Tuesday, December 18, 2007

sobre a Coréia




um dia pra ir, duas horas pra voltar e quatro dias de trabalhos intensos foi o meu resumo da viagem a Coréia para ser jurado do concurso em Daejeon. Cinco jurados e dois consultores, nós estávamos todos no mesmo andar do mesmo hotel, tomavámos café juntos, íamos juntos para o prédio da Korean Land Corporation, promotora com concurso, almoçávamos juntos, mais trabalho juntos, jantávamos juntos. Um dos membros do juri chamava a nossa rotina de sequestro: day one of the hostage crisis, day two of the hostage crisis.....

mas por isso mesmo resolvi escrever sobre meus colegas de juri nesses 4 intensos dias:
Jaepil Choi foi nosso anfitrião, o organizador do concurso. Unkjoong Kim era o consultor, arquiteto responsável pelo projeto junto a prefeitura da Daejeon, incumbido de continuar o trabalho junto com o vencedor do concurso. Peter Drooge nasceu na Alemanha logo depois da segunda guerra e depois de estudar e dar aulas no MIT, se mudou para a Australia onde vive. Seung H-Sang formou-se na Coréia em 1975 e foi logo trabalhar na embaixada coreana nos EUA, seu primeiro projeto. H-Sang tem um escritório movimentadíssimo e visitamos um de seus prédios recém inaugurado que merece um post em breve.

aqui a coisa começa a ficar interessante. Shiling Zheng nasceu na China em 1942, quando o país ainda estava sob invasão japonesa e o Kuomintang ainda disputava o poder interno com os Comunistas liderados por Mao. Aos 7 anos de idade ele veria Mao Zedong unificar o país (menos Taiwan) sob o regime comunista e o resto quase todo mundo sabe. Quando alguem perguntou como ele havia sido impactado pela revolução cultural, Prof. Zheng disse que na época (final dos anos 50) ele já sabia desenhar e pintar bem então ao invés de ser mandado para a fronteira agrícola foi mandado para a escola de arquitetura onde trabalhava pintando retratos de Mao. Prof. Zheng foi vice-reitor da Universidade de Tongji e é presidente honorário do Instituto de Arquitetura de Shanghai.

e de todos quem mais me impressionou foi Sungjung Chough. Nascido em 1940, também sob ocupação japonesa, numa cidade que hoje fica na Coréia do norte, Chough viu o país ser dividido em 1945 com o final da segunda guerra e a derrota do Japão. Como toda sua família estava no lado sul, sob ocupação norte-americana, a Chough percorreu 80 km em 9 dias, a maior parte do trajeto a pé, para tentar se juntar aos familiares em Seoul. Nos anos 50, conta ele, seu pai várias vezes lamentou a mudança porque os vizinhos do norte pareciam mais ricos e mais satisfeitos e no sul a devastação da guerra da coréia (1950-53) tornava a vida muito difícil. Quando a situação melhorou Chough foi estudar em Berkeley (movimento hoje imitado por milhares de jovens coreanos todos os anos) e ficou pelos EUA por cerca de 15 anos. De volta a Coréia montou um escritório com um amigo dos tempos de faculdade e entre vários projetos fantásticos um se destaca: o estádio de Jeju que ilustra este post, construído para a Copa do Mundo de 2002.

como dá pra perceber eu era o junior desta turma e aprendi muito com eles nesses 4 dias de intensas discussões que nos levaram a um bom e justo resultado, na minha opinião.

e das conversas com Sungjung Chough ficou a saudade do casamento entre futebol e arquitetura que quase consegui fazer quando projetei um centro de treinamento para o Reinaldo de Lima, ele mesmo, o Rei do Mineirão entre 1976 e 1985, infelizmento construído apenas parcialmente.

mas quem sabe a CBF não resolve fazer a coisa certa abre concursos para todos as reformas e os novos estádios. Não custa sonhar e acreditar em dias melhores como ensinariam meus colegas chineses e coreanos.

1 comment:

Fernando Galvão said...

Oi Fernando,

Essa "rotina de sequestro" deve ter sido de um aprendizado e tanto. Parabéns pela participação!

Abraço,

Fernando.