estive lendo Edward Said esta semana para o meu seminário de Arquitetura Latino-americana.
para quem não conhece Said é o autor do clássico Orientalismo onde ele discute o fato de que a Europa inventou a sí mesma usando a idéia de oriente como alteridade. No meio disso tudo está um projeto de desmontar as engrenagens da relação conhecimento-poder, usando Foucault como ferramenta para desafiar esses processos de autoridade.
no caso da arquitetura um texto como Orientalismo nos faz pensar nos processos correntes de alteridade e autoridade. Os exemplos mais próximos são o regionalismo crítico de Frampton ou a complexidade e contradição de Venturi, ambos textos absurdamente influentes onde uma série de escolhas (e exclusões) ajudou a definir a arquitetura dos últimos 30, 40 anos.
a literatura questionando Venturi e Frampton é extensa e devo voltar a ela em algum momento futuro. O que me interessa perguntar hoje é quais os processos de alteridade e autoridade que estão funcionando HOJE? Que identidades estão sendo formadas, em cima de que conceitos, servindo a que propósitos?
I have been reading Edward Said’s Orientalism this week for my seminar on Latin American architecture. For those who don’t know Orientalism is a classic where said discusses how Europe invented itself using the idea of the “orient” as alterity. In the middle of all that is the Foulcautian project of dismantling the knowledge-power cranks.
in the case of architecture a text like Orientalism makes us think in the current processes of authority and alterity. The closer examples are Frampton’s critical regionalism of Venturi’s complexity and contradiction, both tremendously influential texts whose choices (and exclusions) defined the architecture of the last 30, 40 years.
the literature questioning Venturi and Frampton is extensive and I might go back to it in the near future but what I want to ask today is which processes of alterity and authority are operating nowadays? Which identities are being constructed, based on which concepts and serving which goals?
12 comments:
Hoje, podemos dizer que a única identidade arquitetônica engajada econsolidada num processo de autoridade bem definido é a... arquitetura sustentável.
O propósito? Ora, o proposito é mesmo de sempre: vender a salvação aos fiéis. Esse negócio de apocalipse ambiental tem futuro longo e próspero, uma vez que se baseia em marketing e não em ciencia - além é claro, de que se o apocalipse não vier (oh surpresa) terá sido justamente por causa dos "salvadores do mundo".
Qualquer mãe diná com uma teoria da conspiração na mão (como Edward Said, aliás) sabe disso: quanto menos evidências reais da conspiração, maior a certeza de que ela é apenas muito, muito bem escondida, sabe como é. Ah como vende bem isso!
mas qual seria a alternativa Alberto? business as usual?
Antes das alternativas, Fernando, quero fazer uma ressalva em relação à premissa teórica da coisa, infelizmente baseada nesse castelod e cartas conhecido por "orientalismo".
É curisoso como após todo esforço maquiavélico da Europa - através desses inescrupulosos arqueólogos, traiçoeiros linguistas, espúrios antropólogos - e tendo como resultado essa imagem distorcida, manipulada e subjugada do, ã-hã, "oriente", não temos até hoje o que seria então o "japão de verdade". Seriam os japoneses orientalistas também? Talvez fiquem no ocidente...
Está claro que Said tinha uma certa dificuldade de diferenciar ocidente de oriente, Israel de Egito, essas coisas, e não vou me alongar sobre ele. A questão da priemissa - que permeia o post anterior e acarreta no mesmo problema - é sempre a de um "complô".
Não apenas de um "complô", mas um "complô de uma classe dominante com propósitos secretos".
Tão insidioso quanto invisível, tão abrangente quanto insondável, e ...debatido em todo lugar, até em blogs. Good Lord.
O discurso dominante do século XX não foi a lugar nenhum: o modernismo de vertente salvacionista (que num mundo sem guerras globais declara guerra à humanidade toda de vez, em defesa desse dócil planeta).
A prática dominante da arquitetura do século XX também não foi a lugar algum: não existem exclusões. Simplesmente não existem, do lado de fora do campus, old sport.
Se voce chama de regionalismo crítico, pós-modernismo disfarçado ou de eco-future-sustainable-righteous-whateverelse-system, good for you.
Porque alguém perderia tempo contruindo "alteridades" que sequer são reconhecidas como tal, exceto, novamente, entre meia duzia de academicos. Ok, duas dúzias.
O Japão que conhecemos só existe então como alteridade? Porque a imagem que temos, aquela noção de "oriente" construido, em nada mudou desde a portentosa revelação de Said. Cadê o japão sem as lentes européias? Cadê o Irã? Sou louco pra conhecer o irã desorientalizado!!!
