltar de Urbana-Champaign, onde fica a universidade de Illinois. Chegando lá eu juro que achei, pela minha posição atrás da asa, que o avião estava descendo no milharal.

é que bem no meio do milharal existem duas cidades gêmeas, Champaign e Urbana, sede de uma excelente universidade com quase 40.000 alunos. A escola de arquitetura que sediou esta conferência sobre digital fabrication tem sozinha mais de 800 alunos, sendo 200 no mestrado.

sobre a conferência em si muita conversa e pouca coisa nova, gente usando CNC Router e Laser Cutter para todo tipo de experimentação.
o melhor (tirando as conversas de corredor), foi a palestra de Bill Massie. Massie coordena o programa de mestrado em Cranbrook, a famosa escola de Arts & Crafts fundada por Eliel Saarinen nos anos 20.

num outro post prometo escrever sobre Cranbrook e seus programas não-certificados de mestrado.
o que eu quero escrever hoje é sobre esta linda e paradoxal casa que Massie construiu com 3 alunos dentro do seu estúdio e pôs em exposição pública no gramado da escola. A casa foi toda construída com materiais comprados no Lowes ou Home Depot (as telha nortes daqui).

e o que a casa tem de mais lindo tem também de mais contraditório. A curva do telhado e a oval do banheiro foram cortados a lazer e deveriam celebrar o potencial das ferramentas digitais. Mas enquanto Massie mostrava centenas de fotos da casa sendo construída dentro do estúdio eu não pude deixar de reparar que tudo foi montado à mão, lixado à mão, emassado à mão, pintado à mão.


me lembrei das maçanetas de Warchavchik, fundidas uma a uma a partir de um molde para serem idênticas ao original que era um pedaço de tubo dobrado à máquina.

10 comments:

Mário do Val said...

Muito curioso isso: o projeto e concepção das peças do "objeto" segue um rigor sobre-humano com essas máquinas de prototipagem digital. Mas aí, na hora de montar, é uma atividade tão artesanal quanto assentar tijolo.

A tecnologia ainda tá devendo um robô para montar tudo isso. Como os pavilhões que os alunos da AA constroem todo ano na frente da escola. O maior avanço até agora - e que faz tudo ser possível - é o topografo: http://aalog.net/?p=3426

juliana m. said...

Ei Fernando,
A casa é linda. Parece que há algum problema com os caixilhos, não sei qual. Tem? Agora esse paradoxo da construção é o que a gente vive no brasil no dia a dia. O modo de construir é quase arcaico, e a gente tentando ser pós pós sei lá o que.

Marcelo Palhares Santiago said...

contradições... lembrei do Sr Niemeyer e a cúpula invertida de 'concreto' no palácio do planalto em brasília. A estrutura trabalhando no pior sentido dos esforços para o concreto (tração) era nada mais do que uma bacia de aço, ou 'ferro a milanesa' como disse Lúcio Costa. Mas contradições por contradições, gostei muito do resultado da casa...

Marcelo Palhares Santiago said...

correção... onde eu disse palácio do planalto leiam: congresso nacional.

Anonymous said...

Seria um método tecnológico artesanal? Pois pelo que entendi eles usaram as duas técnicas não é? Moldelagem no computador e na mão, ou não?

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...

É o homem a serviço da tecnologia e vice versa.

Anonymous said...

Gostei da casa. mas, gostaria de saber mais detalhes sobre os sistemas construtivos. Quais os materiais utilizados? Nunca via nada similar no Brasil...

Fernando L Lara said...

annima e ricardo,

a casa é estruturada em aço leve e fechada com um gradeado de madeira preenchido com isolante termico (lã de vidro). O revestimento externo nao tenho certeza, acho que é vinil. O bacana da casa (claro que ela foi toda modelada em 3D diversas vezes) são as curvas do telhado e do banheiro em que as peças saem direto da modelagem 3D para o corte a laser. A partir daí acabou o processo digital e tudo é encaixado e lixado e emassado e pintado cuidadosamente à mão.

Fernando L Lara said...

juliana,
eu acho que a parte de baixo dos caixilhos bascula para fazer a entrada de ar fresco, daí eles parecem mais espessos. É isso?

Anonymous said...

eu sou sempre muito prosaico, mas vamos lá: a depressão da cobertura é belíssima, mas cumpre alguma função? e não acumula água aí? com uma foto de frente talvez desse pra entender melhor...