Tuesday, October 30, 2007

arquitetura na universidade

ontem passei a tarde na Parsons [New] School of Design e em decorrência da conversa com Kent Kleiman estou até agora matutando sobre a difícil relação entre a universidade e as escolas de arquitetura.

Kent me falava sobre as dificuldades de dirigir uma tradicional escola de design - a Parsons - que a pouco mais de duas décadas foi incorporada por uma tradicional universidade com foco nas ciências sociais - a New School for Social Research, baluarte da esquerda norte-americana. Daí o novo nome: Parsons the New School of Design.

de certa maneira o dilema da Parsons é comum a grande maioria das escolas de arquitetura: a ênfase em pesquisa e a medida de sua excelência através de publicações não se aplica diretamente à arquitetura. A Parsons tem 110 professores, 15 de tempo integral e 95 de tempo parcial. Com isso a escola atrai os melhores arquitetos de Nova York (e não são poucos) e consegue se manter como pólo de intensa criatividade.

claro que as diferenças geram atrito com a administração da universidade que muitas vezes tem muita dificuldade em compreender a especificidade de uma exposição ou todo o esforço colocado num concurso ou num projeto construído.

pode parecer contraditório (se olharem meu currículo verão dezenas de artigos publicados e poucos projetos) mas acredito piamente que não se consegue formar uma escola de arquitetura de excelência só com professores doutores em dedicação exclusiva que passam a maior parte do tempo escrevendo projetos de pesquisa, relatórios e artigos. Falta alguma coisa, ou melhor, falta muita coisa: falta o exercício do projeto, da maneira que for possivel.

nesse sentido, acho que a obrigatoriedade de dedicação exclusiva é um dos maiores entraves à melhoria do ensino da arquitetura atualmente. Revogue-se a dedicação exclusiva e dezenas de jovens arquiteto/as voltarão correndo para ensinar nas UFES onde se formaram, possibilitando o efetivo casamento entre boa teoria e boa prática. Mantenha-se a dedicação exclusiva e estes mesmos jovens continuarão ensinando em escolas onde a inovação e a pesquisa são caras demais seus balancetes semestrais.

o modelo Parsons funciona em Nova York e Los Angeles (Sci-Arc), pode ser que funcione também em São Paulo, mas para por aí.


Thursday, October 25, 2007

o corretor joga contra ou a favor?

no quinto post da série “como comprar um apartamento”, tratarei da difícil e muitas vezes frustrante relação com o corrector de imóveis. Dado que corretores costumam odiar arquitetos via de regra (sempre fazemos perguntas inconvenientes) não tenho mesmo muito a perder então contarei sobre o experimento (científico diga-se de passagem) de Stephen Dubner and Steven Levitt no livro “freakonomics”.

é o seguinte: Levitt, o economista da dupla, queria saber se vale mesmo a pena usar um corretor de imóveis para vender sua casa ou apartamento. Os dados (transações imobiliárias nos EUA são dados públicos e não tem essa de passar escritura por menos) mostram que imóveis vendem mais rápido quando se usa a rede de contatos de um corretor. Mas Levitt não estava satisfeito apenas com a questão do tempo, porque vender rápido não significa vender bem e resolveu comparar imóveis em geral com aqueles de propriedade do próprio corretor. Usando sua cidade de Chicago como balão de ensaio, Levitt percebeu que os imóveis de propriedade dos corretores demoravam em média 3 semanas a mais para serem vendidos mas alcançavam um preço 10% superior (corrigindo estatisticamente por todos os outros fatores como localização, área, idade, etc...)

a explicacão é simples. Como o corretor ganha 6% do valor da transação, tem muito pouco incentivo para esperar para vender algum tempo depois por um valor 10% maior. Nesse meio tempo, além de correr o risco de perder o comprador, o corretor teria pelo trabalho de mostrar o imóvel diversas vezes um ganho de apenas 6% de 10% ou seja 0.6%. Ora, entre ganhar 6% hoje ou ter que trabalhar mais para talvez ganhar 6.6% daqui a várias semanas, o corretor invariavelmente trabalha para que o negócio seja fechado hoje mesmo. O que Levitt brilhantemente percebeu foi que quando é o seu próprio imóvel que está a venda, os corretores se esforçam para alcançar um preço 10 ou 15% maior, mesmo que tenham de esperar mais tempo.

lembre-se disso na hora de vender seu imóvel: um bom corretor pode prestar um serviço importante com sua experiência em transações imobiliárias, mas estará quase sempre interessado em fechar logo o negócio, muitas vezes em detrimento do seu interesse como proprietário.

