Ricky Burdett esteve aqui em Austin essa semana e fez uma palestra bastante provocativa. Com metade da população mundial vivendo em cidades (3 bilhões de pessoas), 33 % destes em favelas (1 bilhão), não há sustentabilidade ambiental sem sustentabilidade social nem vice-versa.
no caso brasileiro, por mais que estejamos investindo pesadamente em melhorias nas áreas mais carentes podemos estar perdendo uma oportunidade única para pensar um modelo de desenvolvimento (e consequentemente de cidade) para a segunda metade do século XXI.
foi isso que tentei falar no Projetar, sobre a responsabilidade das escolas de arquitetura em antecipar a cidade do futuro. As crianças que nascem hoje vão começar a vida adulta em 2030 com uma população mundial em torno de 8 bilhões, energia mais cara e água mais rara. Que cidade vai estar se desenhando pra elas?
em duas décadas no ritmo atual o Brasil vai ter alcançado significativos aumentos de escolaridade, renda média, consumo e expectativa de vida. Mas e as cidades onde vivem 80% dos brasileiros? Como estarão em 2030? Desculpe a franqueza mas esse problema é todo nosso e mais do mesmo não vai nos levar a lugar nenhum.
Ricky Burdett was in Austin this week where he delivered a quite provocative lecture. With half the world population living in cities (3 billion people), 33% of these in slum quarters (1 billion), we just cannot have environmental sustainability without social sustainability and vice versa.
in the Brazilian case, no matter much we invest in improvements in the most vulnerable areas, we can be losing an unique opportunity to rethink the model of development (and therefore the city) for the second half of the 21st century.
that’s what I tried to say at Projetar, on the responsibility of schools of architecture in anticipating the city of the future. The children born today will start their adult life in 2030 with a planetary population around 8 billion, energy more expensive and water more rare. Which city will be there for them?
in two decades with the current growth Brazil will achieve significant increases in education, income, consumption and life expectancy. But what about the cities where 80% of us live? How they will be in 2030? Forgive my bluntness but this problem is all ours and more of the same will not take us anywhere.
foi uma maratona, mais de 24 horas em aviões para 60 em terra, mas valeu a pena. O IV seminário Projetar organizado pela Ruth Verde Zein na Mackenzie foi um tremendo sucesso. Criado em Natal, RN, em 2003 sob a liderança de Sonia Marques o Projetar chega a sua 4a. edição consolidando-se como forum de discussão do ensino e da prática do projeto de arquitetura e urbanismo no Brasil. Se a pesquisa e a pós-graduação em AU comecaram pelas beiradas, ou seja, pela sociologia, pela história e pela tecnologia, o Projetar e sua meia irmã ANPARQ marcam a definição de um eixo central da disciplina. Afinal de contas, o que define a arquitetura é sua capacidade propositiva, projetiva.
por isso fiquei tão feliz com o convite da Ruth e adorei ter estado em São Paulo (com tantos amigos queridos) nesses três intensos dias.
mas não posso deixar de anotar aqui que enquanto eu voava de volta pro Texas uma parte significativa do que de melhor o Brasil criou nos anos 60 e 70 queimava no Rio de Janeiro. O acervo de Hélio Oiticica, abrigado na casa da família, virou fumaça. Ainda estou digerindo a dimensão da perda e revendo as várias disputas em torno da obra do artista, mas dá pra começar a entender que uma mistura de ganância de descaso já fazia desta uma tragédia anunciada.
it was a marathon, more than 24 hours in airplanes for 60 on land, but it was worth it. The IV Projetar congress organized by Ruth Verde Zein at Mackenzie University was a tremendous success. Created in Natal, RN, in 2003, under the leadership of Sonia Marques, the Projetar Congress reaches its 4th edition consolidated as a forum for discussing design in Brazil.
if the research in architecture started from the periphery, that is: sociology, history and technology, the Projetar Congress and its half sister ANPARQ mark the definition of a central axis for the discipline. Besides, what defines architecture is its propositive capacity: the act of designing.
