atendendo a dois pedidos faço hoje um post curtinho sobre o processo de licença profissional aqui nos EUA, primeiro porque o assunto merece muitos e muitos post no futuro, e segundo porque é carnaval e ninguém vai ler mesmo até quinta-feira….
é o seguinte: quem dá a licença profissional é o estado, e cada estado tem uma prova um pouco diferente da outra, mas no geral o candidate precisa ter um diploma de curso de arquitetura (graduação ou mestrado profissional) e acumular um número X de horas em cada tipo de atividade: projeto, detalhamento, especificação, acompanhamento de obra e etc…
só então pode se inscrever para a prova, que é muito chata e baseada nos códigos de obra.
acontece que o mestrado profissional (MArch) vale muitos pontos, o que incentiva a todos os jovens graduados a cursar o mestrado porque conseguem-se empregos melhores, mais experiência, além de contar bastante na hora de fazer a prova do licenciamento.
ah, e você pode ter graduação em biologia ou literatura, não importa, se cursou o mestrado profissional de arquitetura em uma universidade credenciada, pode se inscrever para a prova que dá direito ao exercício profissional pleno.
por isso os programas tradicionais de 5 anos de graduação estão aos poucos desaparecendo por aqui, sendo substituídos por um sistema chamado 2+2+2.
são 2 anos de formação geral humanística (tipo sociologia, física, desenho, historia da arte, etc…), + 2 anos da escola de arquitetura (studio, estrutura, construção, cad, teoria e história) + 2 anos de mestrado também com studio, teoria, estruturas, materiais….
com isso a formação básica acaba levando uns 8-10 anos sendo 2 anos de college, 2 anos de escola de arquitetura, 1 ou 2 anos de trabalho depois de terminada a graduação, 2 anos de mestrado e mais uns 2 anos até acumular todas as horas necessárias para se inscrever para a prova no seu estado.
parece muito?
ou nos nossos 5 anos com CREA automático é que parecem pouco?
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
9 comments:
Fernando, obrigada pelo post. Foi bastante esclarecedor. Eu fiquei aqui pensando: 1- me parece uma boa ideia a questão do número X de horas exigido, pq exige do aluno/profissional uma experiência prática e evita por exemplo um aluno que nunca estagiou (ou vivenciou uma obra - pq isso acontece) tenha um "CREA", evitando assim que o recem-formado ainda não devidamente qualificado exerça plenamente a profissão, ou seja, uma fase intermediária entre o fim do curso (tão cercado de duvidas e incertezas) e o ingresso no mercado de trabalho; 2- me pareceu estranho um profissional da area de biologia, por exemplo, pode exercer profissionalmente como arquiteto - nao consigo imaginar isto na prática! não causa rivalidade entre os profissionais, não?; 3- interessante o sistema de formação básica - pensando no que estamos acostumados, parece muito tempo mesmo! mas também pode ser uma opção para evitar certas distorções, "preparando o terreno" para o ingresso efetivo do profissional. Desculpe pelo tamanho do comentário. Valeu! :) Paula Vieira.
O problema acho que não seria o total de anos de estudos, mesmo eu achando que é muito importante. Só acho que deveríamos é ter uma prova como essa, para saber o que realmente aprendemos na universidade. Esse Crea automático é ridiculo, ja deveriam ter trocado esse sistema faz tempo.
Conforme meu blog mostra, eu gosto dessa idéia de formação + estágio + exame = arquiteto.
Só que dentro deste quadro cabe muitas variações, que tem atores diferentes para acontecer.
Cinco anos, até onde eu sei, é o tempo médio de graduação em arquitetura no mundo. Acontece que os cursos são muito mais rígidos e dificilmente os alunos acabam concluindo-o nesse período. Acho que aqui entra duas variáveis: o que o aluno, em média, já tem de formação antes de entrar no curso e o que ele aprende nele. Aí entramos numa nóia sem fim. Sei que existem vários cursos diferentes e muito bons, vários estilos de ensinar que conseguem bons resultados.
Sobre o estágio-residência, e a desvinculação do registro com a formatura, acredito que valoriza a formação. Principalmente porque, salvo exceções, os estágios em arquitetura (pelo menos aqui em SP), acabam sendo mais nocivos do que benéficos aos estudantes. Normalmente sugam o aluno e o desviam de seu intuito inicial que é se graduar. Com esse sistema americano (e outros similares), o estudante não se vê obrigado a estagiar durante a graduação como é aqui. Por outro lado, a importância do estágio na formação global é mantida: se você não trabalhar, não é arquiteto.
