Tuesday, April 3, 2007

Gordon Matta-Clark

acabei de voltar de NY onde uma exposição no Whitney Museum sobre a obra de Gordon Matta-Clark me deixou emocionado. Gordon, pra quem não conhece era filho do pintor surrealista chileno Matta, cresceu em New York e estudou arquitetura em Cornell. Pra todos os efeitos Gordon detestou a escola de arquitetura mas a arquitetura continuou dentro dele pra sempre. No final dos anos 60 ele começou uma serie de intervenções (algumas ilegais) em edifícios abandonados ou prestes a serem demolidos. Munido de uma serra elétrica e outros instrumentos de corte, Gordon abria buracos, cortava pedaços, arrancava blocos de paredes e pisos e ao fazê-lo expunha as entranhas de um edifício. Há algo de aula de anatomia nas intervenções de Gordon Matta-Clark, como num Rembrandt ou num Leonardo. E são tantas as lições contidas nas peças que Gordon guardou consigo, pedaços inteiros de casas e prédios que expostos em uma galeria fazem uma ode à materialidade, esta tão sofrida e surrada componente arquitetural. Outra quase homenagem aos intestinos e esqueletos da arquitetura são suas fascinantes montagens fotográficas em que o edifício depois de retalhado é recomposto pela sobreposição de fotos em ângulos diversos cuja perspectiva distorcida é em si uma aula de múltiplas experiências arquitetônicas. Mas pra mim o melhor de toda a exposição foi aprender que quando convidado pelo IAUS (instituto fundado por Peter Eisenman e outros) para fazer uma instalação, Gordon levou fotos de edifícios dilapidados no Bronx, quebrou todas as janelas da sala reservada a exposição e explicou: a arquitetura de vocês é idêntica a esta outra das áreas pobres e abandonadas de NY, a diferença é um vidro novo aqui e outro vidro quebrado lá. Os mestres do IAUS não deram conta de lidar com tamanha verdade, censuraram a obra de Gordon e consertaram as vidraças. Nunca o amor pela arquitetura chegou a ser tão visceral quanto na obra de Gordon Matta-Clark, que dizia odiar arquitetura.

2 comments:

DaniCidade said...

Prezado Fernando,
principalmente a última frase deste relato a partir da exposição do Matta-Clark, tb me emocionou.
Atualmente desenvolvo uma tese de doutorado no PROPAR-UFRGS sobre a obra deste artista que, como tu mesmo disseste, nunca abandonou a arquitetura.
Fico contente quando me deparo com pessoas que apresentam esta sensibilidade no olhar para o espaço.
Daniela Cidade
danicidade@yahoo.com.br

Anonymous said...

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