este é o primeiro post do que pretende ser uma série mensal sobre arquitetura Latinoamericana, parte dos trabalhos do grupo LAMA aqui na Escola de Arquitetura da Universidade do Texas em Austin. E já começo questionando a própria idéia de América Latina.
o termo tem uma origem complicada e nenhuma precisão. Define o quê essa tal América Latina? Uma identidade linguística em torno das línguas latinas? Se assim fosse deveríamos incluir Quebec e excluir a Jamaica, por exemplo? Ou se trata de uma questão de herança cultural ibérica, o que incluiria a Florida, o Texas e a Califórnia, três dos quatro estados mais populosos dos EUA. Usado pela primeira vez por escritores da hispano-américa em meados do sec. XIX, o termo América Latina foi popularizado pela intelectualidade francesa no final do mesmo XIX, como que para afirmar a supremacia do pensamento francês vis-a-vis o expansionismo norte-americano.
mais recentemente, Walter Mignolo e Enrique Dussel seguiram o caminho aberto por Edmundo O’Gorman e questionaram a fundo esta “construção” de uma América Latina que as vezes ocorre de dentro para fora (MERCOSUL por exemplo) e as vezes se faz de fora para dentro (pensando aqui nos departamentos de estudos latinoamericanos espalhados pelas universidades da Europa e dos EUA).
acontece que apesar de artificial, o fato é que estas identidades se impõem e o Brasil é inclusive um exemplo interessante. Apesar de séculos de aproximações e/ou afastamentos, acredito que os Brasileiros hoje se identificam muito mais com seus vizinhos dentro do guarda-chuva da latinoamericanidade que com seus primos portugueses. É como se a potencialidade de uma identidade futura fosse mais forte que a pesada realidade do passado.
de qualquer forma, cabe concluir que para efeito do grupo LAMA interessa muito mais esta definição fluida e aberta de identidade como visão de futuro, onde cabem arquiteturas brasileiras, argentinas, peruanas, jamaicanas, quebecois, tejanas, ibéricas.... em resumo, uma identidade plural, latina & americana.
this is the first post of what I hope will be a monthly series on Latin American architecture, part of our LAMA group here at UT Austin School of Architecture. That said I will start by questioning the very idea of Latin America. What does it mean? What does it represent?
the term has a complicated origin and carries no precision. What defines Latin America? A linguistic identity? If thus we would have to include Quebec and exclude Jamaica, for instance. Or if it is a question of Iberian cultural inheritance, should we include Florida, Texas and California, three of the four more populated states of the US? Used for the first time by writers of Hispanic-America in the 1850s, the term Latin America was popularized by the French intellectuals in the end of the same 19th century as way to affirm the supremacy of French thought in face of North American expansionism.
more recently, Walter Mignolo and Enrique Dussel have followed the steps of Edmundo O'Gorman and questioned the “construction” of a Latin America that sometimes times happens from inside out (MERCOSUL for example) and other times is imposed from the outside (thinking here of the departments of Latin American studies so common in European and North American universities).
despite being an artificial construction those identities take hold and Brazil can be an interesting example. Discarding centuries of connections and disconnections, I believe that Brazilians today identify themselves much more with their neighbors under the umbrella of latinamericanidade then with its Portuguese cousins. It is as if the potentiality of a future identity is stronger than the weighed reality of the past.
in any case, I would like to conclude that regarding the LAMA group it is more fruitful to adopt the fluid and open definition of identity as a future vision, where we can fit architectures from Brazils, Argentinas, Perus, Jamaicas, Quebecs, Tejas, Iberias…. in summary, a plural, Latin & American identity.
ps: hoje é a abertura da Brasilia Lecture Series com James Holston
8 comments:
Com papel e caneta na mão.
