Braddock é uma pequena cidade perto de Pittisburgh, Pensylvania, encravada no chamado rust belt norte-americano, portanto basicamente heavy-metal. Braddock foi sede da primeira usina comprada pelo magnata de aço Andrew Carnegie (lembram-se do Carnegie Hall ou da Carnegie Mellow University, é tudo fruto da fortuna do Andrew) e também seda da primeira de centenas de bibliotecas construídas pela família Carnegie há mais de 100 anos atrás.
Braddock que chegou a ter 20.000 habitantes nos anos 60 hoje tem pouco mais de 2000, todos pobres, 65% negros, com baixíssima educação formal e sonhando com um emprego qualquer. Na semana passada esteve aqui em Michigan o prefeito da cidade chamado John Fetterman. Fetterman nasceu e cresceu perto da cidade e seu visual hard-core se encaixa bem na dureza do lugar. Com 1,80m, cabeça raspada e 160kilos, o prefeito tatua no braço a data de cada assassinato em Braddock durante a sua gestão (já são cinco como mostra a foto).
acontece que Fetterman tem mestrado em Harvard e como um Obama white-trash consegue falar tanto a lingua da elite quanto o dialeto da população esquecida de sua cidade. Sua palestra foi eletrizante pra dizer o mínimo. As imagens da destruição tanto do tecido social (casas abandonadas com tudo dentro) quanto da arquitetura que o envolve (edifícios lindos caindo aos pedaços) evocam pelo avesso a importância do espaço construído na vida cotidiana de todos nós. E nas palavras de Fetterman, a única esperança da cidade é catalizar o restinho de beleza que ainda resta em tijolos e torres e fazer delas, pedacinho por pedacinho, um lugar melhor para os que lá ficaram e para os que podem ainda vir. E toma falar sobre os problemas das cidades encolhendo sem alternativa de emprego e renda. E toma falar sobre o abandono da arquitetura. E toma a falar sobre a insustentavel suburbanizacao.
e se Braddock ainda não é exatamente Portland já está atraindo todo tipo de artista e empreendedor na esteira do prefeito heavy-metal.
Braddock e Fetterman pra mim representam duas questões fundamentais: a importância do espaço construído na construção de uma sociedade melhor e a diferença que pode fazer um único ser humano dedicado.
quando penso nas feiúra das cidades pequenas de Minas Gerais por exemplo fico torcendo para que outros prefeitos e prefeitas com a emsma atitude heavy-metal tomem conta delas como Fetterman adotou a desesperada Braddock.
7 comments:
no interior de minas não existe mais 'cidade'... as periferias das grandes capitais brasileiras estão tomando o mesmo rumo.
Enquanto a corrupção correr solta, o Fundo de Participação dos Municípios for mal empregado, os Planos Diretores continuarem capengas e entrevados e muitas cidades não elaborarem políticas públicas em comum, Canaã estará distante.
Concordo com a falta de planos diretores, código de obras, corrupção e outras coisas que fazem nossas cidades crescerem sem rumo. Todo vez que é lançado um novo empreendimento imobiliário para as classes de média a alta, eu me pergunto onde e como as pessoas que irão servir de mão de obra domestica direta ou indiretamente irão morar.
Porem existe um outro dado. Quando as figuras vão construir suas casas, lojas, templos e outras coisas quaisquer, 97% de tudo tem uma estética deplorável (Conselheiro Lafaiete, Contagem, Manhuaçu...). Acho que os brasileiros (até alguns arquitetos também) são pobres em cultura arquitetônica, paisagística e urbanística. E o “Poder Publico” nem nossas entidades de classe faz pouco ou quase nada por isso.
Gabriel Velloso
pois eh meus amigos, a questao para os arquitetos parece o dilema dos vendedores de sapato em aldeia indigena. Se por um lado ninguem anda calcado, por outro lado o mercado potencial eh enorme!!!!
discordo da visão de que o interior de Minas não existem mais cidades pequenas.
Minas possui 800 dos 5000 municípios brasileiros, quase 1/5, isso significa alguma coisa. Falar de exodo rural é falar de algo que sempre existiu, isso ñ significa que nossos municípios estejam sumindo, estão é estagnados, claro.
Mas ainda são caracterizantes fortes de nossa província.
Acho que não fui claro no meu comentário. Eu não quis dizer que as cidades mineiras sofrem do mesmo esvaziamento que Braddock. Eu quis dizer que elas sofrem de um esvaziamento do conceito de 'cidade'.
No interior de MG não existe nenhum tipo de planejamento urbano pelo poder público. O planejamento acaba ficando pro setor privado que não tem nenhuma preocupação em investir na qualidade do espaço público.
Acabam repetindo as mesmas soluções que nas grandes metropoles geram resultados discutíveis. Então, vemos cidades com 20mil habitantes, salpicadas de torres de 20 andares, condomínios fechados isolados do centro, incentivo ao transporte individual motorizado e pouquíssima ou nenhuma arquitetura de qualidade...
enfim, o interior já não tem aquela qualidade de vida de rua que os empreendedores da capital teimam em oferecer nos condominios fechados.
Mas concordo com o Fernando. Sempre achei que os arquitetos deviam formar e ocupar o interior do estado.
Postei no www.arqsite.blogspot.com um mapa com a distribuição dos arquitetos dentro do estado de MG. Bem revelador da carência que o interior tem de bons projetos.
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