Monday, December 14, 2009

Serra, as enchentes e a responsabilidade de cada um / urban flooding and everybody's resposibility

nunca achei que ia escrever isso mas Jose Serra tem razão, ainda que parcialmente, quando diz que a população tem uma parcela de culpa pelas enchentes. Só que o problema maior não é o lixo nos córregos, ou se fosse o Tietê não teria trasbordado (ou alguém acredita que é possível atravessar 8 pistas de carros a 90km/h para jogar fora um saco de lixo?)


a culpa de cada um de nós está no quintal. No meu, no seu, no de todo mundo. Na medida em que impermeabilizamos toda (ou quase toda) a area das nossas propriedades urbanas, estamos lançando uma quantidade enorme de água no sistema público que invariavelmente descarrega no Tietê.


vejamos os números: uma chuva como a do dia 4 de dezembro jogou 77mm de água sobre toda a cidade. Isso significa 23 mil litros por lote de 300m2 ou 770 mil litros por quarteirão de 1 hectare (10.000m2). Para segurar essa água toda cada quarteirão da cidade precisaria de um piscinão de 770m3 ou um lote inteiro de 12 x 30 m por 2 m de profundidade. Mais pode ser lido aqui.


em resumo, Serra tem razão ao apontar a responsabilidade individual mas erra grosseiramente ao apontar para o lixo nos córregos, culpando apenas as populações mais pobres que vivem nas beiras dos cursos d’água, quando a culpa é de todos, principalmente dos que pavimentaram a totalidade de seus quintais.



I never thought I would write this but Jose Serra, governor of São Paulo has some reason when he says that the population is partially to blame by urban flooding. But he is absolutely wrong on blaming only garbage dumped into streams when the problem is low permeability because we pave everything, sending enormous amounts of water into the public system.


let’s see the numbers: when 77 mm of rain falls on the city (as happened on December 4th) we get 23.000 liters for an average lot of 300m2 or 770.000 liters for a regular block of 1 hectare. To hold all that water each block of the city would need a reservoir of 770m3 or an entire lot of 30 x 12 m x 2m deep. More here.


in summary, Serra is correct to point towards individual responsibility but comes, again, quite elitist when he blames only the poor who live by the waterways when the responsibility falls on everybody, mainly those who paved the totality of property.

6 comments:

luciano l. basso said...

Fernando, eu concordo quase plenamente contigo... só quase porque acho que as prefeituras também tem boa parte de culpa...

Pegando Porto Alegre como exemplo.... há algum tempo existem normas que determinam percentual mínimo de área permeável no terreno... também há a obrigatoriedade da construção de bacias de retenção da água da chuva em empreendimentos realizados em terrenos acima de 1000 m2... tudo isso válido para amenizar um grave problema...

Porém, por que a Prefeitura asfalta todas as vias que ela consegue? Mesmo em bairros residenciais pouco movimentados que tinham pavimentação em paralelepípedos de granito...

Será que as áreas impermeabilizadas pelas Prefeituras (não creio que PoA seja o único caso) nos últimos 20 anos não tem sua parcela de culpa?

Um forte abraço

Fernando L Lara said...

Luciano,

perguntei a mesma coisa para a prefeitura de BH e acabei esbarrando em várias camadas de política. Pra começar o lobby do asfalto é forte, precisamos montar um lobby da pavimentação permeável. Mas por trás da turma do asfalto está a Petrobras porque quanto mais petróleo se refina no país mais se produz o alcatrão como sub-produto que precisa ser usado. Dureza né? Um calçamento mais sustenteavel esbarra na Petrobras. Já imaginou quando começar a sair óleo do pre-sal? Vão asfaltar até os gramados de futebol da Copa 2014!!!

Anonymous said...

Deixa-me fazer algumas contas:
1 indústria despejando no Tietê = 30 casas.
30 industrias despejando no Tietê = 900 casas.
Petrobrás + Intere$$e político = Asfalto.
Marginal Tietê - Corredor de acesso para transporte comercial rodoviário = Baixo faturamento.

Realmente, vamos culpar o lixo, mesmo porque ele é um lixo.

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...
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Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...

Fernando,

Bão?

Realmente o blog, mesmo com a mudanças, manteve a qualidade.

Sugiro a você e a seus leitores o texto do professor e geólogo Edézio Teixeira sobre o assunto. Tá no endereço http://docs.google.com/Doc?docid=0Adfofa4VjQ3KZGNiZzZtYnZfMDlmdHY0cmc3&hl=en

A culpa são dos governantes, de modo geral, e da população inclusive.

Não sei se você ficou sabendo, pois a imprensa quase não divulgou o fato, mas o rio Arrudas transbordou um mês depois de finalizadas as obras da Prefeitura para prevenir inundações e quase um ano depois de várias enchentes. Foi muito difícil achar uma notícia que presenciei in locco.

Veja a notícia no endereço http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=66122

Como disse um amigo meu, chuvas em estados governados pela oposição são culpa dos governos. Já aquelas em terras governadas pelo PT são fatalidades da natureza.

Ou seja, a culpa não é de A ou B, e sim de todos nós.

Em uma carta que muita gente recebeu por email do próprio Edézio, ele afirma: "Da minha visão geológica é o maior crime ambiental de sempre descarregar as águas da terra sem a menor manifestação dos órgãos ambientais, que parecem crer que esteja tudo bem."

E alerta: "encontrei num prefeito petista, o Patrus, a oportunidade de propor, participar e conduzir grande parte dos estudos geológico-geotécnicos de Belo Horizonte, nos idos de 1993 a 1995, que são ainda dos melhores que há, pode ter certeza.

Agora presidente do mesmo partido e prefeito do mesmo partido, possivelmente com a anuência de governador de posições incertas (vide transposição do São Francisco) adotam a solução cartesiano-malufiana dos piscinões para o Arrudas. Precisamos inundar este país, mas não de água e sim de conhecimento sobre a terra, do contrário a coalisão do paradigma hidráulico eurocêntrico, combinada com a obediência cega a leis anti-naturais levar-nos-á a todos para o buraco. Isto não é menos importante que as necessárias militâncias partidárias, você não acha? Estou a ponto de pedir exclusão da SBG, ABGE, SPG e IAEG, por absoluta falta de defesa da boa ciência."

E lá na Crise [!] também falei muito sobre o assunto.

Boas festas!

Marcão.

Marco Antonio Souza Borges Netto - Marcão said...

A carta do Edézio é desse ano.