Saturday, March 8, 2008

por uma cidadania global


espero estar vivo quando o século XXI chegar a sua metade só para ouvir meu neto ou neta adolescente perguntar se é mesmo verdade que no início do século pessoas eram impedidas de entrar neste ou naquele país, ficando as vezes presas durante várias horas em salas obscuras nos subsolos dos aeroportos.


espero poder mostrar meus velhos passaportes verdinhos cheios de vistos, e explicar que era assim mesmo, que para poder viajar, estudar ou trabalhar, tínhamos de enfrentar filas no consulado e gastar uma grana substancial para solicitar um visto que podia ser negado sem nenhuma explicação, e que mesmo depois de todo esse trabalho alguns ainda eram barrados no aeroporto porque tinham “cara” de imigrante.

pode parecer excesso de otimismo ou romantismo mas não vejo outra alternativa já que o sistema atual está completamente caduco e não acompanha a velocidade das transações ou mesmo do transporte de cargas que movimenta o mundo.

aliás, fica aqui minha critica à direita e à esquerda. À direita por defender sempre o livre trânsito do capital que implica também o livre trânsito da elite globalizada sem entender que neste modelo o livre trânsito do trabalho terá de acontecer, mais cedo ou mais tarde. À esquerda, tradicional defensora dos direitos humanos, que por estar obcecadamente amarrada à moldura do estado-nação, não tem nenhuma resposta viável ao desafio contemporâneo da migração, sejam latinos nos eua, argelinos na frança e agora descobrimos, brasileiros na espanha.

por isso espero que este sistema de passaporte, visto e carimbo esteja com os dias (ou eu diria décadas) contados. Das duas alternativas possíveis: restringir tudo ou liberar tudo, fico com a segunda. Que todos os 6 bilhões de habitantes deste planeta tenham a chance de exercerem suas habilidades, no lugar que mais lhes convier ou que lhes ofereça o melhor retorno. Se isso implica que todas as enfermeiras serão filipinas, todos os designers finlandeses, todos os motoristas de táxi paquistaneses e todos os dentistas brasileiros, que assim seja.

por mais inviável que pareça no momento, espero sinceramente que lá pros idos de 2050 ninguém, mas ninguém mesmo seja penalizado na vida porque nasceu neste ou naquele lado de uma fronteira.

7 comments:

Anonymous said...

Minha namorada, que está aqui comigo em Barcelona temporariamente até final de abril, ao passar pela imigração aqui em Barcelona, já que em Madrid ela só trocou de aeronave, pediram tudo. Só faltou pedir para que tirasse a roupa. Ainda bem que ela tinha dinheiro vivo nas mãos, bilhetes de passagem aérea para França e Roma, para dizer que iria fazer turismo. A carta do curso de castellano que ela veio fazer aqui em Barcelona, a carta do Hostal que ela iria ficar, seguro saude e cartão de crédito internacional. Mesmo assim, a mulher ao carimbar o visto dela olhou ela de cima a baixo, com desdenho de não poder manda-la novamente ao Brasil e deixou ela passar. É triste, muito tirste tudo isso.

Anonymous said...
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Mário do Val said...

Reza uma lenda que certa vez o estudante Julinho entrou no atelier do papai Vilanova e viu em cima da prancheta um corte do prédio da FAUUSP: "Nossa papai, que prédio bonito. É o prédio mais bonito que já vi na minha vida. No que o velho João Batista respondeu: "É, mas você vai ver a gentinha que eu vou por lá dentro."

Pelo jeito o Rogers poderia ter falado a mesma coisa pro Rogers Jr. quando desenhou o aeroporto de Barajas.

Rossin said...

Adorei o coments do Val...nem preciso dizer que parte....ou preciso?

Fernando L Lara said...

Bom, ja que eu propus a extinção de todas as fronteiras, passaportes e principalmente vistos, posso tambem propor a extinção do vestibular, da seleção para a pos-gradução e quem sabe até o fim dos concursos para professor...

Mário do Val said...

Fim do começo, fim do fim... você tá lendo Eisenman Fernando?

Eu acho razoável haver certo controle alfandegário. Quer dizer, nunca vi isso como um problema. Complica quando, em épocas eleitorais, o governo fica arrumando bode espiatório pra manobras, principalmente as que tocam a paranóia coletiva. Como não explodiram nenhum mísero vagão às vésperas dessas eleições, o Zapatero precisava mostrar serviço.

Fernando L Lara said...

concordo Mário, na minha terra isso se chama jogar para a torcida. Dribles que fazem todo mundo levantar e aplaudir mas no final continua o zero a zero.