Thursday, April 19, 2007

educando o cliente


Hoje tiro meu chapéu para Thom Mayne - Morphosis.
Ao visitar o novo prédio da Federal Court the Eugene, Oregon, um fato me chamou a atenção desde o inicio e não foram as elegantes superfícies curvas em metal nem a graciosa escada transparente. O que me surpreendeu logo de inicio foi o fato de que o juiz chefe, honorable Michael Hogan viria conversar com o grupo de arquitetos sobre o prédio. Fiquei intrigado logo de cara com o fato de um chief judge (equivalente ao um magistrado presidente do tribunal de justiça no Brasil) se dar ao trabalho de vir nos recepcionar. Mais surpreso ainda fiquei quando o juiz começou a falar dos conceitos de transparência de democracia no judiciário e de que maneira estas idéias estavam materializadas no projeto de Thom Mayne. Com citações sobre Romchamp e La Villete, o juiz foi nos levando a entender a planta do edifício a partir das salas do júri e da importância do judiciário na democracia enquanto explicava cada relação espacial e decisão sobre materiais, visadas, eixos e etc, com um vocabulário melhor que a grande maioria dos nossos graduados em arquitetura. Não resisti e perguntei se ele tinha tido contato prévio com a disciplina, talvez um pai arquiteto ou esposa ou filho. Não, respondeu o juiz chefe, tudo que aprendi sobre arquitetura aprendi no processo de projetar e construir este edifício aqui. Não acreditei muito e reservadamente perguntei à arquiteta contratada pelo fórum. Ela confirmou que não apenas o juiz não sabia muito de arquitetura como resistiu ao projeto de Mayne que havia vencido a concorrência fechada feita pela administração federal. O juiz no principio queria um edifício tradicional, retangular e com fachada de pedra, como um pastiche das antigas courthouses do século 19. Foi Thom Mayne quem instigou o juiz a pensar qual o conceito de justiça o edifício deveria expressar e ao longo de vários jantares em Eugene e Los Angeles foi aos poucos educando o magistrado nos valores da arquitetura. Claro que Mayne foi extremamente hábil ao captar o ego do juiz chefe para o projeto, mas o resultado foi um edifício extremamente funcional e de altíssimo valor simbólico. A propósito, o prédio foi construído dentro do orçamento e do prazo originalmente estabelecidos.

3 comments:

Leticia. said...

Nada como um arquiteto que saiba tambem "vender o seu peixe" nao eh mesmo? Gostei desse cara - tem que se pensar maior mesmo.

Beijo,

Le.

Max Amaral. said...

putz, que história boa... posso copiar?!?!

e pensar que eu, que projetei prédios para o tribunal de justiça do distrito federal e territórios, tenho que entrar na justiça para evitar que o presidente de lá me dê uma punição por eu não ter apresentado os relatórios de fiscalização da obra - sendo que eu não fui contratado para fazer a fiscalização da obra!! coisas de brasil...

GUGA ALAYON said...

gde espaço fernando. voltarei mais vezes. Gde Mayne. abç