O conceito geográfico que mais faz sentido no meu entender é o da própria América. Nosso continente possui uma condição única de ser, do ponto de vista dos seus conquistadores - ou invasores, como queiram - a oportunidade para construção de um mundo novo, onde poderiam ser colocados a prova os conhecimentos adquiridos pelo ocidente até então. Claro que as coisas nunca dão tão certo como poderiam, mas o simples fato de que boa parte das cidades fundadas terem sido desenhadas desde a sua fundação (a maioria das capitais da América espanhola e Nova York por exemplo) são algum indício disso. Entretanto, a América tem como característica principal ser destino (talvez o maior) dos grandes movimentos migratórios - voluntários ou não - que a humanidade fez durante os tempos. Independente de não sabermos ao certo como as civilizações pré-colombianas surgiram, vieram conquistadores europeus brancos, que trouxeram os escravos negros, que depois passaram a dividir espaço com mais imigrantes europeus, asiáticos, etc. Isso poderia ser a história de São Paulo mas também é a da América. Sabemos que as várias culturas que existem hoje no continente são uma mescla das várias que chegaram com as que já existiam aqui. Afinal, mulato é o que? Creio que os fatos felizes e tristes da história da América nos levaram a termos uma potência cultural muito grande. É só lembrar que desse caldeirão americano nasceram os ritmos caribenhos, o samba e o rock.
Nossa diferença enquanto latinos dos americanos não-latinos pode ser escancarada na introdução do livro do Eduardo Galeano, que diz que os países latinos do lado de cá do Atlântico nasceram para perder. Por inúmeras razões a colonização nos Estados Unidos principalmente os diferenciaram e os tornaram o que são hoje - nasceram para ganhar segundo o nosso amigo uruguaio - enquanto a América espanhola, portuguesa e francesa (principalmente!), a perder. Talvez isso fizesse sentido em 1971 quando o Galeano abriu as veias do continente, mas hoje, como citado, a América Latina inclui o Texas. Mas o que temos agora?
A história da América é marcada pelas decisões daqueles que não nasceram aqui, mas que viram no continente a oportunidade para construir - e que para isso tanto destruiram. Mas hoje, as nossas fronteiras não seriam maleáveis? A geografia do continente talvez não faria mais sentido se nos (re)organizassemos a partir do que temos enquanto geografia e cultura? De entender a América toda como uma ilha que de muitas paisagens particulares e mil culturas sobrepostas?
uau Mario, você sumiu mas voltou com fôlego renovado!!! Concordo plenamente que a esperiência America nos une a concordo também que este complexo de vira-latas já era. Em breve darei notícias da nossa conferência "latitudes" que pretende justamente juntar arquitetos do Alaska ao Chile.
This is an excellent initiative Fernando. It makes me super eager to re-focus on our 'South' project. I've made some progress on publications on India but plan to do more during Summer this year.
I will share with you ideas relating to a web database project on this, and would love for you to be an advisor and a contributor. Please stay tuned!
On a related front, I am now part of a think-tank of individuals, scholars, practitioners from all over - looking at the future of print and a new model of architectural publishing. It all started for me via twitter.
I also hope to speak to you on my proposal too.
Cheers!
Fernando,
Sumi dos comentários, mas tenho acompanhado o Parede sempre, silenciosamente. Achei bem interessante esse LAMA, mas ele é possível graças a essa proximidade que toda a universidade daí tem com a America Latina, não?
De qualquer forma, não sei se você viu, mas a Escola da Cidade está lançando uma série de cursos de pós latu sensu sobre "Civilização da América". É um sinal de que tem gente por aqui querendo estudar o assunto também.
Mario,
a Universidade do Texas eh um caso raro por aqui, tenho orgulho de dizer que temos a melhor biblioteca (Benson library) e o melhor centro de estudos (LILLAS). Agora a escola de arquitetura tambem tem um interesse enorme, que diga a presenca do Bucci aqui como prof. visitante esse semestre.
muito bom saber das iniciativas da escola da cidade. Shundi e Guilherme Wisnik estiveram aqui ano passado, devo encontrar com Ciro Pirondi na Columbia University em abril e vamos com certeza falar disso.
quello che stavo cercando, grazie
Make hay while sun shines.
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