Não há. Em Said, nada há. Não fosse vergonhosamente pueril a falácia dessa mega-trama-linguista-imperialista, da qual até meus amigos de esquerda mudam de assuntos envergonhados hoje em dia, eu diria que seria de fato uma aventura e tanto descobrir o "verdadeiro oriente".
Mas e a arquitetura? Respondendo à sua pergunta, não precisamos de uma alternativa. Já temos muitas alternativas na mesa. E certamente vivemos em um mundo em que identidade e alteridade flutuam e revezam entre si. È todos sabemos reconhece-las.
A unica delas que tem reivindicado uma posição de autoridade acima das alternativas é justamente a ddo salvacionsimo sustentável - uma arquitetura que beira o steampunk, em sua sede de soluções com tecnologias mambembes, e de estética nula - no sentido de ser uma questão que simplesmente não se aplica.
Mas reivindicações a parte, se sumisse hoje, ninguém notaria. Eu paradoxalmente, respiraria aliviado.
Alberto,
a intelectualidade sempre trabalhou desmontando e revelando as estruturas de poder ou reverenciando-as. Eu claramente me indentifico com o primeiro grupo mas não deixo de perceber valor em Maquiavel ou mesmo nosso mítico-herói Alberti que eram do segundo tipo.
a importancia de Said não está em aprofundar o estudo do "oriente" (que aliás não tem nada a ver com o Japão como ele escreve já na introdução) e sim com o uso de uma certa idéia de oriente-outro na construção da identidade européia. Não há nenhum complô nisso. Todo grupo constrói sua identidade assim. Sãopaulinos são não-italianos, arquitetos são não-corretores de imóveis, brasileiros são não-argentinos.
e se o discurso ambientalista está sendo tão massacrante e sem consistência como você defende cabe a você revelar estas falácias.
para isso serve o trabalho de Said Foucault, Barthes, Bhabha, Freire, Boal, entre tantos outros.
eu nunca li esse autor mas achei o post mt interessante
da mesma maneira poderia dizer que portugueses são não espanhóis (ou não castelhanos, ou não ibéricos)
gosto mt da expressão do Agostinho da Silva que define (salvo erro) o Brasil (ou será o Rio!?) como Portugal (ou será Lisboa!?) à solta
penso ter percebido essa ideia da construção de uma identidade "negativa", mas não percebo tão bem a sua "adaptação" à arquitectura
o C&C do Venturi ou o regionalismo crítico do KF são (foram) "absurdamente influentes" porque souberam (a arquitectura, como a política, têm "horror ao vazio") ocupar o espaço do "vazio" (de ideias...) na comunidade arquitectónica do seu (nosso) tempo
nos anos 90 foi a vez do Decon fazer a mesma coisa
a crise do milénio puxou para cima pelos temas da "sustentabilidade" e assim por diante
devolvo a pergunta (meio a brincar meio a sério) com outra pergunta:
será que no campo esquizóide da arquitectura contemporânea ainda "funciona" alguma coisa!?
por outro lado talvez seja interessante pensar que muita da arquitectura moderna (FLW e seguintes...), que muita da arquitectura moderna, dizia eu, venerou uma certa imagem, uma certa "imagem" por eles "construida", da arquitectura do Japão
sobre esse assunto importa também ler tudo o que se escreveu sobre a relação do casal Venturi com o "oriente" e em particular o texto "The City as Kimono" de Stanislau von Moos
no ODP deixei um link para esta posta com a reprodução de uma pertinente pintura referenciada nesse texto
Antonio,
seu comentário me fez lembrar de um texto recente de Otávio Leonídio publicado na revista Log em que ele analisa o museu de Siza em Porto Alegre. As identidades portuguesa e brasileira costuradas pela arquitetura depois de 200 anos de intensa alteridade.
Então, caros, acho que agora a conversa começa a tomar curso.
Meu problema com a idéia de orientalismo (de Said, cuja credibilidade lhe antecedeu a morte em alguns anos, nem falemos mais) é o spin que ela dá nesse conceito de alteridade e identidade, muito util no campo da psicologia e vá lá, com restrições, sociologia, para se transformar em um soporte de marxismo de galinheiro.
A chave do desvio é a premissa de que esse processo de alteridade/identidade não seja natural, humano, e dinâmico, mas algo manipulado numa espécie de luta de classes mixada com choque de civilizações.
Em resumo, querer encontrar um "propósito de dominação" na interação das culturas ocidentais e orientais (de resto, uma generalização falaciosa, como se fosse possível falar de portugueses e alemães como "europeus", sem infinitas alteridades entre si) é distorcer a realidade em função de uma agenda politico-ideológica.
