Monday, June 8, 2009

andando para trás / moving backwards







chegando a Belo Horizonte esta semana me deparei com esse elefante branco projetado pelo centenário Niemeyer que servirá de centro administrativo do estado. Nada mais século 20 do que esses edifícios monumentais, umas curvas simplórias no auditório, prateleiras em curva formando dois prédios enormes, um projeto difícil de engolir se viesse dos traços de um aluno de primeiro ano de arquitetura. Vindo do nosso maior arquiteto é mesmo uma vergonha. Dizem os que trabalham na obra que não havia nenhuma forma de compatibilização entre os vários projetos, erros primários relativos a insolação, absoluta ausência de detalhes. Isso na a maior obra do governo do estado projetado pelo mais famoso arquiteto brasileiro é triste, muito triste. Pra não falar na oportunidade perdida. Com o centro da cidade esvaziado, as secretarias e autarquias estaduais poderiam ter se instalado em dezenas de edifícios que estão sub-ocupados, injetando vida e recursos numa área que apesar de suas belezas está condenada ao abandono. Daria mais trabalho, sim, e provavelmente o orçamento para reformar vários edifícios com mais de 50 anos de uso seria quase o mesmo da obra em andamento. Mas seria o tipo de intervenção que pede o século que se inicia. Niemeyer teve seu momento nos anos 40 e 50 quando ele era um dos melhores do mundo e seus contratantes tinham uma visão apontada para o futuro. Hoje, ao contrário, seus projetos são completamente anacrônicos e construí-los aponta para o passado.




arriving in Belo Horizonte this week I found this white elephant designed by our centennial Niemeyer that will house the administrative center for the state government of Minas Gerais. Nothing could be more 20th century than those monumental buildings, simplistic curves on the auditorium, stacks of slightly curved floors making two enormous structures. A composition that would be considered poor if it were presented by a 1st year student. Coming from our most famous architect is just a shame. People who work in the construction reported that there were no compatibility between the different sets of drawings, basic mistakes regarding solar orientation and absolutely no detailing. Not to mention that the location of this enormous complex is in itself a huge missed opportunity. With downtown quite empty, the state government branches could occupy dozens of buildings that are now mostly idle. It would probably be more troublesome and the budget to renovate many 50-year-old buildings would be about the same. But it would be a intervention worthy of its time. Niemeyer had his moment in the 1940s and 50s when he was among the best in the world and his clients had a view towards the future. Today, unfortunately, his designs are extemporaneous and to build them points to the past.

7 comments:

Isadora said...

E tem ainda a tristeza da opção de levar o poder para longe do povo. Governo no centro quer dizer encontro frequente com manifestantes, imprensa, e a pobreza escancarada. lá longe fica mais fácil governar sem ter que olhar a realidade.
Que bom que chegou! Dessa vez vamos conseguir encontrar com calma, né?!

Ana Paula said...

Eu não poderia concordar mais com você. E lamento que os trabalhos de Niemeyer nos últimos (muitos) anos primem sempre por essas características: falta de detalhamento, negligência com o acabamento, especificação equivocada de materiais, incompatibilidade entre os projetos, e uma preguiça formal que nega exatamente tudo aquilo pelo que ele se destacou tanto. Nem vou falar da ausência de funcionalidade e do desconforto causado por ignorar aspectos como insolação e ventilação, porque isso quem trabalha nos prédios projetados por ele está cansado de saber. Uma pena.
Fora isso, acho fundamentais os aspectos ligados à sustentabilidade que vc destacou, e os ligados à questão simbólica do poder, mencionados pela Isadora aí em cima.

Alberto said...

Hoje em dia entregam um anteprojeto, tops, obviamente não compatibilizado (e sei que mais que isso, sus projetos são incompatibilizáveis!) e certamente embolsam uns 2 ou 3 milhões.

Pra licitar um projeto completo de qq coisa, entretanto, colcoam preço base de uns 100 mil e olhe lá.

Fernando L Lara said...

Alberto voce foi no ponto certo. Revitalizacao dos centros surrados nao gera tanta flexibilidade orcamentaria e nao se transforma (ainda) em doacoes de campanhas futuras porque as grandes construtoras nao descobriram (ainda) esse filao. Mas nao demora...

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...

Quando você re-visitar as favelas então, vai cair duro.

Construiram, no Acaba Mundo, uma avenida de 16 metros de largura. Um paredão de concreto que dava para construir "zilhões" de prédios populares que a prefeitura construiu "democraticamente" na favela.

Bem disse o Edézio Teixeira, em seu livro Geologia Urbana para Todos: uma visão de Belo Horizonte, que utilizamos soluções convencionais a específicas do lugar não por falta de conhecimento, e sim de propósito:

"ocorrem frequentemente situações em que atores privados ou mesmo estatais dispõem de conhecimento e DELIBERADAMENTE não o utilizam."

Eu fui à URBEL/Prefeitura e me deram um mapa topográfico de Belo Horizonte inteira, atualizado. Aliás, perguntaram de que ano eu queria.

Mais informações: http://revistacrise.blogspot.com/2009/05/cade-os-arquitetos-urbanistas.html

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...

Ficou confuso, mas é porque hoje acabei de entrar de férias da faculdade, mas em suma o que quis dizer é que temos o conhecimento técnico e o conhecimento do lugar e não o utilizamos por que não interessa.

Preferimos utilizar soluções convencionais a específicas do lugar não por falta de conhecimento, e sim de propósito.

Nos dizeres do Edézio Teixeira: "ocorrem frequentemente situações em que atores privados ou mesmo estatais dispõem de conhecimento e DELIBERADAMENTE não o utilizam."

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...

Retificando, a avenida fica no Aglomerado da Serra, e não no Acaba Mundo.