quem escreve quer ser lido. Num blog essa relação é mais imediata mas também é menos duradoura. Nos livros é algo mais perene. Na academia, tantas vezes tenho a impressão de que ninguém lê nada do que escrevemos. Por isso poucas alegrias da docência são maiores do que um colega do outro lado do mundo citar um trabalho seu. Maior ainda é o orgulho quando essa citação vem no último parágrafo da conclusão, ou seja, se refere ao argumento mais importante do livro todo.
foi assim que me senti ao ler o livro de Richard Williams sobre arquitetura brasileira. (Brazil, modern architectures in history, Londres: Reaction Books, 2009), parte de uma série sobre arquitetura moderna em que Diane Ghirardo escreveu sobre a Italia, Jean-Louis Cohen sobre a França, Liane Lefaivre sobre a Austria e Gwendolyn Wright sobre os EUA.
cito aqui parte da conclusão de Richard Williams a guisa de provocação para ver se os leitores do parede também comungam desta minha visão:
“como conclusão, vale notar a visão de um crítico brasileiro, Fernando Luiz Lara, sobre a volta da arquitetura brasileira ao discurso internacional (...) o renascimento é real e também marca uma mudança de interesse para além do eixo Rio-SP (...) mas, continua Lara, o Brasil ainda retém um caráter peculiar e basicamente periférico, quase sempre retratado como erótico, caótico ou exótico, mais uma curiosidade do que algo mais sério (WILLIAMS, 2009, p.261) ” tradução minha.
we write because we want somebody to read. In a blog this relationship is direct but also volatile. In books it is much more perennial. In academia, we so many times have the impression that nobody reads what we write and few joys of teaching are more intense than learning that another scholar from the other side of the planet cited your work. When the citation comes in the very last paragraph of the conclusion, ie, referring to the main argument of the book, one couldn’t be more proud.
that’s how I felt when reading Richard Williams book on Brazilian modern architecture. (London: Reaction Books, 2009), part of a series on modern architecture that also have Diane Ghirardo on Italy, Jean-Louis Cohen on France, Liane Lefaivre on Austria and Gwendolyn Wright on the USA.
here’s part of Williams conclusion as a provocation to check if the readers of “parede” will agree or not with me.
“by way of a conclusion, it is worth noting the views of a Brazilian critic, Fernando Luiz Lara, on the re-emergence of Brazilian architecture in international discourse (…) the revival is real, and it is also characterized by a marked shift of interest away from the traditional axis of Rio-SP (…) but, he continues, Brazil retains a peculiar, and ultimately peripheral character: the country is always cited in terms of the erotic, chaotic, exotic; the country is always a curiosity rather than something more serious (WILLIAMS, 2009, p.261) ”
6 comments:
obrigado pelos elogios no meu blog. Gostei muito dessa parte do texto. "(..)Brasil ainda retém um caráter peculiar e basicamente periférico, quase sempre retratado como erótico, caótico ou exótico, mais uma curiosidade do que algo mais sério"
Concordo com isso
Fernando, tenho minhas dúvidas se este renascimento brasileiro é real.
A maioria dos jovens arquitetos brasileiros que vem se despontando estão repetindo as mesmas fórmulas consagrada do modernismo de 50 anos atrás. Fazem uma arquitetura excelente, que me agrada muito, mas ainda não vejo um renascimento.
Enquanto isso, no chile e paraguai os jovens estão fazendo uma arquitetura realmente nova, vide recentes publicações sobre Solano Benitez (melhor palestra de 2008 em BH)
Recebi neste mês a visita de um arquiteto grego em BH. Para ele nossa arquitetura, inclusive a mais recente, tem uma aparência decadente, principalmente devido ao uso exagerado do concreto aparente.
Tendo mais a concordar que o interesse gringo é mais pelo caótico/exótico do que pelo renascimento da arquitetura brasileira. Este, acho que ainda está por vir...
sinto cá no lado de baixo do equador que o problema nem é tanto "não se sentir lido", mas "sufocar-se entre tantas publicações falando as mesmas coisas"... quero dizer, a política da CAPES e cia de medir a qualidade acadêmica das instituições pelo número de artigos publicados por docente simplesmente não funciona: publica-se muito e fala-se pouco (e discute-se nada...)
Gabriel,
eu concordo que publicar por publicar nao faz sentido, mas tambem nao conheco nenhuma outra forma de fazer avancar o conhecimento que nao seja o processo de revisao pelos pares e a sistematizacao da publicacao. Vale lembrar que publicar eh tornar publico e todo o avanco dos tempos modernos eh baseado na livre circulacao da informacao.
sim, corretíssimo, este tipo de tradição acadêmica está consolidado e realmente torna as coisas acessíveis (embora haja outra discussão sobre abertura total de conteúdo de indexadores do tipo jstor, mas esta é outra história)
o problema é quando escrevem dez artigos muito similares falando a mesma coisa em dez congressos ou periódicos diferentes só pra colocar no CV lattes...
estou exagerando, mas sabemos que aqui a academia sabe jogar seu jogo...
;)
O Marcelo faz uma valiosa observação sobre a nossa conservadora produção arquitetônica contemporânea. Entretanto me alinho com a opinião do mais destacado arquiteto chileno, Alejandro Aravena, o qual sugere a necessidade de resgate da tradição arquitetônica das obras dos notáveis arquitetos brasileiros modernistas. Esse olhar interno certamente nos ajudará a reconhecer a nossa própria face diante do espelho.
Estou me referindo na direção da linha de pesquisa do Lara, ou seja, nos impregnarmos de referências e fazer a releitura dessa disseminação.
Quanto a citação do texto, parabenizo o Fernando pelas suas relevantes contribuições intelectuais no sentido de colocar a arquitetura latinoamericana, e em especial o Brasil no cenário da historiografia internacional. Lembrando sempre que o seu papel consiste também em extrapolar a arquitetura carioca e a "café com leite".
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