Isso posto, essa "costura de alteridades" não apenas existe, como sempre, sempre existiu. A saga de Le Corbusier começa justamente na "viagem do oriente"; a já citada experiência de FLW no Japão; isso pra ficar no modernismo E restringindo a arquitetura strictu sensu, já que o a costura no campo das engenharias de cosntrução já remontam desde o egito antigo.
Esse para mim é um assunto de extremo interesse e o considero importante no debate arquitetônico. Mas ele deixa imadiatamente de ser relevante ou mesmo util quando se converte num imperativo ideológico ( "TEMOS que construir essa costura". Temos nada. Só se quisermos) ou pior, quando vira, como já disse, marxismo de galinheiro, inventando uma subjugação cultural onde não há nem poderia haver, bem a lá Said.
Alberto,
é impressionante que alguém inteligente como você só vê ideologia nos outros. Ideologia é como sotaque meu caro, ninguém escapa. O discurso de Said é ideológico sim e sua crítica acima descrita também. Apontar o "sotaque" o outro não gera nenhuma troca produtiva de informações.
Agora voltando ao que você escreveu, não existe subjugação cultural? Como assim? Somos todos igualzinhos na terra hoje? Oba, minha utopia se realizou enquanto eu dormia....
Pô Fernando... Não existe ESTA subjugação cultural da qual estavamos falando, a do (suposto) "ocidente" sobre o (suposto) "oriente" - ao menos não com esses elementos e certamente não orquestrada.
Sempre acho engraçado quando você compara ideologia com sotaque; de certa forma, é uma excelente analogia para a qual gostaria de chamar a atenção para os seguintes pontos:
Vamos dizer que a minha ideologia (que eu prefiro caracterizar como " meus valores", um termo mais preciso) seja o equivalente ao meu sotaque.
Ou seja, a minha defesa incondicional do Estado Democrático de Direito, da Vida Humana e do capitalismo como forma de produção e da liberdade indivídual, ou seja, os valores conservadores do século XXI, seja meu sotaque, meu "r" puxado do interiorrr de São Paulo.
Vamos dizer que a sua ideologia é a defesa das mesmas coisas que eu, só que condicionadas ao que você julga ser justiça social, ou igualdade. Esse é o sei jeitim divê o mundo, então.
Ambos valores estão explícitos enquanto premissas de qualquer um de nossos respectivos discursos; estão expostos para quem quiser identificá-los, questioná-los criticá-los.
A diferença para muitos discursos intelectuais, do qual Said sempre foi um bom exemplo, é o fingimento do sotaque, é escondê-lo. Normalmente isso acontece quando se tem vergonha do próprio sotaque - ou quando sua ideologia não tem valores maiores do que abastecer um choque cultural (além do próprio bolso, é claro).
Assim, o egípcio Said se vendeu por 40 anos como um israelense exilado; assim o filoterrorista Said - de conexões hoje comprovadas com a OLP na fase hardcore - se passou por um lutador pela democracia, por uma visão igualitaria do mundo; seu cliente verdadeiro nunca foi a humanidade, mas certo braço forte do oriente médio. Foi desmascarado em todos os seu sotaques; mas alenda permanece.
Isso posto, retorno ao começo, na sua utopia, que é a minha distopia: aquela subjugação cultural não existe. Outras existem. Eu digo: Graças a Deus.
Graças a Deus que não tenho de achar normal uma mulher ser apedrejada, ter o clitoris extirpado, ser proibida de dirigir, votar e ser votada.
Graças a Deus não tenho de me submeter a um governo que escolhe o que, quanto e como eu vou comer; que me meteria na cadeia por estar escrevendo este mesmo texto; que antes disso, me proibiria de entrar na internet; que me obrigaria a ter apenas um filho.
Não afeto um sotaque neutro: sei quem sou. Caipira, conservador, e filho orgulhoso da civilização ocidental, que ainda hoje merece o epiteto de judaico-cristã.
Esses são os meus valores e com eles faço meus julgamentos (senão, pra que ter valores afinal?)
Que bom que subjugamos a cultura taliban. Essa é minha utopia: que o mundo ocidental consiga iluminar os cantos escuros que persiste no mundo.
Alberto,
eu concordo com você que o totalitarismo é uma das piores facetas da modernidade e que demanda uma vigilância constante.
Mas dentro de cada uma das nossas sociedades ocidentais (a direita americana diria que não somos parte do "west" por não sermos branquinhos) ainda persistem muitas desigualdades que também demandam vigilância constante.
minha diferença com você é que eu separo o estado democrático de direito (que também defendo incondicionalmente) do sistema capitalista que precisa de muito, mas muito aperfeiçoamento, e por isso tem meu apoio condicional.
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