cá estou eu escrevendo sobre desigualdade, ciente de que quase ninguém vai ler porque é segunda-feira de carnaval. Enquanto todos os índices de desigualdade foram caindo ao longo do governo Lula, ainda não vi nada que mostrasse a queda da desigualdade da violência. Pelo contrário, enquanto os números da violência vem caindo nas áreas nobres, a redução é bem menor na periferia, indicando que a diferença entre a segurança dos ricos e a dos pobres vem aumentando na contra-mão da redução da desigualdade.
o tema é tabu, principalmente na esquerda (onde eu me posiciono). A tradição do pensamento de esquerda brasileiro culpa a desigualdade (e apenas a desigualdade) pela violência. Se assim fosse devíamos estar assistindo cair a violência no mesmo ritmo da desigualdade. Meu apelo é para que a esquerda invista numa política eficiente de segurança para que o tema não seja seqüestrado pela direita como é nos EUA (e vem sendo crescentemente no Brasil) e para que nunca mais um filho de catadora de lixo aprovado em primeiro lugar no vestibular da UFPE seja assassinado aos 22 anos, meses antes da formatura, só porque estava no lugar errado na hora errada.
I am writing on carnival Monday and much probably very few people will read this but while all the measurements of inequality have fallen during the Lula government I have yet to see something about the violence (spatial) inequality. Much to the contrary, while crime numbers are falling on wealthy areas, the reduction is much less visible in working class neighborhoods. That means that the spatial difference between a crime-ridden periphery and safe upper-class areas might be rising, not diminishing.
the topic is controversial, specially in the political left (where I locate myself). The Brazilian left tradition associates income inequality (and that only) to the growth in urban violence. If that was the case we should be seeing crime numbers falling at the same speed in which inequality is falling. My argument is for the political left to develop efficient proposals for public safety before the right takes hold of the conversation like happens in the US. All other efforts on diminishing inequalities might stall if violence inequality is not addressed. I am pleading here to save the lives of many other young boys like Alcides who was shot dead last week for being on the wrong place (his neighborhood) at the wrong time. Being the son of a garbage collector, Alcides got first place on the entrance examination at the Federal University of Pernambuco in 2007 and was supposed to graduate later this year.
4 comments:
Eu tou aqui, Fernando, lendo você, arrasada com a morte inútil e estúpida desse rapaz, concordando que o tema da segurança é facilmente sequestrável pela direita, e torcendo para que alguma coisa seja feita com urgência nesse país.
Abraços
embora eu entenda o sentido da colocação a respeito de uma política pública de combate à violência que fuja de coisas do tipo "tolerância zero", etc, ainda assim não consigo deixar de pensar que a maior violência para as periferias, de um modo geral, está sim na desigualdade de renda: como explicar a uma pessoa que o regime democrático em que ela vive permite que alguns levem apenas dez minutos em um carro com ar-condicionado para chegar ao trabalho/estudo/lazer enquanto a maioria leva duas horas em um trem lotado? Ou como explicar a um adolescente que o tênis que ele vê o rapaz descolado da TV usando custa duas vezes o salário dele?
não quero aqui reproduzir o discurso falacioso — à la John Turner — de que uma dada situação de pobreza não é problema, mas solução. No entanto, qualquer política pública de combate à violência só funciona de fato quando associada a uma efetiva inversão de prioridades. A única prefeita que tentou fazer isto em São Paulo foi a Erundina e por causa disto ela chegou mesmo a ser processada!
O que quero dizer é: mandar a tropa de elite combater os traficantes do morro (ou da várzea, no caso de SP) pode ser ótimo para o Jornal da Globo, mas o que alimenta a formação de novos líderes do tráfico continua sendo o tênis Nike/Adidas que custa o dobro do salário daqueles moleques.
concordo em parte Gabriel. Minha critica é que a diminuição da desgualdade por sí só não resolve a questão da violência e a esquerda precisa ter propostas antes que o assunto se torne propriedade da direita. Por exemplo, qual a proposta da esquerda para diminuir o consumo de drogas? Vale a pena acompanhar de perto os números da violencia em BH onde estao sendo feitos maciços investiemntos em infra-estrutura nas favelas. Acho que precisamos ser criativos como fomos na época do fome-zero que apesar de fracassado deu forca ao bolsa-familia que é o maior sucesso do governo Lula.
olá Fernado
completamente de acordo com a necessidade de (a "esquerda") resgatar o discurso sobre a segurança, dito "securitário", das mão da direita e da direita ainda mais à direita...
haja imaginação e inteligência, desse lado como deste lado, do atlântico
deixei um link para a posta (espero que goste da música)
um abraço
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