madrugada de segunda-feira de carnaval no Brasil, alguns devem estar ainda sambando, outros dormindo e aproveitando as cidades vazias como eu se faria se lá estivesse. Em casa as meninas se divertem com Fuzzy, o porquinho-da-índia da escola da Nena que foi passar a semana com a gente enquanto eu estou quase do outro lado do mundo, em Seoul, Coréia do Sul, para ser jurado de um concurso de arquitetura.
aliás big concurso, depois escrevo mais sobre a experiência.
no avião, sobrevoando o Canada, o Alaska, a Rússia, a China e a Coréia do Norte eu vim lendo o último livrinho de Kenneth Frampton, The Evolution of 20th Century Architecture, a synoptic account (New York: Springer, 2007). Livro curto e muito bom para estudantes, mas provocativo o suficiente para interessar aos mais experientes também.
no início nada de novo. Quer dizer, o prédio do MES no Rio aparece já nas primeiras páginas enquanto Paulo Mendes da Rocha e Burle Marx se juntam a Niemeyer cujo texto, por sinal, é letra por letra o mesmo do seu clássico Critical History of Modern Architecture de 1982. Vinte e sete anos depois Frampton não tem uma única palavra diferente a dizer sobre Niemeyer. Um pouco triste e me faz pensar o quanto do livro é assim requentado, a parte sobre o Cassino da Pampulha é a única que eu lembro de cor porque citei no meu livro.
mas no final até que o velho Kenneth se redime. Dando espaço a Charles Correa, Raj Rewal (que vai estar no júri em Seoul e não vejo a hora de conhecê-lo) e Herman Hertberger, Frampton sugere que Niemeyer influenciou Corbusier que influenciou Correa que influenciou Barragan num fluxo global de idéias que eu acho fascinante. Sugere mas não elabora, num estilo tipicamente Framptoniano.
bom mesmo é o último parágrafo quando Frampton começa afirmando que o crescimento da mídia arquitetônica anulou de uma vez por todas a diferença entre centro e periferia. Sei não, alguém ainda duvida que um ensaio ou um edifício brilhante de alguém em Cuiabá por exemplo teria o mesmo impacto das páginas e mais páginas de bobagens que se publica todo ano em Columbia ou na AA de Londres?
depois ao afirmar que nossa sociedade ocidental falhou redondamente ao não conseguir propor um modelo de ocupação espacial ao mesmo tempo culturalmente sensível e ecologicamente correto, Frampton clama por uma mudança de paradigma que segundo ele está longe de acontecer.
pode até ser que esta mudança não esteja ainda acontecendo a plenos vapores. Eu acho que ela já se anuncia. Mas uma coisa eu tenho certeza: a fixação de Frampton em tratar a arquitetura como obra de gênios individuais descolada das condições de produção e do pano de fundo das obras ditas comuns vai bater em seus olhos como o sol das 6 da tarde, ofuscando tudo. É que pra mim esta tal mudança de paradigma que mestre Frampton agora invoca é incompatível com a postura individualista com que ele insiste em abordar a criação arquitetônica. Me espanta o fato de que Frampton até hoje se “esquece” de práticas coletivas como MVRVD ou SANAA ou mesmo Herzog+deMeuron.
e como eu estou chegando em Seoul para julgar o trabalho de 6 arquitetos contemporâneos, não há oportunidade melhor para testar as provocações de Kenneth Frampton.
more to follow soon
2 comments:
Fernando, livro adicionado na lista das próximas leituras!
http://vistadoobservador.blogspot.com
Nem as edições brasileiras publicam com frequência o que é escrito e produzido nas Cuiabás da vida! Sejam elas bobagens ou não.
Pode até ser que entre países a diferença entre centro e periferia esteja diminuindo, mas dentro do Brasil está cada vez mais gritante essa diferença. Principalmente com a internet.
Post a Comment