Um exame da ordem, tal como acontece com a OAB, seria uma excelente idéia para o CAU (se um dia ele existir) implantar por aqui. Melhor ainda se seguir os exemplos citados aqui e no meu blog (RIBA na Inglaterra) e ter como pré-requisito a experiência profissional. Tenho certeza que os primeiros índices de admissão seriam baixíssimos. É uma medida que, creio, possa ser colocada de maneira mais radical. Ia quebrar a perna de muita escola de arquitetura por aí. Inclusive as renomadas. E, à exemplo da OAB, ia filtrar a atividade profissional e, de quebra, forçar as escolas a elevar seus níveis.
Falta só os arquitetos conquistarem o "respeito" que os advogados tem na sociedade.
queridos,
bem vindos a blogosfera depois do carnaval.
Paula, eu no principio tambem estranhava isso de biologo ou sociologo poder se tornar arquiteto, mas o mestrado profissional em 3 anos eh tao rigoroso e o aluno ja formado eh tao mais esperto que eu acho que a maioria se forma realmente pronto para exercer a arquitetura.
E Ricardo, aqui tambem tem estagio-exploracao, principalmente em escritorios famosinhos. Lembre-se que Frank Lloyd Wright cobrava dos estagiarios, como se fosse mais um ano de escola.
E Mario, concordo plenamente com voce. Acho ainda que nem todo mundo precisa da mesma licensa profissional. Dependendo da atuacao, o aluno poderia enfatizar o que quisesse (interiores, cenario, lay-out de escritorios) e moldar o curriculo ao seu gosto, sem obrigacao de aprender hidraulica e calculo de concreto.
bom ter voces de volta,
Fernando
Olá colegas. Pois eh, Mario eu tb gosto dessa ideia de estágio-residência. Pq o que eu mais tenho visto ultimamente é o aluno "barata tonta" (rsrs) sem saber para onde ir, tem que estagiar e estudar. Aí alguns podem dizer, mas vc queria o que, tem que ser assim, vc quer moleza? Não, não quero moleza, mas acredito que está havendo uma sobrecarga e desvio de objetivos. Pois o que vejo é o aluno cursando aos trancos e barrancos a graduação em um turno e prolongando sua jornada (as vezes tarde e noite) em escritorios de arq, mas desenvolvendo a função de meramente um desenhista de cad. E o que ele aprende de fato?! Aí alguns podem dizer, mas ele estagia em local assim pq quer? Mas as vezes a pressão por estagiar (e ter a carga horária necessaria) e tão grande que se o aluno "não dançar conforme a música", ele "dança mesmo" e aí sai da faculdade sem a tal experiência, nem q esta seja a de mero reprodutor de plantas baixas e cortes. Não sei se estou exagerando ou querendo moleza (rsrs), mas é isso aí. Até mais. Bom restinho de semana, Paula
Será que o Richard neutra pagou para estagiar com o FLW???
Fernando,
faltou vc falar de uma coisa: o custo de um mestrado destes.
Pelo que andei lendo, não é barato não...
Max, ai vao os numeros:
o mestrado em uma univrsidade particular (Harvard, Princeton, Yale, Columbia) deve custar mais ou menos 30,000 dolares por ano so de taxa da escola, ou no minimo 100,000 o curso todo quando se soma os gastos de moradia e etc porque nao da pra trabalhar muito, o curso eh tempo integral entao os alunos so conseguem ter uns trabalhos de horario picado tipo caxa de supermercado, garcom, entregador de pizza etc... Numa universidade publica, (Michigan, Texas, UCLA, Berkeley) os residentes do estado (que moram la legalmente por mais de 5 anos) pagam bem menos, entre 3 a 5 mil por ano. Mas os custo de vida eh o mesmo entao diria que um mestrado sai pela metade, 50.000 por dois anos.
Ricardo, nao sei se o Neutra pagou, mas o jovem Kaufman pagava para estagiar e FLW ainda convenceu o pai dele a construir uma casa de campo bem em cima da cachoeira da fazenda.... o resto eh historia.
Ei Fernando,
interessante saber desse sistema, mas tem algumas coisas meio estranhas a primeira vista, como o fato de pessoas de outras áreas poderem exercer a arquitetura. Fiquei com uma dúvida: como o arquiteto prova que tem experiência na área x ou y e por um tempo determinado? Preenche um formulário? Apresenta portfolio? Carta de algum escritório em que trabalhou?
Beijo!
Post a Comment