Tuesday, October 23, 2007

furacão Teddy Cruz



Teddy passou por aqui, deu uma palestra ontem para um auditório lotado, tomou café hoje com alguns professores conversando sobre a necessidade da arquitetura investir em diversidade (ainda somos uma profissão de homens branquinhos, apesar dos lentos progressos), almoçou com um grupo de alunos e se mandou para NY, para daí voltar correndo pra San Diego antes do final da semana pra ver se sua casa não pegou fogo.

conheço Teddy a uma década e ele sempre foi assim, apressado, multi-tasking, atencioso e um orador inflamado que consegue como ninguém levantar questões complexas de ordem social e ainda ensaiar uma resposta de ordem arquitetônica.

seu trabalho na fronteira entre San Diego (que ele chama de a maior gated community do mundo) e Tijuana é mesmo inspirador. Numa pesquisa quase antropológica, Teddy vai fundo na análise das trocas entre o capital norte-americano e o trabalho mexicano para entender como estas transformações repercutem na arquitetura. A partir daí ele movimenta ONGs, associações de bairro e até o departamento de planejamento urbano da cidade, em busca de uma arquitetura mais socialmente responsável sem deixar de ser esteticamente avançada.

ano passado ganhou um premio importante do CCA (canadian center for architecture), tem sido chamado para quatro em cada cinco bienais e este ano viu seu trabalho ganhar as páginas do New York Times.

vale a pena ficar de olho em Teddy Cruz

Sunday, October 21, 2007

Chavez e Bush se merecem

Se havia dúvidas quanto ao projeto de poder perpétuo de Hugo Chavez, elas evaporaram ontem com o congresso da Venezuela aprovando uma extensão do mandato atual e a possibilidade de reeleição continua do líder bolivarista. Some-se a isso o fechamento de jornais e TVs oposicionistas e está pronto o circo de uma pseudo-democracia de esquerda.

Ao mesmo tempo aqui no norte as coisas não vão nada bem. Por mais que eu torça para os democratas voltarem a casa branca no ano que vem, me incomoda muito a sequencia Bush-Clinton-Clinton-Bush-Bush-Clinton? Se isso não cheira a democracia e sim a aristocracia não é por falta de fumaça indicando de onde vem o fogo.


Voltando a Chavez, é triste ver que uma grande parcela da esquerda prefere ignorar os ataques a democracia e o desmonte das instituições venezuelanas, vibrando a cada bravata do coronel. Nesse sentido, a esquerda chavista e a direita religiosa norte-americana são farinha do mesmo saco: bravatas podem ate ganhar eleição (infelizmente) mas não melhoram a vida de ninguém. Alguém tem visto os índices da Venezuela melhorando? Alfabetização, mortalidade infantil, saneamento? E os índices aqui nos EUA que seguem uma trajetoria de desigualdade acelerada desde 2000, coincidência?

Enquanto isso, parece que estamos perdidos e absolutamente órfãos de propostas que possam diminuir a desigualdade e ao mesmo tempo premiar o esforço pessoal.

A crise está ai na porta, cadê as oportunidades?

Thursday, October 18, 2007

vida longa ao desenho




foi por causa da charge abaixo e da dica do Humberto que eu encontrei todos os desenhos que fazem parte do FIQ, Festival Internacional de Quadrinhos que acontece agora em BH,
entre todas as homenagens ao nosso centenario arquiteto, esta me parece das mais singelas e corretas ao celebrar o desenho, veiculo fundamental das obras de todos nos mas principalmente de Oscar Niemeyer

politica e incorretamente


só pra descontrair, acabei de dar uma aula tentando explicar Brasilia e Curitiba pros alunos gringos aqui e na sequência encontrei esta charge do Alan Sieber que deveria ter sido o slide inicial da aula, não fosse a hegemonia do politicamente correto que impera por aqui.


salve o direito de fazer piada que nos salva da tragédia de nos levarmos demasiadamente a sério.