that’s why I was so happy with Ruth’s invitation and loved the chance to be in São Paulo (with many dear friends) during three intense days.
but I cannot avoid noting that while I was flying back to Texas a significant part of the best Brazilian art of the1960s and 70s was burning in Rio De Janeiro. The archives of Helio Oiticica, stored in his family house, turned to smoke. I am still digesting the dimension of the loss and reading about the disputes around the control of his estate but it seems that a mix of indifference and greed made this one an announced (and surely avoidable) tragedy.
o livro que ando lendo essa semana com grande entusiasmo se chama Descartes Bones e percorre a trajetória da separação entre religião e ciência seguindo a trilha dos ossos e das idéias de Rene Descartes depois de sua morte em 1650.
assim muito rapidamente, Descartes fundou a ciência moderna com seu método de questionar tudo que pudesse ser minimamente questionável. No final da corda estava a premissa inquestionável de que “eu existo”, o famoso cogito ergo sum.
acontece que a influência do pensamento deste homem dominou a ciência por séculos mas aos poucos vai sendo superada, principalmente no que tange à separação entre corpo e mente que hoje sabemos estarem intrinsicamente ligados.
fica aqui o meu pensamento cartesiano da semana: uma idéia pode existir na sua mente como abstração mas ela nao se concretiza no mundo real até que seja de alguma forma rabiscada. Uma separação mente/matéria que se mostra ainda verdadeira no ato de projetar.
e o fato de Descartes ter criado também a geometria analítca, pedra fundamental do processo de projeto desenvolvido pela academia francesa e usado por nós até hoje, me permite pensar os arquitetos (e todos os profissionais que tratam do desenho de objetos no espaço) como os últimos cartesianos.
e como amanhã voo para o Projetar em São Paulo estarei o resto da semana rodeado de alguns dos meus mais queridos amigos cartesianos
the book that I am reading this week with great enthusiasm is Descartes Bones in which the author tracks the separation between religion and science following the path of the bones and the ideas of Rene Descartes after his death in 1650.
superficially speaking, Descartes established modern science with his method of questioning absolutely everything. In the end of the rope it was the unquestioned premise that “I exist”, the classic cogito ergo sum.
the influence of his thoughts dominated science for centuries but is slowly vanishing. Especially in terms of the separation between body and mind that we know today to be intrinsically interdependent.
so my cartesian thought of the week is: an idea can exist in your mind as an abstraction but it does not materialize itself in the real world until it is sketched in some form. A separation mind/matter that still holds true in design.
the fact of Descartes also invented the analytical geometry, basic foundation of the design process developed by the French academy that we still use allows me to think of architects (and for that matter any design professional) as the last cartesians.
since tomorrow I will be flying to the Projetar conference in São Paulo I will spend the rest of the week with some of my dearest cartesian friends.
ps em 9 de outubro. Alguns dos comentários neste post abusaram de linguagem inapropriada e ofensiva a este blogueiro e aos leitores. Foram deletados como serão quaisquer outros que eu julgar inapropriados.
quando o telefone tocou no meio da noite Sérgio Cabral pensou que ainda estava sonhando. A sexta-feira foi de muita festa, ele tinha acabado de dormir mas resolveu atender assim mesmo.
- Cabralzinho, é o seu xará, Sérgio Bernardes. Você não imagina a festa aqui no céu com a escolha do Rio pra sediar as olimpíadas. Vinícius ta cantando até agora, Tom já escreveu várias músicas e disse que vai psicografar aí pra baixo. Até o JK e o Lacerda estavam se abraçando mais cedo. Você sabe, o Lacerda nunca perdoou o JK por tê-lo passado pra trás várias vezes mas o que ele realmente nunca aceitou foi o governo ter se mudado pro planalto central e ter deixado o Rio esvaziado. Agora a olimpíada devolve ao Rio seu lugar de destaque. Você não deve ter percebido Cabralzinho mas tem muito paulista de sorriso amarelo hoje. Aqui do lado o Ulisses, o Covas e o Montoro estão sem entender o sucesso do Lula.