Wednesday, October 17, 2007

kazuyo sejima




Kazuyo Sejima é uma das minhas arquitetas favoritas. Não só por ser uma das raras mulheres nesse clube do bolinha que é o star system arquitetônico, mas principalmente por demonstrar uma sensibilidade muito acima da média nos seus projetos.


o projeto do edifício de apartamentos em Gifu ( gifu kitagata apartments) é um raro exemplo em que a composição do morar coletivo foi repensada e reorganizada. No caso a circulação coletiva corre paralela a uma das fachadas enquanto a circulação interna do apartamento corre paralela a fachada oposta, gerando um espaço muito mais aproveitável ao mesmo tempo em que mantém a estrutura tradicional da sequência espacial e dos níveis de provacidade. Ver desenhos e plantas aqui.


seu primeiro edificio nos EUA, a sede do New Museum of Contemporary Art, fica no lado oeste de Manhattan, bem perto do lincoln tunnel que liga com New Jersey. Prometo visitar em dezembro quando for inaugurado e escrever mais, mas vale a pena ver esse video montado a partir de fotos da construção sobrepostas, tiradas a cada 10 minutos e comprimidas a 1/16 de segundo.


uma obra inteira condensada em 90 segundos, que tal.

Friday, October 12, 2007

fora da ordem

tomando a temperatura do debate sobre a comunidade arquitetônica na blogosfera, aqui vai meu pedacinho de lenha sobre uma questão que movimentou nossas caixas postais esta semana:

a comissão de área da CAPES acabou de divulgar o resultado do Qualis que funciona como um ranking dos periódicos da área, e é usado para avaliar também as publicações dos professores de todos os programas de pós-graduação do país.

e para surpresa de muita gente , o periódico online Arquitextos foi classificado como Nacional B, o que significa basicamente que seria uma publicação de repercussão nacional de segunda classe.

o mesmo ranking classifica como Nacional A os seguintes periódicos:
Topos (NPGAU/UFMG); Risco (São Carlos); Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Paisagem e Ambiente; Infodesign (SBDI); Espaço & Debates; Cadernos Metrópole (PUCSP); Arte & Ensaio (UFRJ); Anais do Museu Paulista. A lista completa esta disponível aqui.

sem querer fazer nenhum tipo de julgamento, porque s
ão todos periódicos sérios, cabe perguntar: quantos de nós (incluindo professores doutores com dedicação exclusiva o que é mais ou menos o meu caso), leêm regularmente os acima citados?

na última vez que perguntei ao Abílio Guerra, o Portal Vitruvius tinha 2 milhões de visitantes por ano (2005), e não me espantaria se este número estiver agora acima de 3 milhões ou 10.000 visitas por dia.

e pra piorar, aqui vão listados todos os critérios que a comissão de área usou a para a classificação: (disponível na íntegra aqui)
Conselho editorial internacional, contando com consultores de reconhecida competência na área e/ou Editor-chefe de competência reconhecida. Diversidade institucional e geográfica da autoria, do corpo editorial e dos pareceristas. Periodicidade regular, com pelo menos cinco números publicados. Registro no ISSN. Possuir linha editorial definida. Apresentar expediente completo, inclusive com indicação da forma de seleção de trabalhos.

todos atendidos plenamente (conferir aqui) por Arquitextos!!!!

alguma coisa está fora da ordem,
bem fora da ordem.

Wednesday, October 10, 2007

location location location

continuando a série Como Comprar um Apartamento, escrevo hoje sobre o princípio número 1 do valor imobiliário: tudo se baseia na localização.

a idéia é antiga, faz parte do folclore do mercado imobiliário, mas será um componente essencial do preço? De acordo com os pesquisadores Bernardo Furtado (UNA-BH) e Ricardo Ruiz (UFMG) sim, a localização é o fator que mais influencia o valor do imóvel, estatisticamente falando. Ou seja, controlando por todas as outras variáveis: área, acabamento, amenidades coletivas,vagas de garagem, número de quartos, a localização é a que tem maior influência direta no preço final.

mas porquê faz sentido mercadológicamente pagar as vezes o dobro por literalmente o mesmo imóvel só por causa da localização?
na teoria, os economistas explicariam assim: existem áreas com melhor infra-estrutura que outras, mais área verde, mais acessibilidade, melhores escolas, melhores hospitais, melhor comércio e etc.... como cada família tem uma renda diferente, as que podem pagar mais conseguem comprar seu espaço nas áreas melhores e assim por diante até aqueles que não tem como pagar nada. Se alguma variável nova entrar na equação (um novo centro comercial, uma mudança no trânsito ou o aumento da violência na favela vizinha) os agentes (moradores) vão se ajustar a nova realidade se mudando dali ou para acolá, puxando o preço médio para baixo ou para cima.