-Olha Cabralzinho, a gente aqui em cima não se cansa de comemorar o nó que o Lula deu em todo mundo.Se já não bastasse botar as asinhas de fora lá em Honduras, "o cara" me arrasta o Obama para Copenhagen só pra ganhar dele, dos japoneses e dos reis da Espanha. O Nelson Rodrigues (que como eu também te carregou no colo) me disse que só em 58 viu um momento assim. A copa, as olimpíadas e esse tal de grau de investimento enterram de vez o complexo de vira-lata.
- Agora quando acabar a ressaca Cabralzinho, aproveita o que lhe resta de mandato e a alegria do povo e faz a coisa certa: concurso público pra todas as obras do Rio 2016. Dá tempo, mas tem que começar no seu mandato. Esse prefeito ai sei não, não me parece muito fã de concorrência pública, nem o Nuzman. Só você pode fazer isso Cabralzinho. Conversa com a Dilma e anuncia que todas as obras vão ser baseadas em concurso. Acerta isso com ela, vocês vão ter de trabalhar junto nisso. Enterre de vez as suspeitas levantadas em torno do Panamericano que vão se repetindo igualzinho na copa. O Bohigas fez isso em Barcelona e deu super certo, os coreanos também em Seoul. Assim você pega os projetos que vão servir melhor à cidade depois das olimpíadas. A inserção deles na malha urbana é fundamental. O Dr. Lúcio tá aqui todo feliz que a Barra vai ganhar densidade e quem sabe até transporte público decente.
-Depois de escolhidas as melhores propostas a turma de consultores vem e acerta os detalhes de programa. Isso evita que gente que não entende nada da cidade venha a fazer obras importantíssimas que vão ficar lá por décadas (arquitetura não se desmonta Cabralzinho, apesar de todos os meus esforços de uma vida nesse sentido). E evita também que os amigos dos governadores façam os projetos como está acontecendo com os estádios para a copa.
-Mas faz isso rápido Cabralzinho porque ano que vem tem eleição e com o Fluminense e o Botafogo na segunda divisão a turma vai estar preocupada com outras coisas....
when the phone rang in the middle of the night Sergio Cabral thought that he was still dreaming. Friday has been one hell of a party, he had barely slept a few hours.
- Cabralzinho, here is Sergio Bernardes. You cannot imagine the party here in heaven with Rio winning its bid for 2016 Olympic games. Vinícius and Tom have been singing all night. Even JK and the Lacerda were hugging. You know, from all tricks JK played on Lacerda the one he never forgive was moving the government out of Rio. I don’t know if you noticed but there were more than a few paulistas with a yellow smile. In a corner here were Ulisses, Covas and Montoro, all poorly disguising their envy while we all celebrate Lula’s achievements. If huffing feathers in Honduras was not enough, Lula dragged Obama all the way to Copenhagen just to beat him, the Japanese and the Spanish royalty.
Nelson Rodrigues (who also hold you when you were a baby) reminded me that only in 58 he saw something similar. The World Cup, the Olympic Games and this investment grade have finally buried the vira-latas complex.
- Now on more serious things Cabralzinho, uses the end of your term to make the right thing and demand open competition for all the deigns for Rio 2016. There’s more than enough time but you need to start (nor the mayor nor Nuzman are very interested in open competition). By having open design competition you chose the projects which better serve the city afterwards. Bohigas did that in Barcelona and it worked just fine. The Koreans also did that in Seoul.
This would prevent that people who know nothing about the city design important buildings that will remain there for decades (architecture does not disassemble Cabralzinho, despite attempting that all my life). It also prevents that friends of the governors get the design commissions as is already happening with the stadiums for the World Cup.
- But do this fast Cabralzinho because next year, with Fluminense and Botafogo in the second division, the people will be worried about other things….
arquiteto, professor da University of Texas at Austin, EUA, pesquisador de Arquitetura Brasileira com enfase na disseminacao do chamado Movimento Moderno.