Furtado e Ruiz explicam que a correlação entre valor da terra e renda média é tão grande que pode-se trocar um pelo outro nos modelos matemáticos de análise.

na prática, são inúmeros os artifícios mercadológicos para “puxar” a valorização de uma determinada área. Desde apropriação indevida do nome (bairros vistos como bons costumam crescer enquanto bairros decadentes vão encolhendo com o passar do tempo); passando pela ênfase apenas nos aspectos positivos ou mesmo a manipulação dos ritmos diários na hora de visitar o imóvel (as 10 da manhã o trânsito é calmo pode-se manter as janelas fechadas sem maiores problemas, agora as 6 da tarde.....)
então a minha primeira recomendação é estudar com cuidado a vizinhança do imóvel que você tem em mente. Visite o quarteirão em diferentes horas do dia; pesquise preços de alguns meses atrás (porteiros são ótimas fontes de informação longe do corretor); considere bairros menos nobres onde seu dinheiro pode certamente comprar um apartamento melhor.

e lembre-se do que diz o próprio nome: seu apartamento é Imóvel, não pode ser rebocado caso você não goste da vizinhança.

Monday, October 8, 2007

majora carter


antes



depois




o South Bronx é uma das áreas mais degradadas dos EUA. Concentra usinas de reciclagem de lixo, estações de tratamento de esgoto e uma rede de viadutos de expressways mais ou menos dez vezes maior que o minhocão em São Paulo.

no meio disto tudo vive uma população cuja renda média é 23.000 doláres (10.000 per-capita significa mais ou menos a linha de pobreza), com um desemprego na casa dos 25% e que enfrentou décadas de “loan-red-lining” ou seja, os bancos se recusavam a financiar a compra de moradias na área. Isso tudo só aumenta a exclusão e impede a valorização da área, que empobrecida acaba recebendo mais vizinhos indesejáveis.

pois foi no meio disto tudo que Majora Carter fundou o Sustainable South Bronx, uma ONG dedicada a reverter a situação de pobreza absoluta através de melhorias no meio ambiente.

desde 2001 o SSBX já recolheu toneladas de lixo, revertendo áreas abandonadas na beira do Bronx River em áreas verdes e quadras de esporte. Mais recentemente, conseguiram que a cidade abandonasse um projeto de ampliação de uma autopista (imaginem!!!!) para transformar toda a área em um grande parque de 2km de extensão.
atualmente Majora Carter luta contra um projeto de instalação de uma prisão em uma área.


como Majora disse hoje aqui em Michigan, o movimento ambientalista tem tudo para se tornar o “civil-rights-movement” do século XXI se formos capazes de pensar a justiça social e a justiça ambiental como duas faces da mesma moeda.

Thursday, October 4, 2007

sobre a pesquisa

o New York Times de hoje traz uma grata surpresa: um artigo de Larry Rother (aquele mesmo das gordinhas em Ipanema e da cachaça do Lula) sobre a excelência da Embrapa.

o texto enaltece a qualidade das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa e a importância destas para a expansão agricola brasileira das ultimas décadas, principalmente no cerrado.

o que me faz pensar na distância entre a pesquisa universitária e a indústria da construção civil. Necessidade de melhoria no ambiente construído não falta. Pesquisa também não falta. Mercado e escala para receber inovação também não.

mas ao contrário das areas ligadas a produção agropecuária, as pesquisas sobre o ambiente construído ficam acumulando poeira em estantes ou gavetas,

acho que quem conseguir reverter este ciclo merece ficar milionário.

Wednesday, October 3, 2007

quanto mais longe mais triste?

William McKibben acabou de dar uma palestra aqui em Michigan. Entre as idéias que mais me chamaram a atenção o autor de Deep Economy e idealizador do movimento Step it Up soltou a seguinte provocação:

desde 1956 uma pesquisa aqui nos EUA constata a cada ano que menos pessoas se dizem felizes, na exata proporção inversa do poder de compra ou do crescimento da economia. Tal tendência vale claro para indivíduos cuja renda percapita está acima de 12.000 dólares por ano, ou seja, acima da linha de pobreza.

segundo McKibben, isto se explicaria pela redução no número e na qualidade da interação entre as pessoas. Como o padrão suburbano norte-americano constrói casas cada vez maiores e mais distantes uma das outras (citando a última moda de 2 master bedrooms!!!), as pessoas têm cada vez menos contato com o outro.

claro que o argumento principal de McKibben é pelo aumento da densidade e mudança nos hábitos de consumo, mas não deixa de ser uma provocação bem interessante.

seríamos mais felizes quanto mais interagimos com os outros?

no caso brasileiro, será que esta teoria do isolamento-gera-infelicidade se aplica tanto aos condomínios verticais quanto aos horizontais?